Quarta-feira, 21 de janeiro de 2015 - 18h59
JORNAL O GLOBO
Marisa Von Bülow
O objetivo desses agressores da Internet não é debater ideias, mas simplesmente caluniar, intimidar, entristecer
O tema da baixa qualidade e da alta temperatura dos debates na Internet me mobiliza desde a primeira colunapublicada neste blog, que conclamava a usar o potencial do mundo digital para construir cidadania e não para disseminar o ódio e a intolerância.
Mas está difícil alcançar esse objetivo... que o digam as administradoras de páginas que denunciam o assédio sexual das mulheres, as quais, pelo seu ativismo, acabam sendo elas próprias alvo das agressões que tentam combater.
Um bom exemplo é o das estudantes de ciência política da Universidade de Brasília, que no ano passado criaram a página “Fiu Fiu-UnB” no Facebook. A página recebe relatos de agressão e assédio sexual. Além disso, debate e divulga iniciativas de combate à violência contra as mulheres. Ao longo do ano passado recebeu quase 200 relatos de mulheres que sofreram todo tipo de humilhação e trauma. Seu objetivo é criar uma política na Universidade que permita proteger as mulheres.
O triste e frustrante é que, quanto mais o trabalho da Fiu Fiu-UnB ganha visibilidade, mais as administradoras da página tornam-se vulneráveis a ataques pessoais, ameaças e questionamentos extremamente ofensivos. Elas não são as únicas, infelizmente. A editora da página feministssa.com, Jennifer Thorpe, conta que no ano passado seus dados pessoais foram parar no Twitter e os internautas foram convidados a enviar mensagens dizendo “o que gostariam de fazer com ela”.
O objetivo desses agressores da Internet não é debater ideias, mas simplesmente caluniar, intimidar, entristecer.
A Solidariedade e as Redes Sociais Virtuais
Apesar disso, as vozes dos movimentos de defesa dos direitos das mulheres (em toda a sua heterogeneidade, daí o plural) estão cada vez mais fortes nas redes sociais virtuais. Talvez porque as páginas, fóruns e listas criados cumpram um papel único, que tem chamado a atenção dos estudiosos da Internet: o de criar comunidades virtuais, nas quais é possível construir vínculos de confiança e de solidariedade entre pessoas que pensam de maneira similar, ou que têm histórias de vida parecidas. Mesmo que nunca tenham se encontrado pessoalmente. Aliás, justamente por isso. Dificilmente essas pessoas conseguiriam se achar sem as facilidades do mundo digital.
Usufruir dessas facilidades de comunicação e de encontro e ao mesmo tempo excluir todas as manifestações de intolerância talvez seja uma missão impossível. Enquanto não tivermos formas legais eficientes que impeçam que as pessoas usem seus teclados impunemente, é preciso tomar alguns cuidados com a disseminação de informações pessoais. Sem com isso, é claro, limitar o debate contencioso e saudável de ideias.
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