Sábado, 15 de dezembro de 2018 - 08h17
Tem tanta gente preocupada com a moral dos outros que acabamos tendo
de nos preocupar com o que fazem para ter tanto tempo para isso. Será que agora
estão desligando a tevê para não ouvirem as detalhadas descrições das denúncias
das mulheres contra o médium João de Deus? Ou esse povo vive, se obriga e quer
obrigar a outros a viver, em outro mundo, onde não há sexualidade, prazer,
liberdade de escolha? Onde se acobertam desmandos?
É mão nisso, mão
naquilo, vira aqui, ejaculação, levantou a blusa, abraçou por trás, “me levou
para a salinha”, “foi no colchão no corredor”. Há uma que contou em detalhes
até que ele chegou a lhe falar que ficasse tranquila: a ejaculação era santa, o
líquido que saia do seu pênis era fluído espiritual, ectoplasma. Em uma semana
centenas de mulheres de todo o país – e que previsivelmente aumentará quando
começarem a chegar as estrangeiras - já procuraram os investigadores para
denunciar o médium João de Deus por estupro e assédio sexual. No noticiário,
todos os dias, mostrando o rosto, ou envoltas em sombras, brotam mulheres
firmes, com depoimentos lancinantes, detalhados. Espero que os hipócritas
assistam a tudo, estarrecidos. Horário nobre.
Muitas choram
porque estão tendo de relembrar fatos que viveram há algumas dezenas de anos,
muitas quando ainda eram meninas, adolescentes. Porque não falaram antes? –
ousam perguntar os que ainda duvidam da culpa do homem João Teixeira de Faria,
agora com 76 anos, o John
of God, mais um que montou um império baseado na fé na pequena
vila de Abadiânia, Goiás, onde atende desde 1976. Adivinhe por causa do que
calaram; ou se falaram, porque não foram ouvidas. Santidades vivem acima dos
mortais.
Calcula só o
número de mulheres que literalmente passaram por suas mãos. Onze filhos
reconhecidos, cada um de uma mãe. Outros tantos podem estar por aí – há
denúncia, inclusive de uma delas que diz que foi obrigada a abortar; teria
tomado um remédio que ele lhe deu dizendo que faria bem quando ela o procurou,
grávida, “barriguda”, como descreveu. Para o povo ali é sempre receitada – e
vendida - uma fusão de ervas, “passiflora”.
Nada mais do que, pasmem, trepadeiras, como a flor do maracujá.
As grandes,
muito grandes, personalidades que acabaram por ajudar a fazer sua fama estão em
um silêncio cortante. A apresentadora Oprah Winfrey, a mais famosa do mundo,
veio até aqui para vê-lo e dele fez e deu mais fama. João de Deus era “assim,
ó”, unha e carne com o ex-presidente Lula. Viriam daí inclusive misteriosas
negociações de terras, minérios, fazendas, que agora deverão novamente ser
vasculhadas. A imprensa sempre lhe deu capas e capas, teceu loas, fotografou-o
com as estrelas, filmou suas incisões e cirurgias espirituais. Xuxa, Dilma,
Bill Clinton! Hugo Chávez, Shirley McLaine...
Ao mesmo tempo,
aliás, a bem da verdade, posso até não ter acompanhado, mas honestamente admito
que não lembro de ter sabido de alguém questionando o tratamento espiritual que
recebeu do médium incorporado, ou que tenha piorado após consultar-se com ele.
Conheço pessoas sérias que vêm ressaltando isso, embora abismadas com as
revelações.
O problema é
sempre o homem, o real. Assim acontece em outras crenças, devoções, lideranças
religiosas de todos os credos. Excelentes comunicadores, hábeis negociantes,
constroem impérios com tijolos da crença, que mantêm com financiamentos a pleno
vapor. Tudo em nome de Deus, da criação, da Bíblia, das juras, imposição de
pecados e culpas, de uma moral para os outros.
Tudo isso dito
para questionar essa movimentação para cima da moral. Capaz de reclamar e
blasfemar contra um programa de tevê, de variedades, como o Amor & Sexo, como se
ele fosse a encarnação do demônio entrando nos lares e impedindo que as tevês
sejam desligadas por quem não quer ver, e que esconde os controles remotos dos
lares cristãos. Fernanda Lima, a bela apresentadora, personificando a bruxa má
que ensina o óbvio: que existe sexo, nudez, diversas formas de prazer, várias
formas de famílias e felicidade.
Enquanto
esperamos uma ministra como a pastora Damares Alves, indicada para o Ministério dos Enjeitados (mulheres,
minorias, índios, e muitos etcs que
acabarão jogados para ela), que garante ter visto Jesus no pé-de-goiaba. Que
quer mulheres estupradas obrigadas a ter os filhos ali originados, pretende
tratar “os meninos como príncipes e as meninas como princesas”. Ela é contra
tudo, sem entender de nada, despreparada na argumentação: contra o aborto,
porque diz que a criança na barriga não pertence à mãe; contra educação sexual,
porque erotizaria a criança; contra a ciência da reprodução humana porque
congela os embriões, contra hábitos da cultura indígena, contra
descriminalização das drogas...
Acho que vamos
ter mesmo é que pedir a Deus para iluminar essa gente hipócrita, sem ter de
esperar tantos anos para que revelem suas verdadeiras faces. Para que possamos
logo lhes dar alguns tapas. Dos dois lados. E nos traseiros.
Marli Gonçalves, jornalista – Vamos ter de retomar uma certa e
antiga palavra de ordem: Pela Liberdade Geral e Irrestrita. Governem o país;
não os nossos corpos.
Brasil,
fim de ano, vem 2019!
marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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