Quinta-feira, 20 de agosto de 2020 - 06h05
Bagé, 20.08.2020
Momentos
Transcendentais no Rio Amazonas I
Manaus, AM/ Santarém, PA ‒ Parte IX
Fordlândia (25.01.2011)
A chegada dos americanos ao Tapajós
causou uma verdadeira revolução em todo o Rio. Aqueles homens muito brancos,
louros, de olhos azuis, falando uma língua diferente era a mesma coisa que a
Terra fosse invadida por seres de outro planeta. (FRANCO)
Aportamos, por volta das 18h00, em Fordlândia, e
fizemos uma rápida visita às antigas instalações e antes de retornar ao
Piquiatuba, conhecemos Guilherme Lisboa, ex-funcionário da Receita Estadual,
que gentilmente nos levou até sua casa onde passamos alguns descontraídos
momentos.
O Guilherme deixou sua camioneta à disposição do
Sargento Barroso para que pudéssemos conhecer parte do Projeto que Ford tentou,
sem sucesso, implantar na Amazônia.
No dia seguinte, a chuva continuava sem dar trégua.
Aproveitamos a camioneta do Guilherme, pilotada pelo Sargento Barroso e nos dirigimos
diretamente à Vila Americana onde se situavam as casas dos administradores, e
que possuía, na época, jardins bem cuidados, belos gramados para a prática do
golfe, quadras de tênis, piscina, campos de futebol, clube e cinema.
Depois da Vila Americana, percorremos as demais
instalações observando o descaso do poder público com as sólidas instalações
que poderiam ser preservadas e transformar-se em fonte de renda para o
Município de Aveiro. Para que os leitores possam ter uma ideia da nossa emoção
em percorrer o cenário hoje totalmente degradado de alamedas outrora vicejantes
e entender a importância da implantação do Mega Projeto de Ford na Amazônia, em
meados da década de vinte do século passado, vamos fazer uma pequena digressão
histórica, a respeito.
Henry Ford
Henry Ford
nasceu em uma fazenda em Wayne County, perto de Greenfield, Michigan, em
30.07.1863, e faleceu em Dearborn, Michigan, a 07.04.1947. Seu pai, William
Ford, nasceu na Irlanda e a mãe, Mary Litogot Ford, filha de imigrantes belgas,
nasceu nos EUA. O interesse de Ford pelos motores teve início na fazenda de seu
pai onde ele observava com interesse os equipamentos, estudando o funcionamento
das máquinas. Ford tinha aversão às tarefas agrícolas e almejava diminuir o
trabalho manual através da mecanização.
Ford Motors Company
No dia
16.06.1903, aliado a Alexander Y. Malcolmson, empresário de carvão de Detroit e
a mais dez investidores, fundou a Ford Motor Company, com um capital de 150 mil
dólares, sendo que 28 mil (valores da época) eram do próprio Ford.
Ford investiu em
inovações técnicas e de negócios, instituindo um sistema de franquias que criou
concessionárias nas principais cidades dos EUA, e nas maiores cidades do
planeta, consagrou o chamado “fordismo”,
que nada mais é do que a aplicação do princípio da “linha de montagem”, que permitia fabricar um carro a cada 98
minutos.
Ford não
inventou a “linha de montagem”, ele
próprio afirmava que teve a ideia de manter os trabalhadores no mesmo lugar,
executando uma tarefa específica, ao observar uma “linha de desmontagem” nos matadouros de Chicago e Cincinnati, onde
os açougueiros retalhavam as carcaças que passavam diante deles penduradas em
ganchos.
Também não foi
dele a ideia de tornar as peças intercambiáveis, mas Ford foi o responsável
pela aplicação destes dois princípios em uma fábrica, transformando-a num sistema
complexo de processos de submontagem cada vez mais integrados. Ford estabeleceu
com seu carro recém planejado um novo recorde de velocidade terrestre (147
km/h), em uma exposição sobre o gelo do Lago Saint Clair, percorrendo uma milha
em 39,4 segundos.
Em 1914,
maravilhou o mundo com o que ele denominava de “wage motive” ([1]), passando a pagar cinco dólares por dia aos seus operários,
mais que duplicando o salário da maioria dos trabalhadores. O resultado foi que
os melhores profissionais de Detroit foram contratados pela Ford, aumentando a
produtividade e minimizando os custos de treinamento.
Aplicou, também,
o uso da integração vertical que também provou ser bem sucedida na gigantesca
fábrica da Ford, onde entravam matérias-primas e de onde saíam veículos
totalmente prontos. Ford produzia, na época, 1.200 automóveis por dia, e
empregava mais de cem mil operários em suas fábricas.
