Segunda-feira, 3 de outubro de 2016 - 05h38
Somos quase esquizofrênicos, temos algum TOC, mania? Pode ser, mas repara quantas vezes você pratica esse verbo por dia. Acordou? Arruma a cama. Arruma a mesa para o café da manhã ou arruma no espelho essa cara amassada. Arruma uma desculpa porque o despertador não tocou ou se arruma toda ou todo para sair.
Se bobear e estiver de mau humor logo pode arrumar uma encrenca – pode até ser enquanto arruma uma vaga para estacionar o carro ou arruma a bolsa que era tanta a pressa que deixou cair aberta, de boca para baixo. Arruma a gravata, dá uma arrumada no cabelo, joga para lá, joga para cá, passa a mão. Arruma essa postura.
Se está indo arrumar emprego, boa sorte, que a coisa está difícil, e neste país já são 12 milhões fazendo a mesma coisa – e taxa de desemprego só é contada em quem sai para buscar, acredita? Imagine se calculassem a realidade – quantas pessoas estão sem trabalho, coisa que também é preciso arrumar.
As mães arrumam seus filhos para mandar às escolas, pensando que depois eles poderão se arrumar na vida. Quando eles saem, elas ficam ali arrumando a cozinha, a coisas, as gavetas, pensando na vida que lhes foi arrumada, se o marido arrumou alguma amante. Ou como vão arrumar o dinheiro para pagar as contas do mês.
Pensa que deveria se arrumar mais, o cabelo, as unhas. Ou se deveria logo arrumar as malas, ou as suas para se mandar, ou as dele, se acabou concluindo que sim, ele arrumou uma amante. Ou apenas para arrumar algum lugar para ir. Arrumar um lugar ao Sol.
Arrumação é coisa contínua, demorada. Algumas precisam ser planejadas com mais tempo, para que não tenham de ser feitas de novo, desarrumadas. Pensa se tem exemplo melhor do que o país em que vivemos, onde esperamos que parem de querer primeiro se arrumar a eles próprios, os que podem mudar as coisas, dão as ordens. Onde arrumar paciência? Onde arrumar esperança?
A hora é essa, de arrumação danada. Fosse um jardim, e o caminho seria o mesmo, o de primeiro arrancar as ervas daninhas, depois limpar a área, preparar a terra, semear, adubar e regar.
É preciso arrumar tempo para pensar sobre isso e fazer pressão.
Marli Gonçalves, jornalista – – Tem de arrumar tinta para escrever muitas histórias. E forças para arrumar o prumo.
SP, 2016, onde o mais arrumadinho passou na frente
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