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Antônio Cândido

PEDAÇOS DA NOSSA HISTÓRIA - II



Antônio Cândido da Silva

Após a visita que fiz ao Cemitério de Santo Antônio, no dia 31 do mês passado, dirigi-me ao bairro Lagoinha, para onde fui pela Avenida Rio de Janeiro e tive o desprazer de contornar o Trevo do Roque, o que aumentou a minha indignação, ao lembrar-me do Mural dos Pioneiros ali colocado na década de 1980.

O prefeito municipal era o Engenheiro Sebastião Assef Valladares e Governador o Cel. Jorge Teixeira de Oliveira. O mural, afresco construído em cimento aparente, criado pela Arquiteta Hélvia Lúcia Fraga e Silva, está sumido desde a última reforma efetuada no Trevo do Roque, por obra e graça da atual administração municipal.

Aliás, a administração municipal devia se dedicar à arte circense da mágica, pois é grande a sua capacidade de fazer desaparecer as coisas. É tão competente na arte do sumiço que conseguiu a proeza de fazer sumir uma praça criada pela Lei nº 5, de 29 de abril de 1937.
 

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Antes da última reforma, quem passou pela Praça Jonathas de Freitas Pedrosa lembra, com certeza, da estátua do ex-governador do Amazonas que assinou a Lei Nº 757, de 2 de outubro de 1914, criando o Município de Porto Velho.

Num passe de mágica a estátua do ilustre personagem sumiu sem deixar vestígio e hoje, a nossa praça já é conhecida com “Praça da Bíblia” por conta de um pedestal colocado pelos evangélicos em homenagem ao livro sagrado. 

Por falar em praça, apenas para não deixar esquecer, a Praça Marechal Rondon, por falta de uma placa de identificação, também deixou de existir e hoje todos sabem onde fica a “Praça do Baú”. A “Praça Mal. Rondon” sumiu...

Do complexo da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré muita coisa que ali foi feita, também sumiu já que o dinheiro gasto não justifica o que ali se pode ver. Até parece que vivemos no mundo encantado de Mister M, tão grande é a facilidade com que some aquilo que interessa a nossa história.

O Prédio da Câmara só ainda não desapareceu porque foi feito em outros tempos, quando as construções eram feitas com responsabilidades e por quem tinha vergonha na cara. Se os “viadutos” tivessem sido construídos naquele tempo, com certeza a empresa responsável não teria ido embora sem  dar satisfação. Alias esse negócio de contrata, abandona a obra e faz nova licitação, virou normalidade nas obras de Porto Velho. É só lembrar da Avenida Caúla, das UPA’s, dos viadutos...

Por falar em Prédio da Câmara, foi dito na imprensa local que os recursos para a restauração do prédio já estavam assegurados e, inclusive o presidente da Câmara, atual presidente da Assembleia, falou de um projeto que ele (presidente) mandara fazer e, na oportunidade, colocou-se à disposição da Prefeitura, demonstrando interesse na restauração do prédio histórico, como bom político que é.

Por outro lado, para não fugir à índole do cupim (que é a de destruir construções) o nosso prefeito afirmou na imprensa local, que o prédio seria demolido e um novo prédio seria construído com as mesmas características dos restos mortais do prédio histórico.

Se isso acontecer perderemos a primeira construção feita em Porto Velho, com “laje pré-moldada” onde foram utilizados trilhos ferroviários e telha do tipo francesa, quando esse tipo de laje, pelo que sei, ainda não existia.

Pergunta-se: Se os recursos para a restauração do prédio da Câmara estavam assegurados, porque “continua tudo como dantes no Quartel de Abrantes?”

Uma coisa interessante que chama a minha atenção nas “reformas e restaurações” feitas pela administração Municipal é o uso constante, exagerado e algumas vezes dispensável de ferragens, parece que têm ferrugem no DNA do prefeito e dos arquitetos municipais, pois somente ferrugem gosta tanto de ferro. Lembro que a primeira reforma feita foi a do prédio da Prefeitura, que hoje está praticamente coberto por chapas e colunas de metal.

Depois vieram aqueles trambolhos colocados no prédio do Teatro Banzeiros e no mirante da Praça da Estrada de Ferro. Não sei qual foi o gênio que juntou ferro, madeira, terra, água e a umidade, na certeza de que estava fazendo uma obra para a posteridade, embora a tubulação da beira do rio seja galvanizada

A bandalheira é tão grande com a nossa história que um assunto puxa o outro. Vamos esquecer o resto da cidade e nos concentrarmos apenas nas Ruas Dom Pedro II, Carlos Gomes e Pinheiro Machado para termos uma ideia do festival de trilhos que são colocados nas calçadas para proteção dos imóveis.  Alguém está roubando os trilhos da Madeira-Mamoré e vendendo os pedaços para comerciantes e moradores de Porto Velho.

Se sairmos dessas três ruas é possível encontrar “mesas de centro” feitas com dormentes da ferrovia e outros objetos enfeitando salas de visitas de pessoas importantes, aqui e fora do Estado...

Saindo da cidade, eu tive oportunidade de ver a alguns anos atrás, a recepção do “Hotel Transcontinental,” em Ji-Paraná, decorada com dormentes da Madeira-Mamoré...

No cruzamento das ruas Pinheiro Machado com Joaquim Nabuco, na fossa sanitária da antiga CODARON, foram utilizados os trilhos da Madeira-Mamoré de acordo com o registro que fiz nas fotos abaixo. 
 

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Vitor Hugo, em Os Desbravadores, pag. 98, Vol. II, mostra que a generosidade em doar trilhos (agora são roubados e vendidos) vem desde 1933 quando foi lançada a pedra fundamental do Colégio Maria Auxiliadora: ...foi relevante a cooperação incontestável do Cap. Aluízio Ferreira: todas as vigas de ferro e centenas de quilos de trilhos foram cedidos graciosamente pela Estrada de Ferro.

Vamos acordar gente! Se continuarmos assim, quando passar o efeito da anestesia não existirá mais “identidade cabocla,” exatamente, porque não existirá história...

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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