Sábado, 22 de março de 2025 - 08h05
Como você definiria os tempos que vivemos? Os
defino como incontroláveis, se é que um dia foram controlados, inclusive como
são os tempos de nossas próprias vidas. Memórias e partes da história que já
não contamos em dias, mas em décadas; em alguns casos até em séculos.
Sim, vejo diferença nos tempos atuais, e creio ser essa a
característica desses tempos de informação (e desinformação) alucinante,
desgovernada. Quando comparados estão como que com o cabresto solto. A
impressão que tenho com a rapidez com que os fatos passam, os dias passam, e
soluções parecem nem ter mais tempo de chegar aos problemas que buscavam – logo
ambos obsoletos. Em compensação, também tem um lado bom, que essa atropelada
agilidade soterra a memória de muita coisa ruim que passamos, aprendemos a
organizar uma espécie de memória seletiva, preenchida com bons momentos e com a
atualização de perdões concedidos na caminhada que suavizam encontros do
passado quando neles esbarramos, reorganizados. Assim, vamos levando. Mas é
preciso aprendizado.
Era melhor, era pior. Vivemos fazendo balanços do estoque,
e nem colocamos placas avisando, coladas em portas fechadas como fazem as
lojas. A própria memória, com seus mecanismos ainda desconhecidos, se encarrega
da função de separá-los, calcular sua importância, descartar ou guardar. Às
vezes até melhoram amarguras que a uma certa altura achávamos que seriam
carregadas no fardo. Assim é a vida. De repente nossos cálculos de tempo são
atualizados.
Trato não apenas de questões pessoais, incluo, entre
outras, até a política. Quer ver? Simplificando. Quando achávamos – mais perto
- que nenhum prefeito conseguiria ser tão ruim como alguns que infelizmente
conhecemos. Nossa, pode sim. E, mais longe, após tantas guerras mundiais com
letra maiúscula, o horror, pensava que o mundo melhoraria e que a promessa do
“nunca mais” seria cumprida? Olha o incontrolável aí. A História não tem freios
e está diariamente à beira do abismo, ladeira abaixo.
Seguimos. Continuamos tentando contar o tempo e nos
surpreendendo com ele. Essa semana encontrei um amigo jornalista que foi muito
importante na minha direção - não o via há quase 40 anos. Não é pouco. Pensa
só, independente de qual é a sua idade, será fácil entender a emoção desse
encontro. Ver a filha que era apenas um bebê, hoje mulher atuante e importante,
a cara da mãe, uma mestra especial pela qual nutro o maior carinho e
agradecimento por ter sido por ela guiada nesse caminho da escrita há quase
mais de meio século. Já conto em décadas minhas memórias.
Não é saudosismo, mas o que passa pela cabeça. Um preparo
mental. Semana que vem teremos aqui em São Paulo um tradicional almoço reunindo
muitos companheiros da redação do Jornal da Tarde, aquela maravilha da imprensa
que ousaram acabar, e de onde saí também há 40 anos que se completam agora em
2025. Como esse encontro agora se repete todo ano pontua muito do que disse
sobre o incontrolável tempo - muitos já se foram, outros estão abatidos, outros
mais distantes, ou doentes, e alguns não se perdoaram por conta de velhas
intrigas. Outros, inclusive, por novas intrigas desse maluco terreno digital do
grupo do WhatsApp, do sectarismo, do divisionismo que infectou os campos verde
e amarelos, e ainda a questão religiosa, direita/esquerda, Oriente Médio, daí
em diante.
Mas o importante - mesmo com tudo isso – é sempre rever ou
viver as novas histórias, as lembranças, as homenagens (este ano será para o
Fernando Mitre, com fala do Ivan Ângelo, para se ter ideia dessa turma),
encontrar os que enfrentam longa viagem pelo prazer do encontro. Especialmente,
entender na prática como funciona esse tal do incontrolável tempo, com seus
incontroláveis acontecimentos. Sempre surpreendentes.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em
São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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