Exposição Industrial Ford
Em 1927, a
General Motors (GM) oferecia aos seus clientes carros com dezenas de
alternativas de cores e variadas opções de estofamento, ao passo que os carros
Ford só eram fabricados em verde, vermelho, azul e preto, ainda assim, um
número maior do que nos anos anteriores, quando Ford afirmava que seus clientes
poderiam ter os carros na cor que escolhessem, “desde que fosse preta”. Os usuários viviam uma época de
prosperidade e graças a um crédito acessível, tinham se tornado mais exigentes
e buscavam modelos mais luxuosos. Forçado pela competitividade, Ford decidiu
suspender a fabricação do Modelo “T”,
em maio de 1927, jogando todos os seus trunfos no modelo “A”, cujo primeiro carro foi montado em outubro do mesmo ano.
Era uma
tentativa de recuperar sua participação no mercado automobilístico. A Exposição
Industrial Ford, realizada em janeiro de 1927, no Madison Square Garden, atraiu
mais de um milhão de visitantes interessados em conhecer os diversos estilos do
novo Modelo “A”, disponível em vários
tipos de carrocerias e cores, e do “Lincoln
Touring Car” que Ford havia adquirido seis anos antes, com a intenção de
entrar para o mercado de carros de luxo sem ter a necessidade de reconfigurar
suas próprias fábricas.
O resultado
surpreendeu até mesmo aqueles que não acreditavam que a Ford conseguisse
superar a crise motivada pela concorrência com a GM. A exposição exerceu um
efeito catalisador que levou dez milhões de americanos a visitar as
concessionárias Ford locais e a encomendar 700 mil unidades do Modelo “A”.
No dia
09.01.1927, Henry Ford, acompanhado de seu amigo Thomas Edison e de seu filho
Edsel, passeava pela Exposição assediado por inúmeros jornalistas. Mais que uma
mostra de automóveis, a exposição pretendia fazer uma demonstração visual da
operação das indústrias Ford, desde as matérias primas até o produto acabado.
Ford anunciou, na oportunidade, que voaria até a Amazônia para inspecionar sua
nova plantação de seringueiras.
Cartelização da borracha
A indústria
automotiva dependia muito da borracha vulcanizada, pois usava o látex
processado não só nos pneus, mas também nas mangueiras, válvulas, gaxetas e
fios elétricos.
Setenta por
cento da borracha importada era utilizada somente para a produção de pneus e,
embora a quilometragem das estradas pavimentadas norte-americanas tivesse
aumentado significativamente depois da I Guerra Mundial, diminuindo o desgaste
dos pneus, e o aperfeiçoamento técnico na sua manufatura tenha aumentado a vida
média dos mesmos, para mais de seis vezes, a demanda havia saltado para cerca
de cinquenta milhões de unidades por ano.
O látex extraído
das seringueiras asiáticas era monopólio inglês que mantinha o preço da
borracha em alta, único insumo em que Ford não exercia qualquer controle e
pretendia alcançar a independência em relação aos fornecedores. Durante
décadas, as indústrias americanas haviam importado a borracha, sem grandes
problemas, das colônias europeias holandesas, francesas, e sobretudo
britânicas, do sudeste asiático. Quando os preços começaram a cair, em 1919,
Winston Churchill, Secretário de Estado para as Colônias, aprovou uma proposta
para regular a produção de borracha bruta a fim de assegurar que a oferta não
ultrapassasse a demanda. O aumento na demanda da indústria automotiva americana
pela borracha deu nova vida ao colonialismo europeu enfraquecido pela I Guerra
Mundial. A receita da borracha ajudou Londres, Paris e Amsterdã a manter suas
colônias e a pagar suas dívidas de guerra. O Secretário do Comércio Herbert
Hoover, que mais tarde seria Presidente dos EUA, alertou aos empresários
norte-americanos de que eles dependiam demais da “Europa Imperialista” e que poderiam ficar sujeitos a preços
abusivos caso os holandeses e franceses se aliassem ao Cartel proposto pelos
britânicos.
Em fevereiro de
1923, Firestone convocou, no Willard Hotel, em Washington, uma conferência
nacional de fabricantes de borracha, de veículos automotores e de acessórios.
Além de Henry Ford, compareceram mais de duzentos empresários do setor que não
se mostraram sensíveis às preocupações de Firestone e à sua ideia de criar a “American Cooperative Association” cujo
objetivo seria estabelecer plantações de seringueira na América Latina.
Outros esforços,
sem sucesso, foram tentados e, em 1926, Ford, que não era um homem habituado a
sociedades, resolveu produzir seu próprio látex, determinando a seu secretário
Ernest Liebold que descobrisse qual o melhor lugar para se cultivar a borracha.
As pesquisas de Liebold levaram-no a concluir que a Hevea deveria ser cultivada
na sua origem e isso significava na Amazônia. A escolha do Vale do Tapajós para
implantação do projeto levou em conta de que de lá tinham sido colhidas as
sementes pirateadas por Henry A. Wickham e a região ser considerada o berço das
melhores árvores da seringa do planeta. (Continua...)
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da Academia
Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXVIII
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