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Gente de Opinião

Antônio Cândido

GRILARAM A PRAÇA PADRE JOÃO NICOLETTI


 
Atendendo ao pedido do Dr. Luiz Augusto de Freitas Guimarães (Guto).

Quem passava em frente à Igreja Matriz da nossa cidade, até pouco tempo, observava que na praça em frente ao prédio da Prefeitura, havia um marco com o Brasão do Município, três mastros de ferro para hasteamento de bandeiras, um busto, em forma de medalhão, e a identificação do logradouro público: PRAÇA PADRE JOÃO NICOLETTI.

A atual administração Municipal, com a ajuda de um trator, fez desaparecer a identificação da citada praça, e o busto do Padre Nicoletti foi “gentilmente” entregue ao vigário da Catedral que não teve alternativa senão a de fixá-lo na Praça da Igreja Matriz, como forma silenciosa de protesto. O busto, por ser de metal, foi roubado e, mais uma vez, o Vigário mandou fazer o atual que não tem nada de Padre nem de João Nicoletti. 

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Foto do autor



 
Eu gostaria de entender que diabo se passa na cabeça de alguém que procede assim, como se as pessoas fossem idiotas ou vivêssemos numa terra de ninguém, sem lei, sem amor próprio, e onde qualquer mal intencionado se sentisse na “casa da mãe Joana...” (Obs. Esse nome não serve para Maternidade).

Essas pessoas, por desconhecimento da nossa história Karipuna e por entender que tem uma história melhor para substituí-la, o que é impossível, se prevalece da condição de mando que a maioria eleitoral lhe deu (nem sempre a maioria é sábia) para mostrar os seus pendores ditatoriais, atropelando tudo aquilo que não foi feito por ele, principalmente as leis.

O governante não pode se dar ao luxo de não conhecer a história da cidade que governa, a movimentação da atividade humana, os diversos tipos de vida, a geração de conflitos, de costumes, de poder, de ideias, de conceitos e preconceitos, o jeito de agir, de pensar e o modo de vida das pessoas, que dão movimento ao espaço que habitam.

A razão da nossa indignação é a patente falta de respeito com aquilo que aqueles que nos precederam, fizeram com sacrifício, trabalho e respeito às pessoas, preocupados com os próprios nomes com os quais assinaram a história que estavam construindo.

Uma praça não surge do nada. É preciso lei para determinar o local, definir recursos, autorizar a construção, dar-lhe um nome etc. logo, a “Praça Padre João Nicoletti” não é apenas uma placa que se pode mudar de um lugar para outro de acordo com a conveniência. 

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Foto do autor



Por falar em placa vale lembrar ao nosso Vigário que o Padre João Nicoletti faleceu às 16:30 horas, do dia 26 de janeiro de 1937, e não no ano de 1945; a praça não é esta (da Catedral) e sim aquela (da Prefeitura) inaugurada em 31 de março de 1966, e não em 1962 e Padre Nicoletti também construiu o Colégio Maria Auxiliadora.

Mas, voltando ao assunto, pergunta-se: essa Lei existe? É claro que sim. Mas, antes precisamos esclarecer que o terreno onde foi construída a Igreja Matriz foi doado à Diocese do Amazonas através da Lei Municipal N. 20, de 24 de julho de 1916.

No dia 3 de maio de 1917, o Padre Doutor Raimundo de Oliveira, procedeu à benção e lançamento da pedra fundamental da futura igreja, com a presença das autoridades e do povo em geral, cerimônia que aconteceu no local onde foram construídos a Matriz e o Colégio Dom Bosco.

Por razões não explicadas o Padre Dr. Raimundo de Oliveira resolveu construir a igreja no local onde se encontra, hoje, o Palácio Presidente Vargas. Com isso, o local antes cedido para a construção, passou a ser conhecido como Praça Oswaldo Cruz, em obediência a Lei Municipal Nº 43 de 20 de julho de 1917.

