Domingo, 29 de julho de 2018 - 05h03
Praticar a democracia não é nada fácil. Uma roda de amigos conversava sobre preferências eleitorais. Fiz a pergunta: E se Bolsonaro for eleito presidente? Houve repúdio geral: “Saio do país”, disse um; “Ditadura de novo, nem pensar!”, reagiu outro. Um terceiro surpreendeu a todos ao declarar que talvez vote nele.
E se Lula for candidato e ganhar? Novas reações de apoio e rejeição. “Nenhum governo fez tanto para o povo brasileiro como o PT”; “Seria legitimar a corrupção”, falou outro.
O fato é que lidamos mal com a democracia. Exceto quando seus ventos sopram a favor de nossos interesses. Se o candidato que odeio for eleito cubro a democracia de maldições. Malditos eleitores que não sabem votar! Com certeza as urnas foram manipuladas! Ah, quem dera um novo golpe derrube o eleito!
Porém, se o candidato de minha preferência for eleito presidente da República, viva o povo brasileiro! Afinal, predominou o bom senso! Os oportunistas foram derrotados!
“Tudo em um Estado democrático deve ser um meio para atingir a democracia, mas a única coisa que não pode, nunca, tornar-se um meio é a própria democracia. Uma concepção meramente instrumental da democracia é a negação, cedo ou tarde, de uma sociedade democrática. Quem se vale da democracia para alcançar os próprios objetivos políticos acabará, em um momento ou outro, sufocando-a”, escreveu Norberto Bobbio (Entre duas Repúblicas - as origens da democracia italiana, Brasília/São Paulo, editora UnB/Imprensa Oficial de São Paulo, 2001).
É equivocado, nas eleições deste ano, centrar o foco apenas em candidatos a presidente. Qualquer um que for eleito terá que se submeter às decisões do Congresso Nacional. Por isso é de suma importância votar bem para eleger deputados federais e senadores. Renovar o parlamento. Evitar que sejam eleitos ou reeleitos candidatos lobistas, interessados apenas em defender interesses corporativos, em geral por meios escusos.
Na roda de amigos todos concordamos que é preciso pôr fim à carreira política daqueles que sempre defenderam os privilégios da minoria contra os direitos da maioria.
Pelo nosso voto podemos fechar as portas do Congresso Nacional aos corruptos, oportunistas e nepotistas. O Brasil merece sair do atraso, ampliar suas políticas de proteção social, aumentar os recursos na saúde e na educação, reduzir drasticamente a desigualdade social, fonte da violência que assola o país.
Menos cadeias e mais escolas. Menos agrotóxicos e mais agricultura orgânica. Menos veículos particulares e mais transportes coletivos. Menos especulação financeira e mais produtividade. Menos criminalização dos movimentos sociais e mais respeito à diversidade. Menos maracutaias e mais transparência. Menos autocracia e mais democracia.
Vote no projeto Brasil. E eleja quem é capaz de aglutinar forças sociais capaz de torná-lo realidade.
Frei Betto é escritor autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.
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