Quarta-feira, 15 de junho de 2011 - 08h28
Antônio Cândido da Silva
A maioria das pessoas que passa pela rua Comendador Centeno (ladeira da Prefeitura) e observa, do lado esquerdo, o que resta do sobrado antigo ali localizado, não tem idéia do valor histórico daquelas paredes que teimam em resistir, como a gritar por socorro que ninguém escuta.
O prédio foi construído pelo Mestre de Obras Pedro Renda e, segundo Esron de Menezes, demorou 11 anos a sua construção (demora que merece ser investigada) a mando do cidadão português João Soares Braga para sua residência.
Como amante da história e das coisas desta terra que me acolheu, isso em 1945, quando aqui cheguei doente e sem perspectiva de futuro, confesso que acompanho com tristeza o descaso com que é tratado aquele sobrado, onde foram tomadas grandes decisões relacionadas a esta cidade.
Votei no Sr. Carlos Camurça (na eleição e reeleição) porque além de ser filho de Rondônia (Guajará-Mirim), prometeu nas duas ocasiões, que faria a restauração do "Prédio da Câmara", como ficou mais conhecido o edifício.
Acreditei que com a escolha da Vereadora Ellen Ruth, filha de Porto Velho, para Presidente da Câmara Municipal, naquela época, não haveria empecilho algum ou falta de interesse para que o antigo prédio da primeira Prefeitura e depois da primeira Câmara Municipal, não merecesse a devida consideração de um tratamento melhor.
No dia 5 de junho de 2000, fiz publicar na imprensa local o poema a seguir, co-mo maneira de extravasar a minha tristeza e indignação:
HISTÓRIA EM RUÍNAS
Antônio Cândido da Silva
É pó voltando ao pó
na previsão da Bíblia.
É a história esquecida,
o descaso de tudo.
Começa a se formar
um triste amontoado de saudade.
A rua Comendador Centeno
o prédio, da Prefeitura,
como é mais conhecido.
Virou falta de vergonha
o que ali se constata.
O prédio é boca de fumo
sanitário de quem passa
reduto de marginais.
O Sobrado em meio a tudo isso
vive a gritar por socorro
que não chega aos ouvidos de ninguém.
Como o passado dói neste momento...
A tristeza nos faz ver
pelas tortas esquadrias das janelas,
homens que foram Prefeitos
Prefeitos que são história
se materializando
no escaninho da saudade:
Mário Monteiro, Carlos Mendonça,
Bohemundo, Gondim e Castiel.
O Tomás Chaquian, José Saleh.
e o Antônio Serpa do Amaral.
Vê-se a figura do seu Pedro Renda
na construção do sobrado,
tijolo sobre tijolo
com carinho especial.
Depois, bem, depois,
ali numa festa sem igual
antes de Rondônia ser Estado,
o sobrado passou a ser a sede
da nossa Câmara Municipal.
Chega-se a ouvir nas vozes do passado
os primeiros edis do Município
na fala forte de Antônio Leite,
Anizio Gorayeb, Edgar Lobo,
o João Bento e o Joaquim Morais.
Joventino, Saleh e Inácio Mendes,
naqueles tempos que não voltam mais.
Às vezes é cruel a realidade...
Velhas peças lavradas do telhado
resistem sob o peso do descaso.
A varanda, proteção do lado sul,
mostra ao céu o esqueleto da estrutura
de madeiras tortas, de peças brocadas,
entregues à chuva e ao sol do esquecimento.
Um pé de samambaia
nascido na umidade da parede,
dá um toque de pureza
tentando amenizar o quadro triste.
Quadro que estão pintando,
no início da ladeira,
que traz o nome do Comendador.
No chão, sobre ladrilhos europeu,
mais uma telha importada de Marselha
vira pó na dureza da calçada.
No pátio, recoberto de entulhos e de fezes,
o cheiro forte de amônia
denuncia a urina ali depositada,
e que juntos, adubam com carinho
um vigoroso pé de sambacuim,
que lá do alto assume seu papel
testemunhando o renascer do nada.
E nos meandros da destruição
é realidade o palpitar da vida,
no mundo dos cupins,
das traças e das brocas
que, silenciosamente,
vão cumprindo o seu papel de renovar
porque, “na natureza nada se perde,
tudo se transforma”.
Aqui, o tudo se transforma em nada...
