Sábado, 22 de julho de 2023 - 08h07
Estou bem confusa com essa onda rosa do
lançamento do filme Barbie, que nos encharca e busca trazer no rol de sua
importância o empoderamento feminino para apaziguar – só pode ser - os
interesses comerciais. Não, não vi o filme, nem é uma crítica a ele, mas à
massacrante forma de massificação de momento de uma informação, de um produto
que já já já vai estar passando na tevê, e outras ondas virão.
Olhe ao seu redor. É cor de rosa-choque. Não provoque,
diria Rita Lee. Tudo, vitrines, roupas, pessoas, cabelos, casas, exemplos,
clones, sósias. E notícias. Chega a ser enjoativa a pressão para a aceitação
atual da mocinha que, embora com mais de 60 anos não perdeu a forma, a
cinturinha, o frescor da pele, a energia, não tem cólicas nem sofre com a
menopausa como acontece às mulheres de pele e osso que talvez até um dia de
suas infâncias tenham brincado com a boneca Barbie, desejado ser ela, assim,
quando crescessem. Até andam tentando, com mil intervenções.
Antes, todas as bonecas eram personificações de bebês e crianças,
para apenas desejarem ser mães, papel que ainda hoje é severamente imposto às
mulheres. Barbie já era adulta quando nasceu, modelo, com seus seios firmes,
pernas longas, intensa atividade social e até romântica quando inventaram o
Ken, seu namorado plastilina. Chegou com vários cabelos, o armário recheado de
roupas, os sapatinhos, a casa, os objetos, tudo que rapidamente virou o
incrível e rentável Universo Barbie. Tudo rosa, tão rosa, a cor associada às
mulheres, e ainda escolhida a mais intensa, o rosa-choque, cor criada em 1931
pela designer italiana Elsa Schiaparelli, magenta com poucas adições de branco.
Lá vem a magrela, seus vestidos, acessórios, tudo rosa e
tudo muito caro para qualquer padrão e é assim desde o lançamento da Barbie, em
1959. No cinema agora, personificada literalmente e muito bem pela adorável e
bela atriz Margot Robbie, o filme é um dos maiores golpes (no sentido de
vendas) de marketing dos últimos tempos. Mas incomoda a pressão para fazer
descer pela goela que, além de tudo, Barbie é feminista. Desculpem, mas
feminista não é, não foi, nem será. Ela é uma boneca. E, sendo assim,
manipulável em tudo, atos e propostas.
A realidade é bem diferente. Até para a boneca que no filme
um dia acorda alarmada com os seus pés no chão, retos, ao contrário daquele já
moldado para os elegantes e variados sapatos de salto alto. Pressente que
precisa ir ao mundo dos humanos dar uma olhada no que acontece e que a está
transformando. Por aí, vai. Já pensaram se os brinquedos refletissem mesmo o
que se passa no nosso mundo? As fábricas nem dariam conta, muito menos de
acompanhar de verdade as vitórias feministas nessas décadas.
Barbie é realmente um fenômeno. Criada inspirada em uma
boneca adulta feita, acreditem, para homens, a erótica alemã Bild Lilli, foi um
sucesso estrondoso de vendas. Sempre envolta em críticas e polêmicas. Polêmicas
que fizeram com que o seu fabricante ganhasse ainda mais ao desenvolver novos
tipos de Barbies que ainda pipocam para a alegria dos colecionadores: pretas,
profissionais da mais diversas áreas, não só loiras ou morenas, mais
rechonchudas, baixinhas, por aí vai. Trocam suas roupas, mudam a cor do
plástico. Já há Barbies com deficiência, adaptadas em cadeiras de rodas, yogis,
maleáveis, e até já surgiu a Barbie trans. Fora as Barbies dedicadas a
celebridades, e as muitas amigas da Barbie que foram aparecendo como
coadjuvantes.
No Brasil, lembro bem quando em 1966 surgiu a sua
“correspondente”, a Susi, mais barata, menos metida, com roupinhas mais
simples, uma feição menos famélica. O namorado era o Beto, horroroso. Tive uma
Susi. Até o nome Susi, assim, com i, mais simples. Se fosse com Y, creio, teria
mais glamour. (Parênteses: sempre adorei o Y, com o qual achei que era o meu
nome até os 17 anos quando descobri na certidão que havia sido registrada com
“i”, Marli, e fiquei com medo de, aprovada no vestibular, não aceitassem minha
inscrição com y, como meu pai sempre escreveu, nunca mudou, até a sua morte,
aos 98 anos. Já que sou Marli na vida, adoraria ser Marly, mas isso já é outra
história).
Voltando à Susi, tadinha, viveu até 1985; Barbie decaiu,
ela foi junto. Até voltou a ser relançada, anos depois, em 1997. Voltou mais
magra, com peitos maiores e roupas mais chiques, mas nunca mais foi a mesma.
Enquanto isso, agora, vamos nadando no rosa-choque, nas
fotos dos locais instagramáveis, no povo posando dentro de caixas gigantes da
boneca. Pelo menos está engraçado. A Ana Maria Braga que apareceu toda de
Barbie será uma imagem inesquecível. Até porque bem mais verdadeira como gente
que passou mesmo por tudo nesses anos.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
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Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n