Domingo, 27 de janeiro de 2008 - 20h31
Manoel Francisco das Chagas Neto, ex-deputado federal constituinte, ex-secretário de obras no governo Jerônimo Santana, cearense de Sobral (Ceará) e atual presidente do SINDUSCON (Sindicato da indústria da construção civil do Estado de Rondônia), um dos maiores construtores, individual, de casas em Rondônia, concedeu entrevista ao programa Sala Vip, apresentado pelo jornalista Léo Ladeia na rádio Vitória Régia FM (104,5). confira abaixo:
LÉO LADEIA - Chagas Neto, você sempre esteve presente na política rondoniense e em especial na vida política de Porto Velho. Segundo Léo Ladeia Chagas Neto é daquelas figuras que ele sempre quis entrevistar.
CHAGAS NETO – Primeiro gostaria de agradecer a generosidade da sua preleção a respeito da minha pessoa, eu acho que é mais boa vontade sua do que propriamente dos fatos. Sou apenas um pioneiro, chegamos aqui antes do estado ser criado e trabalhamos em nosso ramo empresarial que é de construir casas. Realmente construímos muitos conjuntos, e isto nos dá certa honra em ter participado nesse setor tão vital para o crescimento ordenado da capital do Estado de Rondônia.
LÉO LADEIA - Chagas, você chegou aqui em Rondônia quando? Então não era Estado ainda?
CHAGAS NETO – Cheguei aqui em Rondônia, em abril de 1980 e o estado teve a promulgação da sua criação em 4 de janeiro de 1982. Portanto, dois anos antes da criação do estado eu já estava em Rondônia.
LÉO LADEIA – Você já fazia política antes, ou participou da criação do estado?
CHAGAS NETO – Sou de origem interiorana no Ceará, mas morava em Fortaleza e lá eu já fazia política. Fui presidente da Arena em Sobral e, para muito orgulho nosso, o início da carreira política do famoso candidato a presidente da República CIRO GOMES começou na minha facção política, junto com a família dele, nós nos lançamos a deputado estadual, na ocasião ele não foi nem eleito, mas sempre foi um homem de muita sorte e competência, então fazíamos política no Ceará. Eu inclusive deveria em 1982 - se não tivesse me mudado para Rondônia – ser candidato a deputado federal pelo estado do Ceará, mas chegando aqui em Porto Velho fiquei acompanhando, meio eqüidistante, a política. Aí comecei a fazer comércio de casa e isso tornou quase uma ação popular, porque aqui existia uma carência de moradia, não tinha onde morar, quase como está acontecendo hoje, e com isso fui tornando-me conhecido e acabei saindo candidato a deputado federal em 1986 onde obtive 18.600 votos e naquela ocasião fui o terceiro deputado mais votado.
LÉO LADEIA – Naquela época você era Arena?
CHAGAS NETO – Não. Aqui eu fiquei sem partido por alguns anos, depois me filiei ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro e fui eleito deputado federal pelo PMDB, a convite (com muito orgulho) do deputado e vice-governador Orestes Muniz (foto), foi ele que me trouxe para a política do Estado de Rondônia, me fez filiado ao PMDB e, de sobremaneira, me ajudou muito na minha eleição.
LÉO LADEIA – Eu queria saber mais da criação do estado. Sabemos, por exemplo, das dificuldades que o estado enfrentava: carência de toda ordem, a forma de fazer política e de fazer o estado. Na época era o estilo da ditadura, e ainda tinha aqui a figura emblemática chamada Jorge Teixeira de Oliveira que é o responsável por tudo aquilo que aconteceu e, posteriormente, a figura de Jerônimo Garcia de Santana e Orestes Muniz. Eu queria que você contasse desse momento da sua vida.
CHAGAS NETO - Muito bem, esse momento antecede um pouco ao governo Jorge Teixeira. O governo revolucionário decidiu criar três estados que eram anteriormente territórios, e Rondônia foi um deles. Inclusive não foi no governo Jorge Teixeira, foi no governo Guedes, que antecedeu o Teixeira. O Governador Guedes (foto) implantou a estrutura necessária para criação do estado, inclusive foi Guedes quem criou os municípios de Ji-Paraná, Pimenta Bueno, Vilhena e, salvo engano, Jaru e Ouro Preto, tudo naquele momento e, quando Jorge Teixeira chegou, a estrutura já existia. Não tenha a menor dúvida que o Teixeirão foi um grande homem e tocador de obras. Mas nós não podemos esquecer as atividades do governador Guedes que veio com a missão de criar as bases para o futuro estado. Jorge Teixeira implementou Rondônia durante os seis anos em que ele comandou o estado.
