Sexta-feira, 8 de agosto de 2008 - 11h33
Chegamos, às vezes, no limite da nossa resistência quando insistimos em adiar alguma decisão; aquele momento em que não dá mais para esperar, o do não tem mais jeito, é o instante do ou paga ou morre. Assim estou eu, me sentindo numa encruzilhada, indeciso quanto ao rumo a tomar.
Recebi da Professora de "Redação e Textualidade" a incumbência de escrever sobre como ensinaria regras gramaticais da língua portuguesa para uma das inteligências que, diga-se de passagem, já merece um esclarecimento para que o leitor se situe no mundo de Howard Gardner, um psicólogo americano que aperfeiçoou, em 1975, o método para medir o quociente de inteligência, o famoso "QI", por entender que o método até então utilizado desde 1905, privilegiava apenas as áreas lógico-matemática e lingüística.
Entre os sete tipos de inteligência constantes dos estudos de Gardner, coube-me falar das tais regras gramaticais para "uma inteligência espacial", ou seja, para um elemento com facilidades para entender e trabalhar o campo visual, espacial, como por exemplo: o arquiteto, o artista plástico, o engenheiro etc.
Ora, partamos do princípio de que entre língua e números sempre existiu um antagonismo declarado e eu, logo eu, devo fazer essa reconciliação entre pelo menos um, dos ditos elementos avessos às regras gramaticais.
Resolvi escolher o meu amigo Jorge Américo, Engenheiro e colega do curso de Letras, mas, tenho certeza de que quando eu lhe propusesse falar do nosso bom e velho português, com um sorriso maroto ele me dirá:
Cândido, meu velho. Eu não gosto de português. Agora, com relação às portuguesas eu não tenho nenhum preconceito, falaremos delas o tempo que você quiser.
Acredito que o farei mudar de idéia e, para chamar-lhe a atenção, procurarei fazer uma relação entre a sua profissão (baseada em cálculos e números) e aquilo que eu desejo falar-lhe, então, tudo ficará mais ou menos assim:
Como sabemos a língua portuguesa tem "23" letras que formam as palavras, que formam as frases, que formam os textos etc, do mesmo modo que o amigo Jorge usa os tijolos, que formam as fiadas, que formam as paredes e tudo o mais, até chegar à conclusão da casa.
No entanto, para que isso aconteça, há de se convir que é necessário começar com uma base (alicerce), que no nosso caso é a língua e assim, iniciando por um monossílabo tônico (pá), começaremos por preparar a massa (cimento) e semelhante a um ditongo crescente, preencheremos o (vácuo) e á medida em que a parede vai crescendo, passando pelas oxítonas, chegaremos aos encontros vocálicos dos cantos, onde os tijolos se encontram para chegarmos à concordância de que é preciso fazer a amarração.
Nos acentos diferenciais, de número, por exemplo, será fácil porque qualquer Arquiteto sabe de onde provém o material de construção e com relação ao timbre ele sabe onde (pôde) ou (pode) encontrá-los e, se a tonalidade não lhe agradar, ele (pára) e analisa.
Se alguém diz que algo está errado ele fará uma pausa e dirá: errado, não, (vírgula). A partir daí, é só aproveitar para falar-lhe das orações coordenadas, dizendo-lhe que (alguém pulou o muro, correu pela rua, subiu a calçada e sumiu), terminando de maneira conclusiva: (fugiu, logo é ladrão).
No que concerne às orações subordinadas, eu poderei falar-lhe de maneira adverbial, que (quando o sol nascer, vai esquentar o ambiente), e ele me responderá de forma adjetiva: (O vidro, que será fumê, não permitirá), justificando assim a técnica que utilizará para contornar o problema acrescentando ainda, de forma substantiva, que com relação ao sol, utilizará metais escolhidos porque: (sabemos que o calor dilata os corpos).
Falaremos de orações reduzidas, assunto que lhe agradará, principalmente porque lhe lembrará "redução de custos" e, conseqüentemente, passaremos às orações intercaladas para lembrar que: (Reduzir custos, direi eu, aumenta os lucros).
Com certeza, quando os recursos ficarem escassos, ele fará uma pausa mais longa como acontece com o ponto e vírgula e raciocinará porque: quem não raciocina é um fanático; quem não sabe é um tolo; quem não ousa raciocinar é um escravo.
Mas, em dois pontos concordamos":" ele vai aprender pontuação e eu, no mínimo, sairei mestre-de-obras depois dessa aula pedagogicamente nomeada por Paulo Freire de "pedagogia da libertação", salvo algumas reticências que ele deve usar para não me ensinar o pulo do gato da sua profissão.
Falar de travessão será fácil já que na nossa "aula libertadora" estamos dialogando e ele, o travessão, será apenas o sinal que indicará a fala de cada um de nós, ou servirá para ressaltar alguma explicação intercalada naquilo que diremos.
Quanto aos parênteses eu seria poupado de explicação já que o meu amigo os conhece dos cálculos matemáticos e sabe que servem para isolar um determinado cálculo, assim como na linguagem, serve para separar uma reflexão.
A exclamação e interrogação ele aprenderá sozinho no momento em que eu lhe apresentar a conta da "hora aula", pois, por certo ele dirá surpreso: Puxa! Tudo isso?
Finalmente, chegaremos ao término de nossa aula e eu, particularmente, cumprirei a minha tarefa explicando ao colega para que serve o ponto final.
(Setembro de 2005)
Fonte: Antônio Cândido da Silva
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