Sábado, 19 de abril de 2025 - 08h00
Acordamos cedo e logo corremos para conferir se
tem alguma guerra nova, se já estourou a Terceira, qual foi ou será a ameaça do
dia vinda dos belicosos líderes mundiais. O celular na cabeceira da cama já
apita com recados novos, brigas de amigos em grupos, novas fofocas, tentativas
de golpes esperando qualquer distração. Novo e estranho cotidiano, que não para
de nos surpreender nessa vida digital que a todos conecta.
Uma loucura as rotações por segundo que não nos deixam
ficar de bobeira, distraídos, claro a não ser que sejamos algum tipo de
eremita, totalmente imunes aos acontecimentos. Sempre tem algum que envolve,
por curiosidade, interesse ou proximidade. Que nos afeta, como a mim afeta
profundamente, por exemplo, saber de mais uma morte por feminicídio. De mais
alguém que em um segundo nos abandona morto pela violência urbana que parece a
cada dia mais incontrolável. Em mais uma ignorância ganhando corpo tentando
dinamitar alguma vitória que chegamos a comemorar.
Nesse novo alucinante cotidiano que corre célere, fatos se
sobrepõem a outros, deixando para trás os desfechos, e sempre nos dando a
terrível sensação de repetição sem fim da História. Deixando para trás o rastro
do medo e insegurança. Em todas as conversas a desilusão e enorme preocupação
com os minutos seguintes, com o tal futuro – conhecedores profundos das coisas
estão vendo, alertando, explicando, até por vivência e sabedoria, sinalizando
para o mundo todo em marcha-a-ré em temas para os quais dedicamos tanto de
nosso tempo. Digo nós, os que já viveram essas décadas que variaram de horror a
alívio algumas vezes. Otimismo e pessimismo se alternando.
Somos uma tal geração prateada. Em ação, atenção! Nossos
cabelos, se restam, prateados, grisalhos, brancos, ainda estão bem vivos nas
ruas e em condições de fazer ainda boas revoluções em meio a essas
transformações. Tanta atenção que foi devida à série Adolescência poderia
ajudar a criar também outro foco para essa nossa, minha, de tantos, geração,
momento, novos setênios, esses períodos - ciclos - de sete anos, cada um com
características e desafios únicos, todos os raios de vida que consigamos
alcançar. Teremos muito a dizer e fazer se nos mantivermos sintonizados.
“Velhescência” é palavra que não existe, embora ache que
seria mais exata. Oficial é envelhescência, contraponto de adolescência,
segundo quem criou o termo, o psicanalista e sociólogo Manoel Berlinck, a fase
da vida entre 45 – 65 anos, esse período entre a maturidade e a velhice. Não
apareceu ainda, que se saiba, quem definisse claramente o que ocorre nessa
sequência, ou o a partir daí. No máximo, como recentemente, um sinal de mais a
quem ultrapassa os 80, virando assim um Idoso +, com preferência maior nas
filas de atendimento.
Tenho lido e ouvido muito falar em gerações, as nossas e no
que as próximas encontrarão, de bom e de ruim, uma conversa original para mim
que não deixarei descendentes. Mas absolutamente compreendo essa certa angústia
quando encontro os amigos, muitos hoje avôs e avós, tornados assim bem mais jovens,
e ainda com longa expectativa de vida e com diálogo aberto sobre tudo, coisa
que no passado era quase inimaginável.
Tenho a esperança de que todos seremos ouvidos a tempo,
nessa linha da vida, inclusive por conta da expansão das formas de comunicação
às quais também já nos integramos, e sem o uso de secretos emojis. Nos
comunicamos também com nossos pares, e de formas que também precisam ser
estudadas para melhor compreensão e apoio. Vivemos mais onde há progresso.
Ganhamos tempo por aqui.
Na política, na estética, muito além do marketing que já
nos viu como alvo, acordamos a cada dia com mais vitalidade para participar,
querendo nos informar e aprender mais, ansiando que de algum lugar estejam
vindo melhores soluções, que a nossa passagem e conselhos garantam deixarmos um
mundo melhor, que não exploda. Nem que seja pela terrível e própria inquietude
do tempo que nos resta.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em
São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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