Quinta-feira, 19 de abril de 2012 - 07h43
Antônio Cândido da Silva
A história deste pedaço de Brasil, no que diz respeito ao descaso com que vem sendo tratada pelas autoridades e por quem, por questão de ofício, devia cuidar dela, é impressionante.
Parece que existe uma programação a ser cumprida a fim de se chegar ao apagamento total na memória da população, da história daqueles que conquistaram, construíram e nos legaram este Estado maravilhoso que, apesar da roubalheira cantada em prosa e verso na mídia nacional, é um ótimo lugar pra se viver.
Tudo começa na escola onde a criança e o jovem nada, ou quase nada, aprendem sobre a nossa história e, o pior de tudo, é que ainda se ensina em todo o Estado, nas nossas escolas, a mentira do Velho Pimentel, como a origem do nome da capital, encontrada nos livros escritos por pseudo-historiadores.
Assim, como a gente só ama aquilo que conhece, e o que a nossa meninada está aprendendo na vivência diária, é que essa é uma terra que só serve para cada um se dar bem, é triste imaginar o que o futuro reserva para esse povo sem memória, sem história e sem escrúpulos, numa terra que está sendo desmatada, devastada e explorada até o último grama de riqueza.
É possível que nem precisemos desligar a chave geral das usinas porque o nosso Rio Madeira, totalmente assoreado, não terá mais água para movimentar as turbinas.
Não sei que nome possa dar para essa situação. A verdade é que tudo conspira contra a nossa terra, ninguém fala, ninguém ouve e ninguém vê, principalmente, agora, com a construção das usinas.
Parece que estamos vivendo o “mito da caverna,” e as verdades ditas por quem consegue ver o que se passa lá fora, não são levadas a sério por aqueles que, com a identidade anestesiada, só conhecem as sombras na parede projetadas para atender os interesses daqueles que querem acabar com o nosso passado.
A destruição do Marco Rondon, o sumiço da Praça João Nicolleti, a provável destruição do Casarão, a descaracterização do bairro Caiari, as locomotivas abandonadas, o Cemitério da Candelária, bairro do Triângulo, o Mural dos Pioneiros, estátua do Jonathas Pedrosa e tantas coisas amplamente defendidas, não foram levadas a sério quando “os destemidos pioneiros” mostraram o valor histórico desses objetos.
Por falar em Jonathas Pedrosa, cabe dizer que a primeira vez que tentaram, em vão, mudar o nome da praça foi em 20 de novembro de 1930, para homenagear Aluízio Pinheiro Ferreira, conforme recorte do jornal Alto Madeira, edição de 10 de dezembro de 1930. A diferença é que agora o nosso prefeito conseguiu.
A nossa Catedral, acentuadamente descaracterizada por dentro e por fora, já não pode ser vista pelo lado direito e posterior do prédio por causa das construções que foram feitas em volta e, internamente, um maluco resolveu cobrir com uma tinta barata, as pinturas fantásticas do Padre Ângelo Cerri e de Afonso Ligório, e pendurar umas engenhocas de madeira que ficariam bem ornamentando qualquer churrascaria, pela aparência que esses objetos têm com rodas de carroça.
Das estações Telegráficas da Comissão Rondon, tombadas pela Constituição do Estado, a de Vilhena está caindo aos pedaços e a de Ji-Paraná se mantém em pé, milagrosamente, graças à última “restauração” feita há mais de vinte anos.
Os nossos símbolos municipais só são lembrados para enfeitar propaganda política fora de época, do governo municipal que quer se reeleger ou eleger o seu substituto. São feitos sem a observância das normas de feitura e o conhecimento dos seus significados não são ensinados, assim como o nosso hino, que não é discutido e analisado nas escolas municipais contrariando a lei que os instituiu.
Enquanto isso a Justiça, o Poderes Legislativo e Executivo, a imprensa e, até mesmo o povo, todos ficam calados como os moradores da “caverna” de Platão porque só enxergam a ilusória sombra do progresso, e são levados a acreditar que um punhado de dias de trabalho dado a nossa população, vale o pagamento do alto preço que já estamos pagando e continuaremos a pagar no futuro.
O 5º BEC, felizmente, ouviu o clamor de alguns Karipuna, e demonstrou que com boa vontade se pode conciliar progresso e história e tudo acabou bem com relação à Igrejinha de São Francisco. A igreja foi construída em outro lugar, com todos os detalhes, o progresso vai trazer a construção dos prédios do quartel, a memória foi preservada e a história da igrejinha continua, pois, a mudança de lugar foi apenas um capítulo a mais no livro da sua história.
Não sei o que será feito com relação à escola, mas é possível que se o Marechal Émile Louis Mallet, com seus 2,01 m de altura, fosse vivo, com certeza teria convocado a Artilharia do Exército, da qual é o patrono, para não deixar que a escolinha fosse transformada em saudade.
Diante disso, pergunta-se: O que o Consórcio Santo Antônio fará com relação ao Marco Rondon, ao Monumento da Independência, ao Casarão, à Ponte do Jaci e as demais agressões?
O que a administração municipal fará com relação à destruição e ao sumiço dos bens públicos que fazem parte da nossa história?
Não sei se vale a pena questionar a Assembleia Legislativa, pois esta Casa já barganhou, não se sabe porque, a destruição de capítulos de memória rondoniense quando votou a Lei Estadual nº 1776, de autoria dos deputados Alex Testoni e Neodi Carlos, sancionada pelo ex-governador Ivo Cassol.
Assim, como os poderes constituídos e as autoridades estão firmemente empenhadas na defesa do progresso que irá trazer dias melhores para a população e para o Estado, as palavras dos simples mortais caem no vazio.
Felizmente, nem tudo está perdido. Depois do exemplo do 5º BEC, acabo de receber uma boa notícia: IPHAN autoriza intervenção no entorno da igreja de Santo Antônio, marco histórico de Porto Velho, e obras começam em junho.
O Projeto, muito bem feito, acompanhou o email que recebi, mas pelo que entendi, não contempla o Casarão e o Monumento de 1922.
No mais, o jogo do empurra continua, a população segue muda como cordeiros levados ao redil, anestesiada pelas promessas baratas e de efeito imediato, no silêncio cúmplice dos que acham que Deus quer assim e daqueles que só pensam em si mesmo e em se dar bem...
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