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Gente de Opinião

Antônio Cândido

EU CONFESSO: A CULPA É MINHA


 Antônio Cândido da Silva

 Um dia Rondônia conquistou a condição de estado, e com isso, ele e os seus municípios passaram a ter o direito de ostentar os seus símbolos (Hino, Bandeira e Brasão).

 No caso de Porto Velho, tudo aconteceu no ano de 1983, por iniciativa do prefeito Sebastão Valadares que criou o concurso e uma comissão do mais alto nível para escolher os melhores trabalhos.

 Tive a satisfação de ver o meu trabalho (Bandeira e Brasão) ser escolhidos e, depois, através da Lei n. 249 de 11 de outubro de 1983, aprovada por unanimidade pela Câmara Municipal de Porto Velho, passar oficialmente à condição de símbolos do Município. 

 As três Caixas-d'Àgua, instaladas no bairro Caiari pelos americanos quando construíam a ferrovia Madeira-Mamoré, passaram à condição de símbolos de Porto Velho, por fazerem parte do conjunto heráldico da bandeira e do brasão municipal. 

 

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Foto autor não identificado


Estas considerações, à primeira vista sem razão de ser, estão ligadas ao fato de que se pretende construir um hotel (prédio) que tirará a visão privilegiada que se tem das Caixas-d'Água.
 
Alegam, como justificativa, que a construção trará em torno de 100 empregos diretos e mais de 100 quando o hotel começar a funcionar, como se isso fosse suficiente para justificar o desrespeito com as tradições do povo desta terra.

Não sou contra o progresso. Isso, não!

Mas, sugiro que os ilustres empresários tentem construir qualquer coisa que venha tirar o mínimo de visão da Torre Eiffel, Estátua da Liberdade, Arco do Triunfo, Cristo Redentor e por aí vai.

Em São Paulo a licitação para a construção do Museu de Arte Mo-derna (MASP), tinha como exigência principal que o prédio não poderia tirar a visão do Vale do Anhangabaú que se perde na distância da grande capital paulista. A competência da arquiteta Lina Bo, esposa de Pietro Maria Bardi, provou que era possível.
 
Não estou querendo comparar as nossas Caixas-d'Água com ne-nhuma das edificações citadas porque, para nós, os nossos símbolos são, de longe, muito mais importantes porque fazem parte da "nossa" história. 
 
Além do mais, uma coisa me deixa encafifado: como é que aquele terreno caiu nas mãos de particulares?
 
Naquele local, em 1949, funcionava o primeiro "Jardim de Infância" do estado de Rondônia, conforme podemos constatar na foto abaixo, e fato que poderá ser comprovado por uma infinidade de pessoas que "alcançaram" o funcionamento daquele estabelecimento de ensino.

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Foto Autor desconhecido

 Ora, em 1949, Porto Velho era parte de um Território Federal e, portanto, o nosso Jardim de Infância, edificado em terras da União. No prédio, posteriormente, foi instalado o Ensino Supletivo, trabalho do Padre Moretti, que mais tarde deu nome ao colégio que hoje abriga o curso.

Por último, foi construída na parte frontal as instalações da Teleron e o prédio passou a abrigar uma parte do Tribunal de Justiça, o que é feito até hoje.
 
Com a privatização da Teleron o prédio foi demolido e agora particulares querem construir um edifício em um terreno que é da União ou, no mínimo, patrimônio do Estado.
 
Desculpem-me não estou entendendo mais nada. Porém, nessa briga não pretendo me envolver. O que me interessa é a questão histórica, a tradição e o respeito àquilo que é nosso.
 
Confesso, a culpa é minha. Eu não devia ter dado ouvidos ao Cláudio Feitosa e participado daquele concurso, e escolhido justamente as Caixas-d'Água para representar a resistência dos nossos antepassados, por ter sido o único objeto da Madeira-Mamoré que ninguém conseguiu destruir.
 
Se isso não tivesse acontecido, provavelmente as Três Caixas-d'Água teriam sido vendidas ao ferro velho como pretendiam na época do desmonte da ferrovia, e o prédio estaria construído sem nenhum problema.
 
Por isso entendo que a culpa é minha pelo que está acontecendo, mas não me cobrem desculpas...
 
Vi na entrevista pela televisão que um dos interessados foi identificado com o sobrenome "Baú". Aliás, parece que a palavra Baú está predestinada a destruir as nossas tradições. Um certo Baú conseguiu mudar o nome da nossa praça Mal. Rondon para "Praça do Baú", agora outro Baú pretende esconder atrás de um prédio um pedaço da nossa história que foi transformado no símbolo maior de Porto Velho.

 Fonte: Antônio Cândido

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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