Quinta-feira, 27 de agosto de 2020 - 12h28
Bagé, 27.08.2020
Momentos
Transcendentais no Rio Amazonas I
Manaus, AM/ Santarém, PA ‒ Parte XIV
Belterra
Assim Edsel concordou com o pedido de Weir de
viajar ao Sudeste da Ásia, para Sumatra e Malásia, a fim de encontrar espécimes
garantidos. Weir partiu, em junho de 1933, e obteve rapidamente 2.046 troncos
enxertados de uma seleção garantida de árvores de alto rendimento. Embalados em
serragem esterilizada, eles deixaram Cingapura no fim de dezembro, cruzaram o
oceano Índico, passaram pelo Canal de Suez no início de 1934, atravessaram o
Mediterrâneo e o Atlântico e subiram o Amazonas. (GRANDIM).
Somente em 1932,
depois do fracasso da baixa produtividade em Fordlândia, a companhia decidiu
contratar um especialista no cultivo de borracha, o botânico James R. Weir, que
havia trabalhado na American Rubber Mission. James reportou, em seu relatório
inicial, uma série de omissões em aspectos elementares de gestão agrícola, e
sugeriu como medida de urgência a importação do Sudeste Asiático, de clones de
alta produtividade garantida. Weir sugeriu a troca da área de Fordlândia por
uma nova área, de 281 mil hectares, a 48 quilômetros de Santarém que, além de
permitir a navegação regular de navios de grande calado durante todo o ano, o
terreno era melhor drenado, mais ventilado e menos úmido – condições menos
favoráveis à propagação do “Mal-das-folhas”.
A localização
parecia perfeita e Ford denominou o local de “Bela Terra”, mais tarde conhecido como “Belterra”. Belterra era uma “Cidade
americana no coração da Amazônia”, com hospitais, escolas e casas de
madeira, no estilo americano. Ford havia aprendido com Fordlândia e, agora,
mesmo a Vila Americana onde residiam os altos funcionários foi construída de
madeira, as construções faraônicas que no projeto anterior abrigaram o
refeitório, a casa de força e fábrica, foram substituídas por instalações bem
mais modestas. A massa de operários que lá era recrutada dentre os ribeirinhos
não afeitos à rigidez do regime do trabalho e à disciplina impostos pelos
capatazes de Ford foi suprida, em grande parte, por trabalhadores braçais
oriundos do sertão nordestino, que fugiam da Grande Seca de 1929. Seis anos
depois de ter implantado a Fordlândia, a Companhia Ford tentava, novamente,
produzir borracha na Amazônia Brasileira.
Em 1934,
chegaram os 53 clones selecionados por Weir mas, apesar da melhor localização,
salubridade e seleção das mudas, o seringal também foi atacado pelo “Mal das Folhas”. Mas a utilização de
práticas de manejo, seleção de sementes, emprego de mudas mais resistentes,
enxertia de copa e controle com fungicidas, permitiram que o seringal passasse
a conviver com o Microcyclus. Belterra de 1938 a 1940 foi um dos maiores
produtores de seringa do mundo. Com o final da 2ª Guerra Mundial, e a
consequente importação da borracha do Sudeste Asiático, a grande incidência de
doenças nos seringais e, principalmente, a descoberta da borracha sintética
contribuíram para a decadência do projeto e a Companhia Ford “abandonou o sonho”.
A “Cidade americana” foi transformada,
então, em Estabelecimento Rural do Tapajós (ERT), sob a jurisdição do
Ministério da Agricultura e, somente em 1997, conseguiu sua emancipação.
Visita a Belterra (03.02.2011)
Agendamos uma
visita a Belterra onde fomos gentilmente recebidos pelo senhor Valdemar Sanches
da Silva, Chefe de Gabinete do Prefeito Geraldo Irineu Pastana de Oliveira.
Valdemar discorreu, com entusiasmo, sobre a história e os projetos que estão em
andamento na sua Cidade.
Diferente do
descaso e da omissão verificada pelos políticos de Aveiro em relação à
Fordlândia, a Prefeitura de Belterra partiu corajosamente na busca de parceiros
para recuperar seu patrimônio e sua história. Acompanhados pelo Chefe de Gabinete,
passeamos pela Cidade e conhecemos a oficina – que ainda utiliza máquinas da
década de 30, do século passado, recuperadas pelos zelosos funcionários da
Prefeitura.
