Terça-feira, 16 de junho de 2015 - 07h50
Estou escrevendo o meu sexto romance entre os meus treze livros já escritos e, “Nas terras do Até que Enfim,” retrata a ocupação do antigo Território, hoje Estado de Rondônia, a partir da implantação do Projeto Integrado de Colonização Ouro Preto, na época mais conhecido pela sigla PICOP.
Depois de muitas pesquisas, leituras e entrevistas, para escrever esse histórico/ficional, pude constatar a fé inabalável daqueles homens e mulheres que tiveram a coragem de enfrentar a selva, morando em tapiris feitos com varas, onde gemiam a dor e o frio das malárias.
Isso me levou a lembrar dos portugueses descobrindo esse lado do Brasil, a conquista efetiva com os Nordestinos no primeiro Ciclo da Borracha e a construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré.
Em todos os períodos a região cobrou em vidas o seu preço e, em todas as fases, a malária foi a maneira mais eficaz encontrada pela selva para cobrar esses tributos.
As terras de Rondônia, portanto, foram conquistadas por aqueles que perderam os seus filhos, pela dor dos que enterraram as suas mulheres e regadas com pranto das viúvas que ficaram sozinhas.
Alguém deve estar se perguntando: o que tem isso a ver com o título da matéria?
Analisemos: Vez por outra sou cobrado e instigado através das postagens do meu amigo Manuel Português e, pessoalmente, por alguns amigos a me pronunciar sobre o descaso a que está entregue a nossa cidade e o nosso patrimônio cultural.
Volto a repetir, o que já foi dito em outra ocasião, que já estou cansado dessa luta inglória e, sinceramente, não tenho a paciência de João Batista para pregar no deserto, se contentando, humildemente, com uma alimentação a base de gafanhotos.
Nos meus setenta anos de Rondônia, mais especificamente, de Porto Velho, eu tive a oportunidade de conhecer a nossa terra, saindo de um estágio onde a Madeira-Mamoré é quem ditava as regras através de Aluízio Ferreira e entrava em um processo de governança tríplice: Madeira-Mamoré, Aluízio Ferreira e Território Federal, cujo governador Aluízio Ferreira, também o administrava a ferrovia e, por isso, era mais conhecido como o tuxaua ou o “Soba,” alcunha que lhe fora dada por Getúlio Vargas ou José Américo de Almeida, Ministro da Viação e Obras Públicas, de quem era amigo.
Naquela época, nada se construía sem a aprovação e os parcos recursos que o Governo Federal destinava aos governos por ele nomeados. A elite política que se tentou construir aqui não medrou porque o governador nomeado nomeava, também, os seus assessores. Essa situação durou até a década da gloriosa revolução quando as duas correntes políticas que estavam se consolidando, foram desbaratadas pelos AI’s da história.
Por causa das geadas que afetaram principalmente os cafezais de São Paulo e Paraná, aliadas ao processo de mecanização da agricultura, a população que representava a mão de obra rural, dirigiu-se para as grandes cidades ocasionando um problema social que necessitava urgentemente de uma solução.
Repetiu-se, então, a fórmula utilizada em 1877 quando se trouxe para a Amazônia muitas levas de Nordestinos, atingidos pela grande seca, como solução para esvaziar as capitais dos pedintes que estavam incomodando a população. Agora, o destino eram as terras de Rondônia, cantadas em prosa e verso na propaganda do Governo Federal como o novo Eldorado.
Com a implantação pelo INCRA, dos Planos Integrados de Colonização-PIC e Projetos de Assentamento Dirigido-PAD, a população de Rondônia que no final de 1960 era de 70.232 habitantes, registrou 1.190.739 habitantes no ano de 1991 e, boa parte dessa população, como não poderia deixar de ser, era constituída de oportunistas que encontraram na política o caminho fácil e a maneira sutil para burlar as leis e se locupletarem usando apenas a tática de ludibriar as pessoas humildes e de boa fé.
Não se pode dizer que esse procedimento é regra geral no meio político, pois tudo na vida tem dois lados.
Assim, quando esse processo de ocupação estava em pleno desenvolvimento, veio a Era Teixeirão e a transformação do Território em Estado, mais para atender as necessidades políticas e “biônicas” do Governo Militar do que propriamente visando o bem estar do povo deste rincão.
Teixeirão foi mais um governador nomeado e, vale lembrar, Janilene Vasconcelos de Melo, paraibana, também nomeada. Teixeirão organizou uma elite política baseada nos interesses revolucionários e conseguiu eleger os deputados e senadores que quis, buscando nas lideranças rurais pessoas nem sempre competentes e, no meio técnico, principalmente no INCRA.
O secretariado e chefias de órgãos ligados ao governo foram buscados, em grande parte, entre os antigos colaboradores quando comandou a Prefeitura de Manaus e, que depois, assumiram os cargos nos Tribunais de Justiça e de Contas deste Estado, calando assim os reclamos dos filhos da terra.
