Sexta-feira, 14 de março de 2014 - 11h13
Antônio Cândido da Silva
Estou a pensar com os meus botões e, de repente, me vem à lembrança que dia 14 de março é o dia nacional da poesia. Assim, como uma coisa puxa a outra eu me lembrei do meu amigo Flávio Carneiro e do empenho que ele tinha para não deixar essa data passar em branco.
Flávio ligava para nós poetas para que mandássemos, com antecedência, versos da nossa lavra que, depois de multiplicados por ele através de fotocópias eram lançados, no final da tarde, de um pequeno avião sobre a nossa cidade. Tratava-se do Projeto por ele criado com o sugestivo nome de “Chuva de Poesia”.
E aí vem a lembrança do “Flor do Maracujá” do qual ele foi um dos criadores e ardoroso batalhador na execução anual do projeto, juntamente com a Nazaré Silva, Monteiro e outros funcionários da já não sei mais o nome depois de tantas mudanças.
Então me dou conta de que tudo o que representava a nossa cultura nativa, com raras exceções, ainda, foi ou está sendo riscado do caderno cultural da nossa vida cabocla, de maneira sorrateira e criminosa.
E os remanescentes dessa tradição nativa, assistem a tudo isso como se estivessem anestesiados, enquanto os aventureiros (não confundir com migrantes) e os religiosos radicais, em nome de uma falsa ética moral, batem palmas, regozijados com cada movimento cultural que deixa de existir como se isso servisse para purificar a população pecaminosa e devassa.
Tudo aqui é destruído ou mudado de maneira quase imperceptível, às vezes nos feriados prolongados, como já aconteceu, para que quando a população se der conta, nada mais possa fazer.
Eu fico abespinhado (para não dizer e já dizendo, puto da vida) quando vejo os repórteres e apresentadores de programas e notícias encherem a boca para dizer: Na Praça do Baú; na Praça da Bíblia; na Praça da Catedral; na Praça da Prefeitura e, mais ainda, como aconteceu ontem, quando um Secretário Municipal, ao ser entrevistado, declarou: “os desabrigados estão sendo alocados na Praça do Baú”.
E eu pergunto: Um elemento que não conhece a cidade e a sua história tem capacidade ou interesse para cuidar daquilo que é do povo?
A mídia, infelizmente, também é a responsável por levar essa ignorância ao povo que aprende e divulga as INdentidades e INregularidades que ouvimos por aí inclusive, na grande mídia do Sul do país.
Nas redes sociais sempre cobram uma atitude dos filhos da terra e eu asseguro que nunca ficamos calados. Hoje não existiria mais nada da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré sem a luta (entre outros) de Luiz Leite, ameaçado e processado tantas vezes, em uma época de censura e cassetete.
Não faltaram denuncias e cobranças publicadas na mídia local, como acontecem ainda hoje, onde devemos ressaltar o empenho de Manuel Coelho e o apoio que ele recebe, em grande escala, nas redes sociais juntamente com o menosprezo das autoridades que devem zelar pelos bens patrimoniais da cidade e do povo.
Pensando com meus botões eu constato que a Praça Rondon virou Praça do Baú, porque um comerciante aventureiro é mais importante do que uma das figuras de grande destaque na história do Brasil; a Praça Jonathas Pedrosa, virou Praça da Bíblia, não pela importância da Bíblia, mais porque um vereador evangélico fez aprovar uma lei para se erigir um pequeno monumento ao livro santo e depois, não se sabe como, misteriosamente a estátua do criador do nosso município sumiu e, até hoje, ninguém sabe do seu paradeiro; a Praça Padre João Nicoletti virou Praça da Prefeitura e o busto do Padre escafedeu-se. Uma réplica grotesca foi colocada na Praça Osvaldo Cruz, apelidada de Praça da Catedral onde, agora, também o nome do Padre João Nicoletti montou o seu acampamento de sem terra.
Pensando com meus botões, eu busco na memória o Monumento aos Migrantes, a Feira Agropecuária, o Trem (pelo menos) até Santo Antônio, o Museu da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré engolido pelas águas que também, escrevam, levarão os Mirantes e se Nossa Senhora do Perpétuo Socorro não obrar um milagre, a sua igreja, também vai ser tragada pelas águas.
Ah! Meus botões... Vocês são botões modernos e não conheceram as nossas Escolas de Samba Diplomatas, Caiari, O Triângulo não Morreu, Castanheira, Bloco da Cobra, Blocos de Sujos, os carnavais dos Clubes Bancrevea, Danúbio Azul, Guaporé e Imperial e as tardes festivas do Porto Velho Hotel e Ipiranga.
Chega um determinado momento em que nos sentimos cansados de pregar no deserto como João Batista, como tenho feito desde a década de 1970 quando já denunciava ao falar do Igarapé Grande:
Hoje, pouco mais de dois metros de largura
é simplesmente, lugar de lama impura.
Nós, os nativos, fomos deixados de lado e, a nossa opinião, passou a não ter nenhum valor. Por isso, as nossas tradições, a nossa história são desmontadas e substituídas pela história que passou a ser escrita por meia dúzias de aproveitadores que se aboletaram no poder, à custa de financiamentos de campanhas escusos e ilegais e, ainda se pavoneiam em propagandas pagas a preço de ouro, de que “também somos destemidos bandeirantes”.
Pois é, meus botões. Quatorze de abril, dia da poesia, ano do centenário da nossa cidade e eu, que vivo aqui desde 10 de maio de 1945, não tenho o menor orgulho de me considerar mais um do grupo “dos destemidos bandeirantes”.
A sua competência e o seu trabalho, meu amigo Flávio, fazem falta neste Dia da Poesia...
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