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Gente de Opinião

Antônio Cândido

PAI, AGORA EU SEI...


 

         Antônio Cândido da Silva

 

Pai! Só agora, depois de já crescido,

só agora depois de já ser pai,

eu consigo encontrar-te nos caminhos

onde adulto me vejo a percorrer.

Descobri afinal o pai que foste

e o motivo de ser o pai que sou.

 

Hoje volto nas asas da saudade

ao tempo da criança que já fui,

para aprender contigo que o exemplo

é o mais eficaz ensinamento.

E te encontro em silêncio, pensativo,

no aconchego do dever cumprido

quando eras meu pai e meu herói.

 

Tomo tua mão, e volto a ser criança,

na magia da brisa matinal.

E sob o sol da manhã dominical

voltamos juntos ao caminho antigo

onde a nadar eu aprendi contigo

nas águas frias dos igarapés.

 

Tu me ensinaste todos os caminhos

mesmo não tendo frequentado escolas,

porque sabias que para ser pai

bastava ter o amor dentro do peito

como o mais importante mandamento

e deixar o exemplo por herança

como a mais preciosa das lições.

 

Hoje eu sei meu pai, que pra ser pai,

é preciso também ser sonhador

e conjugar durante toda a vida

aqueles verbos que, por coincidência,

conseguem rima com o verbo amar.


É preciso aprender a se doar

para ensinar, depois, a caminhar.

É necessário entender a vida

e que ser pai é para a vida toda

porque os filhos nunca vão crescer.

 

Aprendi que ser pai

é educar, vibrar, incentivar,

apoiar, sonhar, acalentar,

amparar, caminhar, renunciar

e acima de tudo perdoar.

 

Que o pai deve ser aquele amigo,

sempre a dizer presente o tempo inteiro,

ser a pedra angular onde a família

encontra a paz, a força, amparo e luz.

É receber depois de longa espera

contente o filho pródigo que volta.

É ser como pastor da história de Jesus.

 

Ser pai, depois de tudo,

é não morrer e sim virar saudade.

É morar num cantinho da lembrança,

para um dia qualquer virar histórias

que o filho contará para os seus netos

lembrando do seu tempo de criança...

 

                            À memória de meu pai ARTUR

 

Poesia do livro “Da janela por onde o tempo passa”

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