Terça-feira, 24 de julho de 2012 - 10h19
Antônio Cândido da Silva
Sete horas da manhã.
Apita a máquina doze,
para a última viagem
que agora se inicia.
O sino da estação
parece dobrar finados
inundando nossa alma
de imensa nostalgia.
As casas vão se perdendo
na tristeza da distância,
os velhos carros parados
lá no desvio da estrada.
Estrada que beija o rio
assim, pela vez primeira,
Santo Antônio, lá na frente,
é a primeira parada.
A história vai surgindo
nas pedras da cachoeira,
nas ruínas da cidade,
na curva que o rio faz.
O trem apita e desperta
o passageiro que sonha.
O Casarão vai sumindo
e tudo fica pra trás.
Alguns minutos depois
o posto de Teotônio
onde o trem bebe água
para poder prosseguir.
Pára depois em São Carlos
o posto do telefone,
velha casa de madeira
que sozinha existe ali.
Depois a máquina avança
no caminho da floresta,
pra chegar a Lusitânia
lá onde uma casa há.
Assim seguindo viagem
por uma curva fechada,
o trem atravessa a ponte
chega a Jacy-Paraná.
Por volta de doze horas,
a hora de almoçar.
Depois do almoço o trem se movimenta
e Jacy vai ficando na lembrança.
Suas casas perfiladas para a linha
guardam sonhos do tempo de bonança.
Vamos chegar à Caldeirão do Inferno,
uma parada ao pé da corredeira.
Mais à frente a parada de Jirau
que leva o nome dado à cachoeira.
Mais uma ponte, embaixo o velho rio,
silencioso no seu caminhar.
O trem apita, diminui a marcha,
e em Mutum-Paraná vamos parar.
O trem se move e logo a nossa frente,
“a grande reta” num traçar bonito.
Quarenta e quatro mil metros de trilhos
se perdem na distância do infinito.
O sol vai se perdendo no poente
e a Vila de Abunã vem se mostrar.
Suavemente a noite cobre a Vila
nos convidando para repousar.
O trem apita quando nasce o dia
no sorriso festivo da manhã
e a branca fumaça da caldeira
é o lenço dando adeus a Abunã.
Depois a solidão de mata virgem
que parece abraçar a ferrovia.
Breve parada em Penha Colorada
e a viagem se reinicia.
Rio Taquara, a ponte, o vilarejo,
a escola, o telefone, a solidão.
Pouco depois o trem pára em Araras
casas de palha a identificação.
A próxima parada é Periquitos
cujo nome adotou da cachoeira
com as casas de palha e de tijolos
construídas à margem do Madeira.
O trem mais uma vez se movimenta,
indo encontrar à margem do Madeira
mais um local onde deve parar.
Chocolatal, em frente à cachoeira
onde descansa o trem por meia hora
antes de ir a Ribeirão chegar.
Ribeirão é mais uma cachoeira,
posto dos índios e telefonia,
aonde o trem sua parada faz.
Misericórdia, rápida parada,
depois Madeira, outra cachoeira,
sendo mais uma que ficou pra trás.
A viagem prossegue e na distância,
Vila Murtinho já pode ser vista
com a sua imponente estação.
Ali se encontram Beni e Mamoré
e o rio Madeira, caudaloso,
assim começa dessa união.
Depois vem a floresta novamente.
De repente se vê no Mamoré
a cachoeira Guajará-Mirim.
Pouco depois, na linha do horizonte
aparecem as torres de matriz
e a viagem do trem chegou ao fim.
Antigamente, em todo esse percurso,
eram quarenta e oito as paradas
que na viagem nosso trem fazia.
Hoje, porém, se vê ao desalento,
paradas recobertas de saudade
ao lado de uma triste ferrovia.
Do livro Madeira-Mamoré – O vagão dos Esquecidos
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