Em 1982 Jerônimo foi candidato a senador contra os três candidatos da situação - apoiados pelo governo revolucionário - que era Odacir Soares, Galvão Modesto e Roriz - então presidente da arena - mas que antes era presidente do PMDB. Jorge Teixeira, com toda sua sabedoria, trouxe o presidente do PMDB para ser o presidente da Arena e ganhou praticamente três senadores a mais na sua bancada, pois ele estava com problemas no senado federal, tanto que, logo em seguida foram criados os senadores biônicos.
Em 1985 tivemos o ex-deputado federal Jerônimo Santana (PMDB) eleito como primeiro prefeito eleito da capital, mas com a certeza que renunciaria para sair candidato a governo, essa era a sua grande meta. Assumiu então como prefeito, o vice-prefeito e ex-deputado estadual Tómas Correia (PMDB).
Em 1986 tivemos a eleição do primeiro governador eleito do estado de Rondônia, inclusive com a minha eleição para deputado federal.
LÉO LADEIA – Bem, eu cheguei aqui, no final da administração Jerônimo Santana, em novembro de 1990, e já estavam em disputa Osvaldo Piana (PTR), Valdir Raupp (PRN), o falecido Olavo Pires (PTB) e Orestes Muniz (PMDB) disputando o governo do estado. Percebi que o governo Jerônimo - que todo mundo falava bem nos três primeiros anos - no último ano foi um desastre. Uma pena, porque isso acabou impactando toda a sua vida política e de muita gente que estava com ele.
CHAGAS NETO – Sem dúvida nenhuma, inclusive eu comparo o governo do Jerônimo Santana nos primeiros três anos com o governo Jorge Teixeira, Jerônimo fez tantas obras quanto o Teixeirão. Só que realmente no último ano do governo Jerônimo Santana, ele descontrolou totalmente e passou a governar, ele e a família, deixando de lado todos os amigos. Sou amigo dele, mas tenho que contar a história. Hoje ele está com problemas de saúde, mas ele não soube, politicamente, terminar o governo dele, ele o fez de modo melancólico e daí pra frente não conseguiu se eleger prá mais nada.
LÉO LADEIA– Pra você que é construtor, Jerônimo fez todo o prédio, mas na hora de colocar as portas ele falhou.
CHAGAS NETO– Ele falhou. Não vou dizer que foi por despreparo, porque Jerônimo, sem dúvida nenhuma é, dos políticos que passaram por aqui, um dos mais preparados que nós tivemos.
LÉO LADEIA – Aliás, continua sendo até hoje. Eu tenho lido as críticas que ele faz ao governo, a estrutura do pensamento dele é muito preparada.
CHAGAS NETO - É notável, acho que poucos políticos daqui do norte conhecem tanto o norte do país como o ex-governador Jerônimo Santana, ele tem muita sabedoria, muita leitura, de muito preparo, mas ele tem um defeito que não o levou a liderar um grupo político, ele lia muito, não sei se ainda lê hoje, os livros do Império Romano, você sabe que os imperadores gostavam de fazer a desunião dos seus assessores para poder governar, então o Jerônimo tentava intrigar os assessores, uns contra outros, pra que ele pudesse governar e reinar, talvez ele achasse que poderia ficar incapaz com alguém fazendo sombra. Isso fez com que ele desarmonizasse toda estrutura política que ele montou ao longo dos doze anos, e quando chegou o final do seu governo, não quis deixar sucessores. É tanto, que poderia sair do governo seis meses antes e ser senador eleito sem a menor dúvida, talvez ele fosse um candidato imbatível ao senado, mas por ganância de querer continuar governando mais seis meses o estado, saiu sem mandato e isso foi o grande desastre da sua carreira.
LÉO LADEIA – E aqui em Porto Velho, sem mandato é muito difícil?
CHAGAS NETO – É difícil se manter na política, com respeito e credibilidade, sem que você tenha um mandato, as pessoas são sempre alijadas do processo, quer seja de vereador, senador, qualquer que seja o mandato sempre representa a classe política.
