Sexta-feira, 3 de setembro de 2021 - 09h14
Enquanto assistimos as bravatas de alguns detentores
de mandatos que são concedidos – acreditem! – pelo povo através do voto livre,
ainda que obrigatório, ou de mandatários escolhidos a partir da representação
que também é dada pelo povo aos seus representantes, suas excelências
parlamentares das muitas e diversas casas legislativas espalhadas pelo país e que
de uma só canetada, conchavo, ou do toma-lá-dá-cá transformam alguns homens,
cidadãos comuns em autoridades investidas em cargos específicos no mais alto
escalão como os ministros de estados, secretários, magistrados de altas cortes
e tribunais de contas, a vaca brazuca, continua indo para o brejo com pompas e
circunstâncias. É que a partir de suas investiduras estas novíssimas
autoridades constituídas passam a agir como deuses, semideuses usando
características divinas da onisciência e onipresença e transformando a vida de
todos os outros cidadãos, legítimos donos do poder num verdadeiro inferno. A
cada pronunciamento, e lá se vai um naco do poder originário do povo. A cada
canetada e o direito de ir e vir ou de exprimir-se também se vai e a boiada,
como diria um desses magnânimos, o Ricardo Salles vai passando deixando o
rastro e odor característicos que a boiada sempre deixa ao passar.
Donos do fazer e do não fazer, do permitir e
do proibir, cidadãos togados passaram sete longos anos apurando a montanha de
papeis que formam o processo contra outra figura destas citadas, Aécio Neves,
representante de Minas Gerais, acusado de ter recebido um mimo de R$ 21 milhões
da Odebrecht, uma das financiadoras de campanhas políticas. Depois de sete anos
gastando uma nota preta para tocar o processo contra Aécio e ele gastando outra
nota para se defender usando os recursos que a permissiva lei brasileira
permite a justiça brazuca se deu por vencida e o cidadão Aécio Neves que à época
do recebimento do suposto mimo disputava a Presidência da República está em paz
com Deus, todos os santos, com os homens e a sociedade. Cá para nós, em
qualquer país sério, Aécio seria indenizado pelo mal e pelo constrangimento que
passou. Seu processo foi para as calendas, ou se preferem, para a “casa do
crica”, esta semana e onde me foi dado a conhecer, Aécio está feliz com o
resultado e não deve questionar nada mais sobre o que passou ou gastou nestes
sete anos. E não me perguntem o porquê. Quanto ao ministro que bateu o último
prego e fechou o caixão do processo anotou como se fora uma certidão de óbito processual
no seu relatório final e irrecorrível que a “causa mortis” não foi covid,
barriga inchada, nó nas tripas ou decurso de prazo e sim “fragilidades
probatórias”.
A ordem para que se promovessem as exéquias
sem missa de corpo presente saiu da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal e
a certidão de óbito foi assinada pelo Ministro Gilmar Mendes, com o endosso de
mais três ministros, sendo que dois deles queriam deixar o Aécio no balão de
oxigênio enviando o processo para o TSE ou para a primeira instância da Justiça
Federal. Sobre o tema, cito uma observação do jornalista Josias de Souza que
nos remete à operação lava jato: “no curto intervalo histórico que separou os
escândalos do mensalão e do petrolão, teve-se a impressão de que haveria uma
revolução carcerária no país. Hoje, sabe-se que o encarceramento de políticos e
financiadores eram pontos fora da curva.” No populacho, Aecio, Inácio, Dilma, Temer, Serra, tudo é
ponto fora da curva.
No Brasil as coisas são simples, ou como diria
o felizardo Aécio Neves com seu jeitão de mineiro do Leblon, “é tudo papo reto”,
ou lembrando o meu velho e querido amigo Zé de Nana, “as coisas são do jeito
que tem que ser mesmo que que para isso o rabo tenha que balançar o
cachorro.
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