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Antônio Cândido

AS RUÍNAS DO PRÉDIO DA CÂMARA



Antônio Cândido da Silva

A maioria das pessoas que passa pela rua Comendador Centeno (ladeira da Prefeitura) e observa, do lado esquerdo, o que resta do sobrado antigo ali localizado, não tem idéia do valor histórico daquelas paredes que teimam em resistir, como a gritar por socorro que ninguém escuta.

Como amante da história e das coisas desta terra que me acolheu, isso em 1945, quando aqui cheguei doente e sem perspectiva de futuro, confesso que acompanho com tristeza o descaso com que é tratado aquele sobrado, onde foram tomadas grandes decisões relacionadas a esta cidade.
 
Votei no Sr. Carlos Camurça (na eleição e reeleição) porque além de ser filho de Rondônia (Guajará-Mirim), prometeu nas duas ocasiões, que faria a restauração do "Prédio da Câmara", como ficou mais conhecido o edifício. 
 
Acreditei que com a escolha da Vereadora Ellen Ruth, filha de Porto Velho, para Presidente da Câmara Municipal, naquela época, não haveria empecilho algum ou falta de interesse para que o antigo prédio da primeira Prefeitura e depois da primeira Câmara Municipal, não merecesse a devida consideração de um tratamento melhor.

No dia 5 de junho de 2000, fiz publicar na imprensa local o poema a seguir, como maneira de extravasar a minha tristeza e indignação:

AS RUÍNAS DO PRÉDIO DA CÂMARA - Gente de Opinião

HISTÓRIA EM RUÍNAS

Antônio Cândido da Silva

É pó voltando ao pó
na previsão da Bíblia.
É a história esquecida,
o descaso de tudo.
Começa a se formar
um triste amontoado de saudade.

A rua Comendador Centeno
o prédio, da Prefeitura,
como é mais conhecido.
Virou falta de vergonha
o que ali se constata.
O prédio é boca de fumo
sanitário de quem passa
reduto de marginais.
O Sobrado em meio a tudo isso
vive a gritar por socorro
que não chega aos ouvidos de ninguém.

Como o passado dói neste momento...
A tristeza nos faz ver
pelas tortas esquadrias das janelas,
homens que foram Prefeitos
Prefeitos que são história
se materializando
no escaninho da saudade:
Mário Monteiro, Carlos Mendonça,
Bohemundo, Gondim e Castiel.
O Tomás Chaquian, José Saleh.
e o Antônio Serpa do Amaral.
Vê-se a figura do seu Pedro Renda
na construção do sobrado,
tijolo sobre tijolo
com carinho especial.

Depois, bem, depois,
ali numa festa sem igual
antes de Rondônia ser Estado,
o sobrado passou a ser a sede
da nossa Câmara Municipal.
Chega-se a ouvir nas vozes do passado
os primeiros edis do Município
na fala forte de Antônio Leite,
Anizio Gorayeb, Edgar Lobo,
o João Bento e o Joaquim Morais.
Joventino, Saleh e Inácio Mendes,
naqueles tempos que não voltam mais.

Às vezes é cruel a realidade...
Velhas peças lavradas do telhado
resistem sob o peso do descaso.
A varanda, proteção do lado sul,
mostra ao céu o esqueleto da estrutura
de madeiras tortas, de peças brocadas,
entregues à chuva e ao sol do esquecimento.

Um pé de samambaia
nascido na umidade da parede,
dá um toque de pureza
tentando amenizar o quadro triste.
Quadro que estão pintando,
no início da ladeira,
que traz o nome do Comendador.

No chão, sobre ladrilhos europeu,
mais uma telha importada de Marselha
vira pó na dureza da calçada.
No pátio, recoberto de entulhos e de fezes,
o cheiro forte de amônia
denuncia a urina ali depositada,
e que juntos, adubam com carinho
um vigoroso pé de sambacuim,
que lá do alto assume seu papel
testemunhando o renascer do nada.

E nos meandros da destruição
é realidade o palpitar da vida,
no mundo dos cupins,
das traças e das brocas
que, silenciosamente,
vão cumprindo o seu papel de renovar
porque, “na natureza nada se perde,
tudo se transforma”.
Aqui, o tudo se transforma em nada...

AS RUÍNAS DO PRÉDIO DA CÂMARA - Gente de Opinião
Foto autor não identificado

Depois da leitura destes versos resta dizer que o sobrado foi construído pelo Senhor Pedro Renda, por encomenda do português João Soares Braga e adquirido, por compra, na segunda gestão do Dr. Joaquim Augusto Tanajura, triênio 1923 a 1925, para ser a sede da Intendência Municipal.  
 
Quanto ao Senhor José Centeno, segundo Esron Penha de Menezes, era o gerente da filial, nesta cidade, da firma J. G. de Araújo e apelidado de "Comendador", alcunha que a história se encarregou de agregar ao seu nome ao designarem a ladeira do sobrado de "ladeira Comendador Centeno".
 
Mas, o que realmente importa é o valor histórico daquela casa que também o Prefeito Roberto Sobrinho, em quem não votei, também prometeu na sua campanha eleitoral restaurar a antiga sede da Câmara Municipal.
 
Menos de dez dias após a posse de Sobrinho, ao passar pelo local, deparei com três ou quatro pessoas medindo o que restava do prédio. Confesso que me emocionei com a perspectiva de ver o imóvel restaurado e até quis acreditar que finalmente tinha aparecido um político que cumpre o que promete no palanque eleitoral. Até agora, nada.
 
O que fazer? Não há porque cobrar do prefeito Sobrinho que não tem ligação com as nossas raízes, se Carlos Camurça e Ellen Ruth não zelaram pelas tradições históricas da terra deles e, no caso de Helen Ruth, dos seus antepassados.
 
Observemos mais uma vez a foto, feita no pátio do "prédio da Câmara", e nela vamos encontrar os seguintes dizeres datilografados na cor vermelha: "Posse do Dr. Ruy Cantanhede no cargo de Prefeito Municipal – Em 14/06/1948."

Pois muito bem. A vereadora, depois deputada estadual, Ellen Ruth Cantanhede Salles Rosa, por razões que não cabe aqui serem citadas, é neta do Dr. Ruy Cantanhede que aparece no centro da foto, de terno branco e gravata preta, ao lado do governador Joaquim de Araújo Lima e sua digníssima esposa.

Fonte: Antônio Cândido da Silva

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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