Segunda-feira, 7 de novembro de 2011 - 21h43
Há algum tempo duas atitudes covardes e não planejadas do estado, acabaram por fortalecer e praticamente dar o norte para a implantação do crime organizado no Brasil. O modelo bem simples surgiu no Rio de Janeiro, aos poucos foi sendo adotado por outros estados e consiste em primeiro segregar e depois deixar que a natureza opere. Os pobres, miseráveis e os carentes de qualquer coisa foram empurrados para uma comunidade que nada mais é que o termo genérico para periferia, gueto, favela, conjunto habitacional, morro, ponte e viaduto. Feito isso, lá foram deixados para sobreviver com o pouco que o estado deu como se fosse um favor e a partir daí foram-se virando como podiam, criando teias e liames. O lobo do próprio homem na pele do bicheiro ou como preferiam ser chamados, os empresários de jogos zoológicos, viram o espaço vazio, foram-se chegando e logo já eram “donos do morro”, com áreas geográficas previamente demarcadas e mantidas “a ferro e fogo” e por um código de honra de bandidos, mas fazendo as vezes do estado cada dia mais ausente.
Numa comunidade, morro, ou seja lá o nome que se dê, não há quem não goste e admire aquele que traz dinheiro, comida, diversão e remédio, ainda que isso implique na contraprestação de favores que levam o beneficiário à contravenção ou ao crime? Mas, o que é isso para o desesperançado e que nem conhece um outro lado possível? Assim era a vida nos morros da Cidade Maravilhosa.
Num dado momento o estado através das decisões da juíza Denise Frossard apertou o pescoço do dono do morro e secou sua fonte, o jogo do bicho. Mas sem estratégia, não entrou e se fixou na comunidade e, como não há vácuo de poder, o dono do morro e o desorganizado jogo do bicho foram substituídos pelo traficante, pelo miliciano, pela policia corrupta e surgiu um tipo novo de dono de morro, que se não é organizado, pelo menos possui a estrutura empresarial e movimento financeiro superior ás grandes corporações que pagam impostos e vivem na legalidade. Era o fim de uma era e começo de outra. E sem o estado.
No fim de semana um cameraman de uma rede de TV que cobria mais uma das batalhas da guerra nossa de cada dia, morreu no meio do tiroteio com um tiro de fuzil que perpassou o seu colete salvavidas. A morte de jornalistas que cobrem conflitos não é comum nem mesmo em áreas conflagradas, o que nos leva a uma constatação: há algo bem maior que escaramuças entre bandidos e polícia no Rio de Janeiro. Ouso dizer que a coisa é bem mais profunda ou como diria um velho bicheiro carioca, “o buraco é mais embaixo”.
Mas, deixemos o Rio e voltemos a Porto Velho. Por aqui, como aliás, na maior parte das cidades brasileiras, as manchas criminais estão mapeadas, as bocas de fumo também e nossos pobres, miseráveis e carentes já foram segregados. É a primeira parte do dever de casa cumprida. A outra parte vem na sequencia já está acontecendo. A violência já saiu do gueto e se espalhou pela cidade, policiais entram em conflito até entre si e o comandante maior, o governador, desabafa de público e diz que isso demonstra claramente o despreparo mútuo entre as duas organizações. Ainda não é o estado desorganizado e ausente mas, já é um bom começo.
Em algum lugar aqui por perto um ovo está sendo cuidadosamente chocado por uma serpente, longe dos nossos olhos mas, esperando a hora certa para eclodir. Possivelmente em alguma favela, gueto, ou que outro nome se queira dar a uma comunidade de Porto Velho.
Acorda Rondônia.