Segunda-feira, 31 de agosto de 2020 - 13h32
31.08.2020
Momentos Transcendentais no Rio Madeira
Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte II
CMPA – Homenagem
Especial - I
A descida nesta 4ª Fase do Projeto
Aventura Desafiando o Rio-Mar, pelos Rios Madeira e Amazonas, homenageia o
querido Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA), Colégio dos Presidentes, o
nosso Velho e querido Casarão da Várzea que comemora, em 2012, o seu
Centenário. Um Colégio que faz parte de um Sistema de Ensino que serve de
modelo em um país onde a educação não recebe a devida consideração por parte do
poder público.
Este preito ao CMPA é também um tributo
ao meu pai Cassiano Reis e Silva, meus dois irmãos Luiz Carlos Reis e Silva e
Carlos Henrique Reis e Silva e meus três filhos Vanessa Mota Reis e Silva,
Danielle Mota Reis e Silva e João Paulo Reis e Silva que tiveram a grata honra
e o privilégio de transitar, como alunos, as centenárias e tradicionais arcadas
do Velho Casarão da Várzea, modelar estabelecimento de ensino do nosso querido
Brasil.
Solicitei ao meu grande amigo e Ir:.
Coronel Leonardo Roberto Carvalho de Araújo que nos brindasse com uma síntese
histórica do melhor educandário do Rio Grande do Sul e um dos mais destacados
de todo o Brasil.
O Mano Araújo, além de ser o mais
credenciado Historiador do CMPA, desempenha as funções de Coordenador do Museu
Casarão da Várzea, Chefe do Projeto de Potencialização e Enriquecimento
(PROPEN) e Oficial de Comunicação Social.
CMPA – Síntese Histórica
O Colégio Militar de Porto Alegre [CMPA]
foi criado pelo Decreto n° 9.397, de 28.02.1912, sendo Presidente da República
o Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, e Ministro da Guerra o
General-de-Divisão Adolfo da Fontoura Menna Barreto. Seu aniversário é
comemorado em 22 de março, data em que aconteceu a primeira aula.
O portentoso prédio em que funciona faz
parte do patrimônio histórico da Cidade de Porto Alegre desde sua fundação em
1872. A bela arquitetura que o caracteriza, onde predomina o estilo
neoclássico, mudou a “fisionomia” da várzea onde foi construído, criando
um espaço onde questões ligadas ao ensino e à vida da Cidade, do Estado e do
Brasil foram intensamente vividas por aqueles que circulavam pelas arcadas do “Velho
Casarão da Várzea”.
Constituído, inicialmente, de um
quadrilátero térreo e cinco “castelos” de dois pisos, o prédio foi aumentado
de um piso em três fases distintas: 1914-1915, 1936-1937 e 1969-1970. As
estátuas de Marte/Ares [deus da guerra] e Minerva/Atena [deusa guerreira da
sabedoria], existentes no seu frontispício, são as maiores estátuas de adorno
de Porto Alegre e foram colocadas quando da primeira ampliação em 1914-1915.
O torreão existente sobre o Salão Nobre
do CMPA é chamado de torre-lanterna, ou simplesmente de lanterna, tendo sido
colocado para simbolizar “a lanterna do saber com que os antigos Mestres
conduziam seus discípulos pelas trevas da ignorância”. A iluminação
colocada em fins de 2006, ressaltando a lanterna, os deuses e a Bandeira Nacional,
tornou-se um espetáculo noturno na Cidade.
Várias instituições de ensino
funcionaram no edifício da atual Avenida José Bonifácio: a Escola Militar da
Província do RS [1883-1888], a Escola Militar do Rio Grande do Sul [1889-1898],
a Escola Preparatória e de Táctica [1898 e 1903-1905], a Escola de Guerra
[1906-1911], o Colégio Militar de Porto Alegre [1912-1938], a Escola
Preparatória de Porto Alegre [1939-1961] e, novamente, o Colégio Militar de
Porto Alegre, desde 1962.
É necessário esclarecer que as origens
da Escola Militar remontam ao ano de 1851, quando foi criado o Curso de
Infantaria e Cavalaria da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul.
Esta escola passou por várias
denominações e sedes provisórias, até se fixar no local então conhecido como
Várzea, Campos da Várzea, Várzea do Portão ou Potreiro da Várzea.
Durante essas várias fases, a
contribuição de alunos e professores à comunidade Rio-grandense foi intensa.