LÉO LADEIA – Nós tivemos logo depois do governo Jerônimo Santana dois governadores, um daqui de Porto Velho, e logo depois Valdir Raupp, o seu antagônico direto. Nós temos déficits (não em termos de dinheiro, mas em realizações sociais) que foram provocados por esses dois governadores. Osvaldo Piana, na minha visão jornalística foi a grande surpresa. Eu esperava muito de uma pessoa daqui da terra e pra mim foi uma tragédia, foi um governo que pouco fez. Temos por exemplo o Linhão e o Planafloro que foi um trabalho do governo Piana, dois momentos fortes do seu governo, mas de uma forma geral eu esperava muito para a capital e ele tinha naquela época um grande amigo, que era o prefeito da capital Chiquilito Erse, então Porto Velho deveria ter crescido muito naquela época, mas sofreu. Outra coisa é que, logo depois do governo Piana, nós pegamos o Raupp que também tem déficits enormes em termos de governança. Eu pergunto: tudo isso teve impacto com o governo Jerônimo Santana?
CHAGAS NETO – O Governador Osvaldo Piana era um deputado estadual, tinha uma boa posição na Assembléia Legislativa, era um líder do Parlamento Estadual, líder do PDS (Partido Democrático Social), tinha uma ligação política perfeita com o atual prefeito de ji-Paraná José de Abreu Bianco, e também com então deputado estadual Silvernani Santos. Cito isso pra dizer que, Piana ao lançar-se candidato a governador do estado, ele o fez praticamente com a cara e a coragem, pois ele tinha o apoio de Bianco em Ji-Paraná, em Jarú de Silvernani e mais uma meia dúzia de deputados sem muita expressão, foi na coragem mesmo, e fez um feito notável, chegou muito próximo dos dois favoritos, que na ocasião era o Olavo Pires o franco favorito e em segundo lugar o Valdir Raupp que vinha de um trabalho brilhante como secretário do DER no governo Jerônimo Santana, e também como vereador de Cacoal e de um mandato de prefeito em Rolim de Moura. Mas Osvaldo Piana (foto) teve um feito notável, com uma diferença talvez de cinco mil votos para o primeiro lugar que era Olavo e uns três mil para o segundo lugar que foi o Raupp. Aí houve aquele episódio do assassinato do Olavo Pires e constitucionalmente ele foi convocado a assumir a vaga deixada pelo falecido Olavo Pires. Então a estrutura de campanha do Piana fez o seguinte: o governo Jerônimo no último ano - época da eleição - estava uma tragédia, então quem falasse mal do Jerônimo ou se vinculasse a ele se arrasava. Então a estrutura de campanha do Piana vinculou Raupp por ter sido secretário de Jerônimo e por ter sido do PMDB. Então pegaram uma entrevista do Jerônimo em que ele dizia: “O MEU CANDIDATO AO GOVERNO É VALDIR RAUPP DE MATOS” e Piana, astutamente, ficou jogando isso na televisão dez, quinze vezes por dia e esse vínculo (Raupp X Jerônimo Santana) fez com que Piana ganhasse o governo do estado.
LÉO LADEIA – Arte do Toca (Antônio Barnabé) ?
CHAGAS NETO – Talvez o Toca tenha idealizado tudo isso, mas isso sem dúvida nenhuma deu a vitória ao Piana, pois o Raupp já estava bem situado para ser o governador. Naquele momento o Piana não estava altura da estrutura que o Raupp tinha no interior do estado. Pois bem, Osvaldo Piana ganhou eleição, mas não estava preparado para ser o governador do Estado. Ele como presidente da Assembléia conduzia muito bem, mas o estado surgiu muito rapidamente e ele não se estruturou com um secretariado a altura, ele procurou fazer a sua assessoria mais com amigos e tentou levar o governo desse jeito. Mas acho que ele fez, apesar de tudo, um bom governo, as críticas por ele ter sido filho de Rondônia, mas o momento não era propício, o país não vivia um bom momento econômico. Eu tenho certeza que hoje o governo deve arrecadar três vezes mais (mesmo nivelando a moeda), do que arrecadava o governo Piana naquela época.
LÉO LADEIA – Naquela época nós tínhamos aqui um milhão e meio de cabeças de gado no estado, hoje nós temos doze milhões, nós tínhamos uma população da capital de novecentos mil, hoje nós temos mais de um milhão e trezentos mil.
