Segunda-feira, 14 de maio de 2012 - 07h21
Antônio Cândido da Silva
Hoje é mais um dia das mães e, diante de tantas festas e elogios a elas, eu percebi que depois de várias tentativas, nunca consegui fazer um poema para minha mãe.
Dia 25 de maio completará, exatamente, 64 anos que ela me deixou. Eu tinha apenas seis anos quando tudo aconteceu. Morávamos na Rua Paulo Leal (que naquele tempo era Rua Riachuelo) onde hoje está erguida uma igreja evangélica, chegado a três anos do seringal Boa Hora, graças à generosidade e o empenho do Padre Henrique Fiorani.
Primeiramente fomos morar do outro lado rio, em terreno dos padres, depois no sitio do tio Juvenal, onde hoje é a COHAB e, finalmente, na Paulo Leal quando fiquei órfão e fui morar com meus avós.
Nesse corre-corre de mudanças não tive tempo de guardar, digamos assim, momentos de ternuras atribuídos em prosa e versos as mães. Lembro de minha mãe, do seu cuidado e dedicação à família e, às vezes, a sinestesia me faz lembrar o gosto saboroso da galinha caipira que ela preparava temperada apenas com sal, pimenta do reino e alho por causa da nossa situação econômica.
Eu era como se dizia naquele tempo, um cão espetado numa vara. A primeira coisa que fazia, ao acordar, era tirar a camisa e partir para traquinagens. Por causa disso, em correria, muitas vezes assassinei pintos e patinhos da criação da minha mãe, o que me custou muitas lambadas com a bainha do terçado do meu pai, lembrança dos seringais.
Muitas vezes acordei com minha mãe me vestindo uma camisa por causa do frio da noite e, talvez por isso, pra mim, não há nada melhor para simbolizar o carinho do que uma mãe cobrindo uma criança que dorme.
Meu pai passou a trabalhar na Madeira-Mamoré (serviço braçal) e, por força do hábito adquirido nos seringais, acordava cedo e preparava o café do jeito que a minha gostava, forte e amargo.
Lembro que ao sair, muitas vezes, quando minha mãe estava respirando com a boca aberta, o meu pai, cuidadosamente, com uma colher, colocava açúcar na sua boca o que a deixava tiririca da vida, ao acordar.
Enfim, a vida da minha mãe era limpar, lavar roupa (na mão), buscar água na Santa Bárbara, preparar comida, consertar roupa, torrar e pilar o café, dar banho na gente e essas coisas que as mães faziam antigamente sem a comodidade e o conforto que as mulheres de hoje não conseguem imaginar.
Mas, voltando ao assunto, eu nunca consegui transformar em poesia esse pouco convívio com minha mãe, esses acontecimentos não chegaram a se tatuar na minha alma, e as fases da minha vida foram sendo substituídas, rapidamente, sem que eu tivesse tempo de guardar saudades.
Seria até fácil, dizer as palavras bonitas que traduzem a representatividade das mães na vida dos filhos, ditas em tantas crônicas e poemas que os filhos dedicam as suas mães, no dia de hoje. Mas, sinceramente, não é isso o que sinto e, para mim, discordando de Fernando Pessoa, a poesia tem primeiro que ser construída na alma.
Não pensem, por favor, que deixei de lado a minha mãe. Lembro dela e peço a Deus pelo descanso eterno de sua alma, há sessenta e quatro anos, todas as noites, religiosamente. Minha mãe é como um espaço que não foi preenchido em minha vida. Sinto a sua falta e não sei explicar...
Por isso, depois de tantas tentativas, consegui apenas dois versos, que dizem, exatamente, a falta que ela me faz. E nada é mais penoso do que carregar o fardo de uma alma vazia...
Minha mãe.
Minha mãe é apenas o vazio
Que um dia se fez na minha vida...
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