Dos primórdios da antiga Escola Militar até o ano de 1911, pode-se destacar a
atuação de várias personagens dessa instituição nas mais diferentes áreas.
Nas décadas de 70 e 80 do Século XIX,
alunos, professores e instrutores da Escola Militar, direta ou indiretamente
tiveram participação ativa em questões ligadas à Abolição da Escravatura e à
Proclamação da República.
Entre estes, mencionam-se os então
Marechal José Antônio Corrêa da Câmara [redator da Lei Áurea], Coronel Fernando
Setembrino de Carvalho, Coronel José Simeão de Oliveira, Coronel Dionísio Evangelista
de Castro Cerqueira, Tenente-Coronel Joaquim de Salles Torres Homem, Major
Ernesto Augusto da Cunha Mattos, Major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro e
Capitão Adolfo da Fontoura Menna Barreto.
Professores da Escola Militar como
Antônio Augusto de Arruda, Henrique Martins e Lannes de Lima Costa foram
precursores na publicação de livros didáticos de suas disciplinas, na década de
oitenta do século XIX.
Também na área da educação, é impossível
deixar de mencionar a relevante atuação do Capitão João José Pereira Parobé,
Professor da Escola Militar do RS. Além de ter sido Deputado Estadual e
Secretário de Obras do RS, esteve diretamente ligado à fundação da Escola de
Engenharia em 1896, precursora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
[UFRGS], onde foi diretor por dezessete anos. O Capitão Parobé também foi o
fundador do Colégio Júlio de Castilhos, da escola técnica que hoje leva seu
nome e de vários dos institutos da atual UFRGS. Por sua enorme colaboração para
a educação do Rio Grande do Sul, o Capitão Parobé constitui-se no maior
expoente gaúcho nessa área.
Da Escola Militar do RS também saíram,
em 1896, os cinco Tenentes Professores que fundaram a Escola de Engenharia. De
maneira semelhante, o primeiro Reitor da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul [PUC-RS] [anteriormente também Reitor da UFRGS], Armando
Pereira da Câmara, foi aluno do CMPA.
Ainda no campo da Educação, é lícito
ressaltar que a Escola Militar foi o primeiro curso de ensino superior do
Estado e que contribui de forma decisiva, através de seus fundadores e
primeiros professores, para a criação e a evolução da UFRGS.
Nos campos do tradicionalismo e da
etnografia, é notória a participação do Major João Cezimbra Jacques, Instrutor
da Escola Militar, idealizador e fundador do Grêmio Gaúcho em 1898, primeira
entidade destinada ao estudo e ao culto das tradições Rio-grandenses, motivo
pelo qual foi consagrado como Patrono do Tradicionalismo Gaúcho. Cezimbra
Jacques, autor de dezesseis livros que variaram entre a etnografia,
antropologia, política e linguística, produziu, ainda em 1883, a obra “Ensaio
sobre os Costumes do Rio Grande do Sul”, estudo pioneiro sobre o assunto e
base fundamental para aqueles que se dedicam a hoje estudar e pesquisar a etnografia
gaúcha.
É com orgulho, pois, que o Casarão da
Várzea reivindica ser o berço do Movimento Tradicionalista Gaúcho [MTG].
Para continuar o culto às tradições
gaúchas e honrar a memória do Major João Cezimbra Jacques, em 1985, sob a
inspiração do então Capitão e tradicionalista Ivo Benfatto, foi fundado o CTG
Potreiro da Várzea.
Também deve ser lembrado o 1° Tenente
Otávio Francisco da Rocha, outro aluno e Professor da Escola Militar que se
destacou na administração pública como Intendente de Porto Alegre, sendo dele
os primeiros trabalhos de urbanização do Parque Farroupilha.
Pelas centenárias arcadas do Velho
Casarão da Várzea transitaram, como alunos, oficiais ou praças, oito
Presidentes da República [João de Deus Menna Barreto, Getúlio Dornelles Vargas,
Eurico Gaspar Dutra, Humberto de Alencar Castello Branco, Arthur da Costa e
Silva, Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Baptista de Oliveira
Figueiredo], o que o fez ser alcunhado como “Colégio dos Presidentes”,
além de um Primeiro-Ministro [Francisco de Paula Brochado da Rocha], dois
Vice-Presidentes [Adalberto Pereira dos Santos e Antônio Hamilton Martins
Mourão].