Foto autor não identificado |
Depois da leitura destes versos relembro que o sobrado foi construído pelo Senhor Pedro Renda, por encomenda do português João Soares Braga e mais tarde acabou adquirido pelo valor de oito contos de réis na segunda gestão do Dr. Joaquim Au-gusto Tanajura, triênio 1923 a 1925, para ser a sede da Intendência Municipal.
Na época o Senhor José Centeno era o gerente da filial, nesta cidade, da firma J. G. de Araújo e estava à frente da Beneficente Portuguesa instalada no antigo Hospital São José e era conhecido pelo apelido de "Comendador", alcunha que a história se encarregou de agregar ao seu nome ao designarem a ladeira do sobrado de "Ladeira Comendador Centeno".
Mas, o que realmente importa é o valor histórico daquela casa que também o Prefeito Roberto Sobrinho, em quem não votei, também prometeu na sua campanha eleitoral restaurar a antiga sede da Câmara Municipal.
Menos de dez dias após a posse de Sobrinho, ao passar pelo local, deparei com três ou quatro pessoas medindo o que restava do prédio. Confesso que me emocionei com a perspectiva de ver o imóvel restaurado e até quis acreditar que finalmente ti-nha aparecido um político que cumpre o que promete no palanque eleitoral. Até ago-ra, nada.
O que fazer? Não há porque cobrar do prefeito Sobrinho que não tem ligação com as nossas raízes, se Carlos Camurça e Ellen Ruth não zelaram pelas tradições his-tóricas da terra deles e, no caso de Helen Ruth, dos seus antepassados.
Observemos mais uma vez a foto, feita no pátio do "prédio da Câmara", e nela vamos encontrar os seguintes dizeres datilografados na cor vermelha: "Posse do Dr. Ruy Cantanhede no cargo de Prefeito Municipal – Em 14/06/1948."
Pois muito bem. A vereadora, depois deputada estadual, Ellen Ruth Cantanhede Salles Rosa, ao que consta, é neta do Dr. Ruy Cantanhede que aparece no centro da foto, de terno branco e gravata preta, ao lado do governador Joaquim de Araújo Lima e sua digníssima esposa.
Nos últimos dias um movimento encabeçado pela ACRM - Associação Cultural Rio Madeira tem movimentado a cidade ao tomar para si a responsabilidade de salvar o nosso sobrado, cujas paredes, carcomidas pelo tempo, teimam em se manter em pé protestando contra a incompetência dos políticos que não cumprem as promessas de campanha, e não zelam pelo patrimônio público, um pedaço da história e dos impostos pagos pelo povo.
A ACRM acionou o Ministério Público na esperança de que algo seja feito para impedir que os últimos tijolos sejam levados para servirem de aterro em algum canto escondido da cidade. O prefeito já declarou na televisão, não é segredo, que vai demolir o que resta do prédio e, a exemplo do Mercado Cultural, vai construir uma réplica no local.
O que me preocupa são os arquitetos e engenheiros do atual prefeito que não conseguem dividir um todo em partes iguais. Quem quiser confirmar o que digo, tome uma fita métrica e vá medir as paredes entre as portas do Mercado Cultural e vai verificar que dificilmente vai encontrar duas “colunas” com a mesma largura.
Sinceramente, em comparo o “nosso sobrado” a um doente em fase terminal. Na segunda-feira ou depois de um feriado prolongado em espero a notícia de que a foice mortuária do senhor Sobrinho acabou com tudo. Afinal de contas ele é mestre na arte de destruir a nossa história de modo sorrateiro.
E as perspectivas de mudanças (para melhor) no Paço Municipal são as piores possíveis. Temos pretenso candidato, já em campanha velada, que está em Porto Ve-lho há dois anos (ou são quatro?) e que diz conhecer todos os problemas da cidade e que Porto Velho é como um condomínio só precisa de um bom síndico. Haja cara de pau...
O que me preocupa, também, é o Ministério Publico, fazer um grande trabalho e, a exemplo do Cemitério da Candelária e do brilhante trabalho do Doutor Fausto Martuscelli Monteiro, até hoje, a bem da verdade, nada foi feito que valesse a pena ser elogiado.
Em todo caso, a nossa Associação Cultural Rio Madeira – ACRM, pelo seu des-cortino, merece elogios pela iniciativa...
Fonte: Antônio Cândido - a.candido.silva@hotmail.com
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