CHAGAS NETO – Você sabe que passou de um milhão de habitantes o FPE vai lá pra cima, não da prá fazer comparação. Então eu não faço crítica ao governo Piana como muitos fazem, acho que ele fez um governo possível, poderia ter feito melhor se ele tivesse arranjado melhores assessores e não uma meia dúzia de amigos, embora alguns competentes, pra mim foi um governo razoável. Quanto ao governo Raupp, que já vinha com experiência de uma derrota de governo, havia sido secretário de estado, prefeito de Rolim de Moura, vereador, presidente de partido, acho que o governo dele pecou também pelo aspecto do regionalismo, ele trouxe praticamente Rolim de moura pra dentro do governo para governar, a grande maioria familiares, mas mesmo assim tirando alguns problemas que aconteceram e que hoje estão sendo resolvidos, como o caso Beron, graças ao trabalho dele próprio, do senador Expedito Jr. e do governador Cassol. Esse problema do Beron, hoje nós sabemos o quanto aqueles interventores foram desonestos e safados ao administrarem bens do estado, isso foi um dos problemas que Raupp teve e, por último, ao final de seu governo ele não conseguia mais pagar as folhas de pagamento, atrasou três, cinco meses, em face de uma expectativa criada pelo governo federal de comprar a Ceron - que depois foi federalizada - de comprar ativos da COHAB e com isso ele esperava receber esses recursos e naquele momento era preponderante para a sua reeleição, mas ele também fez um bom governo.
LÉO LADEIA – Nós citamos Bianco e eu quero fazer um referencial aqui. Ele preparou a base para o crescimento que o estado tem hoje. Pegou o estado sem o banco, folha de pagamento atrasada, deu a volta por cima e repetiu agora em Ji-Paraná.
CHAGAS NETO - Bianco é um grande líder político, um grande administrador, comprovou isso quando foi prefeito pela primeira vez em Ji-Paraná, quando foi governador e agora prefeito. O que ele fez aqui no estado o que o Presidente Campos Sales fez no começo do século XX para o nosso País, ele reorganizou a nossa economia, ele não quis fazer obras faraônicas.
Mas eu gostaria de ressaltar, agora falando do momento atual, também o trabalho que o prefeito Roberto Sobrinho está implementando na nossa capital. Nós, como presidente do SINDUSCOM, somos peça ativa desse processo, pois estamos sempre reunidos, discutindo projetos e sentimos o quanto o prefeito, com apóio do Presidente Lula, está organizando a nossa capital. Só na minha área, por exemplo, que é construção de casas populares que você acabou de elogiar, o prefeito estará lançando, nesses próximos dois a três meses, quatro mil unidades habitacionais e parte delas para serem doadas à população carente num trabalho do PAC. Mas também há contra-partida do município e principalmente boa vontade do prefeito e firme posição dele em beneficiar essas pessoas que não tem moradia, e mais um programa para asfaltar mais de 50 Km de ruas inclusive com saneamento básico. E não poderíamos deixar de elogiar a ministra Dilma, porque com esse programa PAC ela conseguiu dar um rumo ao governo Lula, esse programa é um programa espetacular e inteligentemente ela usa isso tudo sem recursos da união, é quase nada do dinheiro do governo, ela pega dinheiro das prefeituras e dos estados e manda o BNDES emprestar dinheiro para as prefeituras e estados, o recurso do tesouro é só um terço, que o estado contraiu com aval da união para pagar em trinta anos. Porto Velho foi a capital do Brasil - olhe que tem Rio de Janeiro e São Paulo - que mais será beneficiada pelo PAC, isso graças ao prefeito e ao governador Ivo Cassol que também ofereceu a contra-partida necessária. Agora é evidente que nós temos que louvar também a criação das Usinas, porque tudo isso é um embasamento da infra-estrutura que nós precisamos criar para receber este crescimento que vai advir com a construção das hidrelétricas.
LÉO LADEIA – O nosso tempo está no fim, mas eu quero fazer uma proposta a você, a primeira conversar com você de novo, e a segunda é uma coisa que você disse que tem vontade de fazer, que eu quero tornar público aqui, é contar os 25 anos de Rondônia num livro.
CHAGAS NETO – Vamos fazer a primeira, porque prazerosamente estou aqui conversando com uma pessoa inteligente, culta e conhecedora dos nossos problemas, além de ser curioso, o importante para as pessoas que chegam aqui e querem conhecer a história é porque gostam da nossa história. Quem não gosta está se preparando para ganhar um dinheiro e ir embora. Agora, um livro, esta é uma coisa que está no meu projeto, contando principalmente as histórias de bastidores que muitos não conhecem, e modéstia a parte nos últimos 25 anos, eu participei do processo sucessório do nosso estado que vem desde 1982, quando houve a eleição dos nossos três senadores Galvão, o presidente Roriz e Odacir. Eu tenho muita história pra contar.
LÉO LADEIA – Obrigado Chagas Neto, têm entrevistas que nós fazemos aqui que são prazerosas outras são honrosas, essa aqui foi prazerosa, honrosa e histórica. Mais uma vez, obrigado!
Fonte: Gentedeopinião com informações do jornalista Léo Ladeia.
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