Sexta-feira, 28 de outubro de 2011 - 20h25
Bem diferente da pobre alma que ainda se vê encarnada, a Presidente Dilma nem se dá ao cuidado de mostrar um ricto de dor ou mesmo a face crispada a cada vez que um ministro se espatifa na lama. Foi assim desde Palloci até o mais novo enxovalhado do pocilga, o indestrutível ministro Orlando Silva, que cumpriu com esmero artístico, o seu papel na ópera bufa em 5 atos: denúncia, negação, evisceração, oitiva e decapitação. Um espetáculo como ocorreu todas as outras vezes.
Analisando o ritual que se repete, chego a imaginar se não haveria uma espécie de prazer sádico escondido nas entranhas da alma da nossa afável presidenta, levando a extremos a permanência e sofrimentos do combalido ser, sangrando em praça pública, mas de pronto rechaço a idéia. À mãe do PAC e do povo não cabe tal opróbrio. Ocultar a dor é parte do ritual do poder tanto quanto ocultar os conselhos de almas penadas, encagaçados, patifes e medrosos, vez que cada partido tem suas ONG’s, prestações de contas, ministros, PM’s, auxiliares e, por conta disso, um baita telhado de vidro.
Mas, voltemos à presidente. Se existe um ponto positivo é exatamente este: Dilma não faz cafuné em cabeça de malfeitor. O ponto negativo é que até agora ela foi completamente reativa e se deixou pautar, ora a sua primeira ação que seria a defenestração imediata, método de maior impacto e que agrada muito ao povão. Em menos de um ano Dilma promoveu uma mini reforma determinada pelas estripulias de ministros indicados pelo “enfant terrible”, e seu conselheiro informal, Luzinácio. Do jeito certo ou errado, demorado ou não, Dilma conquistou o respeito e simpatia do eleitor quando brandiu o facão e botou para correr meia de indivíduos que não se mostraram à altura do cargo de ministros de estado, porém criou uma reserva enorme na base aliada de seu governo que a enxerga com o mesmo olhar que a onça destina ao caçador e à espingarda.
A presidente Dilma mantém seu estilo esfinge e amplia o escore para seis a zero contra partidos, políticos, aliados ou não, ao tempo em que propõe um enigma e deixa antever que reforma daqui para a frente só no próximo, salvo – que dureza – se um caso fortuito, uma exceção ou uma outra denúncia balançar os alicerces de um ministérios que não sejam o das Cidades e o do Trabalho, cujos zumbis, ou melhor ministros, já estão previamente escorados para evitar que caiam de chofre, antes da hora aprazada.
Nessa história toda só há uma coisa que me causa estranheza e que se repete a cada caso de expurgo de ministro acusado de corrupção: a presidente Dilma manteve o ministério nas mãos dos partidos que tiveram os ministros afastados. Sem outra explicação posso apenas supor que a influência daquele que se nega a desencarnar ou se transportar para outro plano é maior do que se imagina ou a manutenção é mais um castigo público, uma pista ou o mote para a charada: “decifra-me ou devoro-te”.