Vários heróis militares brasileiros [Mal
Câmara, Gen Setembrino de Carvalho, Brig Nero Moura, Mal José Pessoa, Mal
Bittencourt, Cel Plácido de Castro, Mal Mascarenhas de Morais, Gen Góes
Monteiro, Mal João N. M. Mallet, Gen Paula
Cidade, Brig Gomes Jardim, Mal Valentim Benício, Mal. Mário Travassos e outros],
vários Ministros, Governadores e ocupantes de outros altos cargos políticos, um
elevado número de Oficiais-generais e outros militares de destaque, eminências
da vida civil em todos os campos do conhecimento, como o poeta Mário Quintana,
o artista plástico Vasco Prado, o escritor e advogado Darcy Pereira de
Azambuja, os ex-Reitores da UFRGS Armando Pereira da Câmara e José Carlos
Ferraz Hennemann, o Presidente da Intel/Brasil Oscar Vaz Clarke, entre outras
destacadas personalidades do cenário nacional e internacional.
Foi igualmente importante a contribuição
da Escola Militar na vida cultural da Cidade, por intermédio da circulação de
revistas e pequenos jornais de estudantes, como “A Luz”, “Ocidente”,
“A Cruzada” e, a mais importante delas, a “Hyloea” [ou Hileia].
É relevante ressaltar que a primeira
publicação das poesias de Mário Quintana e das gravuras de Vasco Prado foi
feita nas páginas da Revista Hyloea, em 1922 e 1933, respectivamente. A Hyloea
– Revista Literária fundada em 1922 pelos alunos integrantes da então Sociedade
Cívica e Literária – é até hoje publicada pelo CMPA.
Além de estar vinculado umbilicalmente à
fundação da UFRGS e do culto às tradições gaúchas, o Casarão da Várzea tem seu
nome ligado também ao nascimento do futebol e do ensino esportivo no Rio Grande
do Sul. Em 1910, quando da criação da Liga de Futebol de Porto Alegre, o
primeiro campeão da Cidade foi o “Militar Foot Ball Club”, time dos
alunos da Escola de Guerra, então sediada no Casarão da Várzea. Foi contra este
mesmo time que o Sport Club Internacional obteve sua primeira vitória em 1909.
Extinto em 1913, os jogadores do Militar foram ajudar a fundar o Esporte Clube
Cruzeiro. Este clube foi campeão da Cidade em 1918, 1921 e 1929 [quando obteve
também seu único título gaúcho, jogando com um time misto, composto por alunos
da UFRGS e do CMPA].
O Estádio Ramiro Souto, hoje situado no
lado Norte do Parque Farroupilha, foi construído em 1936 pelo CMPA,
aproveitando instalações da Exposição Farroupilha de 1935.
Esse estádio, com capacidade para cinco
mil pessoas sentadas, era considerado o maior do RS e se situava onde está hoje
o Monumento à Força Expedicionária Brasileira, dispondo inclusive de piscina
para natação [atual Lago retangular]. Ainda no campo esportivo, já na década de
40, o Capitão Olavo Amaro da Silveira, instrutor da Escola Preparatória de
Cadetes, junto com outros oficiais e civis, fundava a entidade que é hoje a
Escola de Educação Física da UFRGS, tornando-se seu primeiro Diretor.
Outro fato que o distingue pelo
pioneirismo educacional no Estado é o de, entre 1915 – ano em que a primeira
turma de alunos se formou – e 1938 – quando foi transformado em Escola
Preparatória de Cadetes – seus formandos receberem também o diploma de “Agrimensor”,
já saindo com uma profissão definida. Assim, o CMPA antecipou-se em mais de
meio século à introdução do ensino profissionalizante na educação básica do
Estado.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXVIII
Bagé, 29.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.281, Rio, RJQuinta-feira, 21.02.1964 Em Primeira Mão(Hélio Fernande
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXVII
Bagé, 27.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.279, Rio, RJQuarta-feira, 19.02.1964 Em Primeira Mão(Hélio Fernande
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXVI
Bagé, 24.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.272, Rio, RJ Sábado e Domingo, 08 e 09.02.1964 Jango Atinge sua Maior M
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXV
Bagé, 22.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.268, Rio, RJ Terça-feira, 04.02.1964 Em Primeira Mão(Hélio Fernandes)