Conhecemos a
Casa Um, a Vila Americana, a Vila Mensalista e a Vila Operária. Infelizmente
poucas são as casas que mantêm seus jardins bem cuidados como nos tempos áureos
da borracha e, infelizmente, todas exibem cercas em seus terrenos, cercas que
não existiam na época do Projeto de Ford.
Curiosamente, na
gigantesca Caixa D’água de metal ainda existe o mesmo apito que tocava e ainda
toca nas mesmas horas do longínquo pretérito em memória de um sonho americano
que não vingou.
A Casa Um, localizada na estrada 02, tem uma vista privilegiada
do Rio Tapajós, possui ampla varanda, grande salão e várias dependências. Existem,
ainda, no local, utensílios originais deixados pelos americanos. Esta casa foi
projetada para servir de residência a Henry Ford quando ele visitasse Belterra,
o que nunca aconteceu.
A Vila Americana era residência dos funcionários do primeiro
escalão da Companhia Ford. A Vila Mensalista era residência dos funcionários do
segundo escalão da Companhia que recebiam seus pagamentos mensalmente, daí a
origem do nome da Vila. As residências são menores que as da Vila Americana. A
Vila Operária era restrita aos funcionários do terceiro escalão, formada por
carpinteiros, mecânicos, motoristas e outros. Estes operários eram pagos
quinzenalmente. As casas eram bem mais simples e não possuíam varandas.
Passamos pelo Hospital, necrotério e encerramos nossa visita no Centro de
Memória de Belterra.
Visita ao Centro de Memória de
Belterra
Encontramos no
Centro de Memória o Professor Osenildo Maranhão, agente de atendimento, filho
de seringueiros da Companhia Ford que nos apresentou entusiasmado os projetos e
o acervo do Centro. A instalação servia, antigamente, de residência para os
médicos do “Hospital Henry Ford” e
foi o primeiro prédio histórico restaurado pelo Projeto “Muiraquitan Brasil”, fruto da parceria com o Instituto Butantan e a
OSCIP (Organização de Sociedade Civil de Interesse Público) Ama Brasil. O
Centro localiza-se na Vila Americana n° 108, Bosque das Seringueiras.
Pesquisadores
do Butantan, em conjunto com o IPHAN [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional], trabalham de forma intensa na reconstrução do acervo histórico desta
Cidade, e este Centro serve de apoio ao trabalho de pesquisa e possibilita o
acesso às informações para os moradores e estudantes da região.
(Otávio A. Mercadante – Diretor do Instituto Butantan)
O Centro, inaugurado em 01.05.2010, tem a missão de incentivar
e divulgar pesquisas sobre a história do Município, através de projetos e ações
educativas destinados à valorização do patrimônio e da memória local. Para atingir
esse objetivo, o Centro recolhe, cataloga, preserva e disponibiliza acervos
históricos adquiridos para consulta pública.
O Projeto é bastante amplo e pretende mudar, parcialmente, a
face da Cidade, fazendo-a retornar ao seu antigo visual. É uma missão árdua que
tem o Prefeito Pastana e seus colaboradores pela frente, mas que, certamente,
se for concretizada, trará muitos benefícios para seus moradores.
É um exemplo
louvável e que deve ser imitado por administradores de todos os níveis de
Governo e em todas as regiões do país. Um país que não cultua o seu passado,
que não valoriza suas origens, que não é capaz de aprender com os acertos e os
erros pretéritos certamente não merece, nem será capaz de empreender uma marcha
segura para o futuro.
Bibliografia
GRANDIM, Greg. Fordlândia:
Ascensão e Queda da Cidade Esquecida de Henry Ford na Selva – Brasil – Rio
de Janeiro, RJ – Editora Rocco, 2010.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXVIII
Bagé, 29.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.281, Rio, RJQuinta-feira, 21.02.1964 Em Primeira Mão(Hélio Fernande
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXVII
Bagé, 27.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.279, Rio, RJQuarta-feira, 19.02.1964 Em Primeira Mão(Hélio Fernande
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXVI
Bagé, 24.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.272, Rio, RJ Sábado e Domingo, 08 e 09.02.1964 Jango Atinge sua Maior M
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXV
Bagé, 22.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.268, Rio, RJ Terça-feira, 04.02.1964 Em Primeira Mão(Hélio Fernandes)