Lembro-me de que era sábado ou um dia sem expediente nas repartições públicas, e alguém comentou comigo que uma comissão estava reunida para escolher o nome da Maternidade que seria inaugurada em breve.
Pediu-me, inclusive, uma sugestão e recordo que falei a essa pessoa dos nomes de Dr. Lourenço Pereira Lima, Dra. Azilda Siqueira e algumas parteiras famosas em cujas mãos nasceram os porto-velhenses nos anos 60 do Século passado.
Fiquei surpreso quando soube do resultado da escolha do nome de “Mãe Esperança” para a maternidade da nossa cidade, considerando que a única coisa que a liga à maternidade é a palavra “Mãe”, acrescida ao seu nome que é “Esperança Rita”, por causa da sua condição religiosa.
Em “Enganos da nossa história”, falamos de Mãe Esperança Rita, ao mostramos que a capela de São Francisco, de 1926, não foi a primeira igreja construída em Porto Velho, primeiro, porque trata-se de uma capela e não de uma igreja, segundo, porque antes dela foram construídas as capelas de Santa Bárbara, em 1916, do Cemitério dos inocentes em 1915, e a de Santo Antônio do Rio Madeira em 1913.
Dona Esperança Rita era natural de Codó, no estado do Maranhão, residia no Bairro do Mocambo e, em 24 de junho de 1914, fundou a Irmandade Beneficente de Santa Bárbara, com sede no lado direito do Cemitério dos Inocentes.
Antônio Cantanhede, em Achegas para a História de Porto Velho, nos diz que a diretoria da Irmandade ficou assim constituída:
Presidente – Hermógenes Santos
Vice Presidente – Iberon Braga de Magalhães
Secretário – Manoel Severino
Orador - Torquato Brandão
Avó do Terreiro – Simplícia Maria da Conceição
Mãe do Terreiro – Esperança Rita
Pai do Terreiro – Irineu dos Santos
Madrinha do Terreiro – Nila Gomes dos Santos.
Em 1916, a Irmandade construiu no bairro do Mocambo a primeira capela em homenagem a Santa Bárbara. O Terreiro seguia a linha de Xangô, o espírito guia era Yemanjá, Ogum ou São João o padroeiro.
Em 3 de julho de 1935, a Irmandade passou a funcionar na atual Rua Paulo Leal, entre Tenreiro Aranha e Mal. Deodoro, dia em que foi lançada e abençoada por Dom Pedro Massa a pedra fundamental da nova capela, que ficou pronta e inaugurada no dia 9 de julho de 1946, com missa celebrada pelo Monsenhor Pedro Massa e a presença de autoridades e do povo em geral.
Ora, deixando de lado o valor histórico/religioso, que é tamanho, de Dona Esperança Rita, o que sobra para levar alguém a sugerir o seu nome para identificar uma maternidade que, aliás, já tinha um nome o de “Prefeito Chiquilito Erse,” de acordo com a Lei Nº 1497, de 26 de dezembro de 2002, aprovado pela Câmara Municipal e sancionada pelo Prefeito da Capital?
PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE PORTO VELHO
LEI Nº 1.497 ,DE 26 DE DEZEMBRO DE 2002.
“Autoriza o Poder Executivo Municipal
a denominar “Prefeito CHIQUILITO
ERSE” a Maternidade Municipal”,
O PREFEITO DO MUNICÍPIO DE PORTO VELHO, usando da
atribuição que lhe é conferida no inciso X, do artigo 7º e inciso IV,do artigo 87, da Lei
Orgânica do Município de Porto Velho.
FAÇO SABER, que a CÂMARA MUNICIPAL DE PORTO
VELHO, aprovou e eu, sanciono a seguinte:
L E I:
Art. 1º. –Fica o Poder Executivo Municipal a denominar “Prefeito
CHIQUILITO ERSE”, a maternidade Municipal de Porto Velho, situada na Rua
Venezuela s/nº, Bairro Embratel.
Art. 2º -Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 3º - Revogam-se as disposições em contrário.
CARLOS ALBERTO DE AZEVEDO CAMURÇA
Prefeito do Município
RANILSON PONTES GOMES
Procurador Geral do Município
WILLIAMES PIMENTEL DE OLIVEIRA
Secretário Municipal de Saúde
PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE PORTO VELHO
LEI N.º 1.671 , DE 29 DE JUNHO DE 2006.
“Revoga a Lei Ordinária nº 1.497, de 26 de
dezembro de 2002 e dá outras
providências.”
O PREFEITO DO MUNICÍPIO DE PORTO VELHO, usando da atribuição
que lhe é conferida no IV, do artigo 87 da Lei Orgânica do Município de Porto Velho,
FAÇO SABER que a CÂMARA MUNICIPAL DE PORTO VELHO, aprovou
e eu sanciono a seguinte,
LEI:
Art. 1º Fica o Poder Executivo Municipal autorizado a nominar de “Maternidade
Municipal Mãe Esperança” a maternidade municipal situada na Rua Venezuela s/nº, no Bairro
Embratel, cidade de Porto Velho.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 3º Revogam-se as disposições em contrário, em especial a Lei n. 1.497, de 26
de dezembro de 2002.
ROBERTO EDUARDO SOBRINHO
Prefeito do Município
MÁRIO JONAS FREITAS GUTERRES
Procurador Geral do Município
É certo que Chiquilito não era também, o nome ideal para a Maternidade em questão, embora ele tenha se empenhado para a sua construção, o que não diz nada, porque isso é obrigação dos governantes.
Mas, o que levou as pessoas presentes a “essa reunião,” a escolherem o nome de uma pessoa sem nenhuma ligação com o verdadeiro sentido de maternidade, em detrimento daquelas que dedicaram suas vidas e seus conhecimentos para tornarem menos doloroso o momento do parto?
Só existe uma resposta: Desconhecimento da nossa história e preguiça mental para pesquisar.
Do contrário, não teriam tanta pressa em denominar a Maternidade Municipal com o nome de uma pessoa que a história não diz que foi mãe, ou que teve ligação profissional com o ato de dar à luz. Mesmo assim, menos mal. Já pensaram se algum iluminado “dessa comissão” tivesse sugerido os nomes de Mãe da Lua, Mãe d’Água ou Mãe da Mata...
O prédio onde hoje funciona a Secretaria Municipal da Fazenda –SEMFAZ, e no prédio ao lado, funcionaram a Maternidade Darcy Vargas e o Posto de Puericultura, respectivamente. A verba para a construção foi conseguida pelo governador Joaquim Vicente Rondon, a construção foi iniciada no governo de Frederico Trotta e concluída pelo governador Joaquim de Araujo Lima, tendo, o Posto de Puericultura, sido inaugurado em 29 de outubro de 1948 e a Maternidade somente em 1950.
Na história do Posto de Puericultura, vamos encontrar dois nomes de peso na história da medicina de Porto Velho, dignos de nominar qualquer edificação ligada à saúde: Doutora Florinda Leal de Faria, responsável pelo Posto de Puericultura e também pela Maternidade, e Doutora Ednice Maria Ferreira, especialista em Ginecologia e Obstetrícia, que prestaram inestimáveis serviços à população maternal e infantil de nossa cidade.
Que pena que ninguém da “comissão” sabia disso...
Fonte: Antônio Cândido da Silva