Sábado, 3 de agosto de 2024 - 11h32
Climão, torta de climão, trocas de olhares e
comentários enviesados, discussões, bate-bocas, desconfianças. O clima do
momento não é de inverno, não é nem esse tempo doido que tem muito frio e muito
calor nas 24 horas. É o climão variado que se espalha entre países, atletas,
políticos, jornalistas, influenciadores, em continentes, espalhado para tudo
quanto é lado.
Um certo prazer da discordância está no ar. Posso estar
enganada, mas há uma beligerância como forma de satisfação pessoal andando
solta por aí. Uma vontade de arrumar briga, e, quando obtida, o prazer de
esticar a corda para ver onde vai até se romper. Entre as pessoas tenho
observado isso, inclusive em assuntos banais, pequeninos, dispensáveis tanto
até para se perder tempo com eles, e que viram uma avalanche, sustentada quando
avança a cada passo em argumentos se tornando mais frágeis, que vão caindo, até
que um vira a cara para o outro, igual criança. Falta dar o dedinho do “tô de
mal com você”. Contato físico inclusive impossível, até porque a grande maioria
dessas rusgas vêm se dando pelas redes sociais, na internet, nos grupos de
conversa. Pelo menos nisso menos perigosas do que socos na cara, na mesa, vias
de fato. Vira bloqueio, mensagem apagada, desamigação, saída pela direita,
saída pela esquerda igual à Pantera Cor de Rosa.
Já está ultrapassando o divisionismo político que afeta não
só o nosso país, mas o mundo todo nos últimos anos, no qual grande parte dos
assuntos parecem agora ter só duas vias, frias, sem espectro, o sim ou não,
este ou aquele, a favor ou contra – aceite tudo de um lado; aceite tudo do
outro, nem ouse interferir. Este lado do rio ou aquele. Insuportavelmente
chato. Tudo tem defeito. Nunca vi tantos especialistas em Oriente Médio,
eleições americanas, América Latina, moda e roupas da Janja (ou de qualquer
outra mulher que se destaque seja onde for), como fazer a melhor torta de
frango, ops! Qualquer assunto dá discussão para mais de metro. As implicâncias,
então, beiram insanidade. Se fez o L, o V, o XPTO.
Claro que comentaristas, todos mortais e loucos por
audiência, não ficam longe disso e ajudam, incentivando. Foi quase
insuportável, por exemplo, assistir às provas de ginástica olímpica feminina,
que fizeram parecer mais apenas uma disputa de vida ou morte entre Simone Biles
e Rebeca Andrade, com câmeras dispostas a não perder nenhum flash de olhar
entre as duas para captar faíscas. E a clara decepção porque ambas estão sempre
competindo na boa. Pelo menos aparentam.
O problema é que no macro é assustador a cada dia nos
aterrorizarmos com as visíveis possibilidades desses desentendimentos todos
virarem mais guerras, mais violência, mais mortes de inocentes que não tem nada
a ver com tudo isso e estão ali no meio. No planeta globalizado acaba sobrando
é para todo mundo. Daí acompanharmos atentamente eleições que não são nossas.
Nos emocionarmos com a luta contra as ditaduras porque sabemos o quanto custam,
quão dolorosas podem ser. Me peguei outro dia aos prantos ao encontrar, na
Avenida Paulista, no dia da eleição, um grupo enorme de venezuelanos de todas
as idades que estão no Brasil torcendo pela queda da besta de lá, entoando seus
hinos, seus cantos, pintados de vermelho, amarelo e azul. Não pude deixar de
relembrar nosso “Diretas Já!”. E passar a torcer fortemente para que consigam
se livrar de Maduro e retornar à sua pátria.
Tenho, na verdade, saudade dos desafios intelectuais nos
quais tanto aprendíamos, respeitosamente, para podermos formular nossas
próprias opiniões. Chateada de ver qualquer bestinha que nem sabe onde está
parado bater no peito, feliz de se autointitular conservador e “de direita”,
arrotar que luta por liberdade e democracia enquanto faz e apela para
justamente o contrário. Assim como cansada de ver quem, da “esquerda”, que
tanto já se estrepou nesse país, que viveu para ver, passando pano para
ditaduras, se fazendo de mouco para os problemas reais e inoperâncias,
corrupção e falas deploráveis, para a inação, quando o que mais precisamos é
que críticas sejam construtivas.
É ou não é? Olha o climão aí. Formado. Pronto, falei.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em
São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n