Quinta-feira, 12 de agosto de 2021 - 16h02
No jantar de ontem a ideia da
Câmara dos Deputados era servir um assado de bode como o prato mas conhecedor
das iguarias nordestinas e sabendo que o paladar médio da “tchurma do centrão”
está mais para a culinária fitness, o Presidente Artur Lira cuidou de retirar o
bode da sala e já sem o prato principal, servir a sobremesa, uma espécie de doces,
frufrus e petiscos coligados, preparada pelos Cheffs do Centrão, que é o bom da
boca. A jogada gastro-política foi boa para todos inclusive ou principalmente
para a esquerda que rindo por dentro para esconder a satisfação disse que entre
distritão e coligação a coligação é um “mal menor”. Para avivar a memória, esta
foi a terceira vez que o plenário da Câmara Federal rejeitou o distritão e se a
Câmara não o aceitou já é um indicativo de que no distritão há algo de bom, a
menos que se imagine que o nosso Congresso Nacional fosse a instituição séria e
responsável que nunca foi. E pior, é nosso retrato. Fomos nós que escolhemos as
excelências parlamentares na câmara e senado para que nos representassem.
O leite já foi derramado e não
adianta chorar, há os que gostam, os que não gostam, mas está feito e só faltam
algumas pontas que são os destaques a serem votados hoje, mas que são só mais uma
ou duas gotas de adoçante no cafezinho. Depois o bagulho vai ao Senado que terá
até o início do mês de outubro para carimbar o passaporte para a bagunça
eleitoral com as coligações e partidos de aluguel dando as cartas, uma baita negociata
e principalmente agora com o derrame de dinheiro do fundão e o Congresso assume
o papel histórico de um Hobin Wood brazuca às avessas.
O melhor negócio no Brasil é ser
dono - todo partido tem um dono - de um partido político forte e o segundo
melhor negócio é ser dono de um partido político pequeno e fraco. O dinheiro
para abastecer a ambos sai do bolso do contribuinte e de forma legal, via
fundão, vai para a mão do dono partido. Oficialmente e legalmente o governo
tira de nós, os contribuintes, e investe nos dois. Agora por exemplo com o
estrebuchar do distritão que nem nasceu, a bolsa de apostas revela que os
partidos nanicos subiram de cotação e estão valendo mais que precatório
comprado a preço de banana e, quando já pensavam em fechar as portas, serão
promovidos a estrelas da corrupção das próximas eleições, que não por acaso
ocorrem a cada dois anos para azeitar e facilitar a máquina de fazer ricos. Para
quem não é do ramo e não entende de negociatas é bom ficar de olho. Eleição no
Brasil é um negócio espetacular, de baixo risco e alta lucratividade. Dá mais
dinheiro que plantar soja ou criar de boi. Basta uma lei camarada, uma urna
eletrônica e nem precisa de voto impresso.
Bem, fora a barafunda com a
volta das coligações, a Câmara Federal quer votar projetos que visam alterar praticamente
toda legislação eleitoral e política do país e há uma reforma que, caso vingue,
será a maior – não digo que será a melhor – da história desde a constituição de
1988. É um projeto que pode ser votado já nas próximas semanas e é robusto. São
902 artigos em 372 páginas trazendo algo que julgo relevante, ao limitar as resoluções
da justiça para eleições. Nada de mudar em cada eleição. Será uma norma
permanente, ampla e geral disciplinando regras eleitorais. Gosto da ideia. Os juízes e tribunais julgam
e sentenciam. Quem vive a realidade política e deve produzir as leis e resoluções
é o político com assento no Congresso. Talvez seja a hora de começar o trabalho
para colocar a casa em ordem e de maneira simples. Estilo ado, ado, ado, cada
um no seu quadrado.
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