A ARENA passou a deter o poder de decisão do Senado Federal até as Câmaras de Vereadores da Capital e do Interior onde, a rigor, não existiam representantes da população nativa.
A elite política de Rondônia não nasceu espontaneamente e, novamente, a população nativa não teve vez nem voz na sua formação tendo de aceitar uma situação onde o “conquistador” venceu pela maioria numérica e pelos currais eleitorais que cada político cuidou em criar nos municípios do Interior do Estado.
Hoje cada representante de Rondônia no Congresso Nacional, camufla os interesses próprios quando defende as PCH”s, ou a melhoria nas rodovias pois, “por trás dos benefícios para a população” estão as “suas” pequenas hidrelétricas e as “suas” frotas de ônibus interestaduais.
Chegam a atropelar a história quando alguns defendem a construção de uma ponte no Rio Mamoré, como o “pagamento de uma dívida que o Brasil tem com a Bolívia desde a assinatura do Tratado de Petrópolis.”
Isso, sem falar nos políticos cassados, nos que ainda estão presos por corrupção no presidio de Brasília, nos que estão protelando, até hoje, a aplicação da Justiça, e naqueles que, não se sabe a que custo, fizeram e aprovaram, na calada da noite, lei que permitiu a perda de grande parte de uma reserva florestal do Estado para que as Usinas do Madeira pudessem aumentar a altura da barragem em 80 cm em seu reservatório, a instalação de mais seis turbinas e nos legasse a maravilhosa enchente de 2014, contrariando o estudo feito por Furnas a partir de 1998, que garantia a subida das águas ao nível das maiores enchentes já verificadas.
Por isso, por sermos governados desde as nossas origens por pessoas estranhas, a começar pelos americanos que construíram a ferrovia, é que vivemos hoje numa cidade sem rumo, sem governo, sem projeto e liderada por elementos que não tem vergonha na cara e pedem voto na época das eleições, prometendo coisas que não vão cumprir, ganhando pleitos comprando os necessitados e analfabetos políticos e comprometendo os seus mandatos com aqueles que lhes financiam as ricas campanhas.
Nosso Estado, de modo geral, tem sido governado por uma plêiade de aventureiros que usam os cargos e os recursos públicos para promoverem os seus nomes e, a tiracolo, o de seus partidos corruptos lavados e enxaguados na Lava Jato do momento.
As riquezas do nosso Estado estão sendo exauridas por essas sanguessugas que se alimentam, não de sangue, mas de madeiras, de ouro, de pedras preciosas e de recursos públicos e, ainda aprovam leis que atam as mãos da justiça ou dão margem para recursos jurídicos até o arquivamento dos processos. Ninguém consegue cassar um político no exercício do mandato porque a decisão de um juiz é cassada pela interpretação de outro juiz.
É por isso, meu caro Manoel Português e os amigos que me cobram uma tomada de posição que ninguém faz nada, e até permitem, a invasão do Cemitério da Candelária, do abandono do Complexo da Estrada de Ferro, a pouca vergonha e falta de respeito com a nossa Praça Rondon, Praça Jonathas Pedrosa, Carnaval de Rua, Flor do Maracujá e... e... e...
A atitude é tão descarada que um órgão ligado ao Meio Ambiente autorizou a derrubada de uma castanheira centenária e, segundo consta, a Prefeitura da capital “autorizou” a invasão do Cemitério da Candelária e, essas coisas acontecem, exatamente, nos feriados prolongados ou religiosos quando os órgãos estão fechados e não se tem para quem reclamar.
Usam esses (me dá vontade de escrever um palavrão) o expediente do “deixa que reclamem, enquanto nós deixamos que se acabe” e, assim, não vai sobrar nada pra recuperar.
Quando se consegue, a duras penas, algum benefício em prol da cultura, os donos do poder dão a si mesmos o usufruto (no sentido jurídico) para que esse benefício não funcione. Assim está acontecendo com o Palácio das Artes, com o antigo Prédio da Câmara e por aí vai.
Eu poderia escrever um livro sobre essas bandalheiras que são do conhecimento de todos, mas prefiro falar dos brasileiros honestos e trabalhadores, registrando a passagem daqueles que deram a vida para que tenhamos hoje um estado forte e, onde, graças a Deus, a grande maioria dos seus habitantes tem vergonha na cara.
Às vezes sinto saudades dos tempos do Território. Nos tempos dos “Cutubas” e dos “Peles Curtas” não existiam roubalheiras...
Como não sou analista político e nem faço parte da elite jurídica, pensei em me ater ao abandono da nossa história, do nosso patrimônio, da nossa cidade, assunto no qual me considero qualificado, levando em conta que no último dia dez de maio, completei setenta anos morando nesta cidade que cresceu comigo e vejo agora, lamentavelmente, ser destruída por quem chegou ontem com a única intenção de se dar bem e, com disfarçado orgulho, proclamar que é um “destemido pioneiro.”
Mas, não dá para separar as duas coisas...
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