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Gente de Opinião

Antônio Cândido

De 'Categas' a 'Cutubas'


Existem certas coisas na história de Porto Velho que vez por outra são desenterradas da vala comum do esquecimento, para uma discussão, visando o esclarecimento de fatos passados e para desespero daqueles que preferem que tudo continue como "dantes no quartel de Abrantes".

A visita de Zola Silveira à cidade de Porto Velho, pelo visto, está servindo para desenterrar velhas lembranças, ligadas a acontecimentos políticos que os antigos "Cutubas" gostariam de vê-las dormindo, esquecidas eternamente na lembrança e na história do povo desta terra.

No site Gente de Opinião, de 14 de janeiro de 2008, o jornalista Paulo Queiroz e o colunista Antônio Serpa do Amaral Filho, revivem os tempos políticos em que a população da cidade era divida entre os Peles-Curtas e os Cutubas, por conta de uma pesquisa que Zola veio fazer em Porto Velho.

Revivem, mais precisamente, uma agressão perpetrada pelos aluizistas, na noite de 26 de setembro de 1962, quando uma caçamba da Prefeitura, aparentemente desgovernada, invadiu o comício de Renato Medeiros matando uma pessoa e ferindo em torno de trinta, das quais, quatro foram hospitalizadas em estado gravíssimo.

Embora tenha assistido ao comício não presenciei a tal agressão por ter deixado o local, minutos antes de o fato acontecer, e dele só tomei conhecimento, ao chegar em casa, através das ondas poderosas da Rádio Caiari. Por isso, a "minha colher" está metida aqui por outro motivo: a origem dos termos Peles-Curtas e Cutubas.

As duas correntes políticas surgiram com Aluízio Ferreira e Joaquim Vicente Rondon, sobrinho de Cândido Rondon e que fez parte da Comissão de Fronteira, liderada por seu tio.

Tudo leva a crer, por isso estamos fazendo pesquisa sobre o assunto, que Cândido Rondon não era tão admirador de Aluizio Ferreira, como dizem, principalmente a partir de 1930, quando segundo Aluízio, foi convidado a substituir Rondon na chefia do já então 3º Distrito Telegráfico de Mato Grosso.

Considerando que Aluízio era subordinado de Rondon, porém ligado ao movimento tenentista que apoiou Getúlio Vargas e que ele, em proveito próprio, preferiu apoiar Getúlio, é claro que Rondon não aprovou a atitude de Aluízio ao tomar-lhe, inclusive, a chefia da Comissão. Mas, como disse, isto é assunto para outra ocasião.

"Peles-Curtas" era a ralé, a pobreza, os descamisados da pequena Porto Velho. Por outro lado, a elite, aqueles que faziam parte da administração territorial e da Madeira-Mamoré e, principalmente os que moravam no bairro Caiari, esses eram considerados os "Categas" e formavam a facção política liderada por Aluízio Ferreira.

O termo Pele-Curta criado pelos Categas significava que as pessoas tinham tão pouco que até mesmo o lençol ou o "couro velho" que as cobriam, eram tão curtos que quando cobria os pés descobriam a cabeça. Ou seja: era a maneira preconceituosa de chamá-los de pobres.

Na década de 60, surgiu em Porto Velho o jornal "O Combatente", de propriedade do jornalista Inácio Mendes, várias vezes empastelado no período da ditadura militar por ter a ousadia de enfrentar os militares e, principalmente, o interventor Cel. Cunha Menezes.

O Combatente foi fechado, mas desafiadoramente ressurgiu com o nome de "O Combate", resistiu algum tempo, finalmente foi fechado, o jornalista Inácio Mendes enquadrado na Lei de Segurança Nacional e preso no porão do Palácio Presidente Vargas, depois na 3ª Cia. de Fronteira e deportado para Belém para os interrogatórios de praxe.

Pois bem; Inácio Mendes que era pele-curta fanático escreveu no Combate que o prefeito na época, fez uma viagem ao estado de São Paulo e visitou a cidade de Araçatuba.

À noite, passeando em uma praça da cidade, puxou conversa com um habitante do local, a quem perguntou a origem do nome da cidade e este teria dito que Araçatuba é uma palavra de origem indígena que araçá significa "goiaba" e tuba significa "doce".

O nosso prefeito, espantado com a descoberta teria dito: "Ah! Então é por isso que em Porto Velho me chamam de CUTUBA".

A piada tomou conta da cidade e como o prefeito era o presidente do partido dos Categas, levou para os seus correligionários o adjetivo que a partir de então passou a identificar os partidários de Aluízio Ferreira.

Antônio Cândido da Silva

Fonte - Antônio Cândido da Silva
Membro da Academia de Letras de Rondônia
Membro da União Brasileira de Escritores – UBE – RO. 
CONTATO:
a.candido.silva@hotmail.com


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