Segundo o jornal “Alto Madeira” edição de 2 de outubro de 1917, um forte temporal que aconteceu na região, no dia 25 de setembro daquele ano, destruiu, também, a construção da Catedral, no local que ficou conhecido como Vaticano. Foram feitas várias tentativas de reconstrução, porém, sem resultado.

Somente depois da criação da Prelazia de Porto Velho, em 1º de maio de 1925, e com a chegada dos Padres João Nicoletti e Antônio Carlos Peixoto, a Matriz foi construída no antigo local cedido pela Municipalidade, agora denominado, por força da Lei Nº 43, de Praça Oswaldo Cruz.

Esses esclarecimentos servem para entendermos porque a Praça da Matriz (ou Praça Oswaldo Cruz) não tem nada a ver com a Praça Padre João Nicoletti.

Senão vejamos:

Qualquer pessoa que conheceu Porto Velho até o início da década de 50, do Século passado, vai lembrar que na quadra onde hoje está construído o prédio da Prefeitura, por empenho de Monsenhor Pedro Massa foi inaugurado em junho de 1928, o Serviço de Meteorologia, administrado pelos salesianos e dirigido pelo Padre Engº Bruno Herzberg. Esse serviço de meteorologia foi transferido já nos anos 50, para uma área nos altos do Colégio Dom Bosco, passando, algum tempo depois, com a saída do Padre Bruno, para a responsabilidade do Coadjutor Pedro Necchi.

Acreditamos que agora é possível entender o Projeto de Lei e a Lei a seguir, digitalizados do livro DESBRAVADORES Vol. II, de Vitor Hugo, páginas 323/324: 

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O projeto de Lei dos Vereadores Ignácio Castro e Tibúrcio Cavalcante, resultou na Lei nº 5, de 29 de abril de 1937. 

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Assim, chegamos à conclusão de que existe, desde 1937, uma área de terras legalmente destinada à construção de uma praça que receberia o nome de Padre João Nicoletti. Ou seja, a quadra nº 7, em frente à área onde foi construída a Igreja Matriz.

Mas, a “grilagem” da Praça começou lá pelos idos de 1961/1962, na Administração do Senhor Floriano Rodrigues Riva, quando foi feito o projeto para construção do prédio da Prefeitura na área da Praça em questão, e se consumou, até então, na Administração do Prefeito Antônio Serpa do Amaral quando o Governador Ten. Cel. José Manoel Lutz da Cunha e Menezes inaugurou o prédio, em 31 de março de 1966, com o nome de “Palácio 31 de Março”.

Revendo esses fatos, me vêm à memória duas pessoas interessantes: Bohemundo Álvares Afonso, ex-prefeito e estudioso de matemática, que a partir das 05:00 horas, já era visto fazendo cálculos em um quadro negro na sala de sua casa, em frente à área em questão, onde hoje é a Academia Mahatma; a segunda era seu filho José Monteiro Álvares Afonso, meu colega de Dom Bosco, o primeiro a fazer aeromodelismo em Rondônia, que aos domingos, após a missa, se divertia na futura Praça Padre João Nicoletti com os aeromodelos que ele construía com material e projetos importados do Sul do País.

Salvo engano, somente na administração de Francisco Chiquilito Erse, a praça em frente à Prefeitura foi restaurada e identificada com o busto e o nome legalmente correto de “Padre João Nicoletti.”

Mas, foi privilégio da atual administração Municipal a ideia de se tirar da história o nome de um dos grandes benfeitores da gente desta cidade, conseguindo a façanha de “mover” um “imóvel”, simplesmente atravessando a Rua Dom Pedro II.

Com certeza, a exemplo de certo Vereador, ele deve ter se justificado: Quem é esse tal de João Nicoletti? 

Fonte: Antônio Cândido da Silva(*)  -  a.candido.silva@hotmail.com  
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*Membro da Academia de Letras de Rondônia Membro da União Brasileira de Escritores – UBE – RO.

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