Domingo, 29 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Marli Gonçalves

DÁ TRABALHO


DÁ TRABALHO - Gente de Opinião

Dia do Trabalho e dá é trabalho viver. Dá trabalho se desdobrar, tentar. Pensar todo dia como nos virar para nos sustentar e às nossas famílias. Dá trabalho e é quase impossível ser feliz vendo tanta gente infeliz, nas ruas, largadas deitadas em sarjetas e portas, enroladas como lixo em sacos plásticos, tendo como colchão caixas de papelão, e as pedras como travesseiros.

 

Dá trabalho não sofrer, tentar não ver, não perceber. No país que conta mais de 12 milhões de desempregados fica até constrangedor se comemorar o Dia do Trabalho sem trabalhar, mas ainda é o feriado onde mais coisas fecham, tradicionalmente, como se fosse só esse o respeito devido. Será que vamos ter de novo aquelas grandes festas das centrais sindicais, com shows fabulosos, sorteios de carros, casas, discursos inflamados de palanque? Temo que não, não há mais o que gastar, e os sindicatos que pouco lutam pelos seus, nem eles parecem ter mais serventia. Agora, centrais parecem apenas trabalhar para organizar as quilométricas e dramáticas filas de desemprego, onde cadastram esperanças, engavetam sonhos.

 

Dá trabalho viver. Dá trabalho, sobretudo, sobreviver. Talvez seja esse o Dia do Trabalho a comemorar. O do Trabalho que dá para suportar. O do trabalho que temos todos os dias para nos mantermos otimistas, vivos e respeitados. Quer ver?

 

Dá trabalho aparentar. Sorrir quando se quer mais é chorar. Se maquiar para as olheiras não assustarem as criancinhas. Dá trabalho até posar para a foto 3 X 4. Não piscar.

 

Dá trabalho deduzir e seduzir. Dá trabalho amar, ser amado, esperar pacientemente alguma esmola emocional que caia no chapéu virado, enquanto fazemos nossas apresentações nos palcos da vida para ganhar aplausos e algum afeto. Dá trabalho tentar não demonstrar a falta que sentimos de um pouco mais de carinho e atenção. Dá trabalho sentar e esperar reconhecimento, algum agradecimento. Algum bilhete com beijos no final. Dá trabalho braçal, manual, intelectual.

 

Dá trabalho conhecer alguém. E preguiça. Muita. Ter de se interessar em saber no que foi que trabalhou até ali, o que fez ou não, se já tem experiência, se vem de alguma demissão amorosa, e se essa teve justa causa. Se dá para pedir referências, o que às vezes pode ser bom para evitar empregar tempo demais com a pessoa errada. Amar sempre tem pressa. A gente quer bater o ponto.

 

Dá trabalho comer, fazer a comida, comprar a comida. Carregar a comida. Dá trabalho decidir até se é melhor cozinhar, fritar ou assar, talvez nem isso.

 

Dá trabalho abrir o guarda-chuva para não se molhar, e o guarda-sol para não se queimar. Amarrar o cadarço do tênis, abrir e fechar zíperes, nem conto o trabalho que dá por meias, e se forem meias-calças então! Dá trabalho trocar de bolsa, arrumar malas. Desfazer malas. Trocar de roupa para sair, tirar a roupa pra dormir.

 

Dá trabalho tirar o pó da casa e das ideias.  Tem quem ache até que dá trabalho ler, se informar, saber, pensar. Prefere mandar. Ou apenas seguir numa fila cabisbaixa alguém que não se dá nem ao trabalho de tentar unir e somar; só sabe dividir para tentar multiplicar.

Marli Gonçalves, jornalista – Dia do trabalho dá trabalho comemorar.

marligo@uol.com.brmarli@brickmann.com.br

Que trabalho dá. Ser Brasil em maio de 2019.

ME ENCONTRE

(se republicar, por favor, se possível, mantenha esses links):

https://www.youtube.com/c/MarliGon%C3%A7alvesjornalista

(marligoncalvesjornalista – o ç deixa o link assim)

https://www.facebook.com/BlogMarliGoncalves/

https://www.instagram.com/marligo/

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 29 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Ufa. Calcinhas. E as promessas?

Ufa. Calcinhas. E as promessas?

Elas, as promessas feitas no fim do ano, parecem fantasmas que ficam nos perseguindo todos os 365 dias que foram ou os que virão; disso não fugimos,

Susto de Natal

Susto de Natal

Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está

Cérebro. Duvidando até da sombra.

Cérebro. Duvidando até da sombra.

Em quem acreditar, sem duvidar? De um lado, estamos como ilhas cercadas de golpes por todos os lados. De outro, aí já bem esquisito, os cabeças-dura

Chama a polícia...

Chama a polícia...

Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra

Gente de Opinião Domingo, 29 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)