Sexta-feira, 1 de outubro de 2021 - 16h39
Lembram quando o finado PlayCenter anunciava as Noites de Terror,
com fantasmas, múmias, vampiros? Já era. Fichinha. Agora vivemos na real
perturbadoras semanas, dias e noites de terror ao saber cada dia mais sobre os
variados bastidores. Quem precisa de Halloween?
Nas vitrines elas já aparecem, prontas para enfeitar as
festas represadas, mas – lembrem-se! - ainda não totalmente liberadas. Abóboras
com carinhas, em variados materiais e tamanhos, além de caveiras e esqueletos,
máscaras, fantasmas, bruxas, caldeirões infernais. Como se ainda precisássemos
comprar algo e já não estivéssemos vivendo um terror que não haverá doces ou
brincadeiras para terminar tão cedo.
Vem sendo tudo tão perturbador que cheguei a sonhar que
encontrava caído na rua o bonequinho do Véio da Havan - que se acha tão lindo
que mandou fazer cópias de si mesmo para vender nas lojas - todo amarrotado e
espetado, vodu. Querem imagem mais assustadora do que aquele ser de amarelo e
verde, aquele Coringa de quinta categoria, que apareceu para depor na CPI,
aproveitando para fazer propaganda de suas quitandas e ficar ainda mais rico?
Ou, ainda, só para citar a semana, aquele outro milionário empresário que chegou
acompanhado de três guarda-costas, ops, advogados, e ousou, com expressão
cândida, bater no peito, falar em família, sobre o quanto era bom e cristão,
logo muito bem desmascarado como homofóbico, negacionista, ignorante,
financiador das mentiras e de tudo o mais de muito ruim que reúne na sua
pessoa.
Claro que não estou esquecendo dos senadores que,
magoadinhos, defenderam essas e outras caricaturas de gente. Não dá, inclusive,
para admitirmos nem por um momento o argumento principal que vêm esgrimindo, tirando
do bolsinho do paletó, mas mantendo os outros cheios de benesses governamentais
e de suas próprias cegueiras. Liberdade de Expressão. Dizem que é do direito
deles, pensar (e isso até admito que seja mesmo, desde que para eles, calados),
e propagar suas teses, ao fim, perigosas e criminosas. Não. Aqui, ó! Porque
mentirosas, erradas, sem lastro, maldosas e especialmente danosas. Tanto, a
ponto de poderem ter sido causa de muitas dessas 600 mil mortes que amargamos.
Eles não têm direito de ousar falar em liberdade; a palavra em suas bocas perde
seu valoroso sentido. É maculada.
Mas isso tudo quase não é nada perto do terror do que pode
ter ocorrido com os doentes que foram levados a tomar remédios sem comprovação
contra a Covid, mas já com todas as comprovações do mal que podem causar de
efeitos colaterais aos pacientes. Muitos dos quais nem internados estavam;
recebiam caixinhas em suas casas, logo que espirrassem, fungassem ou tossissem.
Ozonoterapia retal. Flutamida! Há alguns anos, com prescrição – também é usado
na dermatologia – em poucos dias esse remédio poderia ter me matado se a
própria médica não acompanhasse de muito perto, com exames, e o suspendesse
imediatamente. Efeito dramático no fígado.
Pessoas internadas, maioria idosos, sem poder ter
acompanhantes, os familiares do lado de fora, desesperados com as poucas
informações e que se alguém vestido de branco falasse embolado eram capazes de
fazer sim com a cabeça.
Vivi longos períodos em hospitais, primeiro acompanhando
minha mãe e, anos depois, meu pai. Sei o que passei – e isso estando grudada
com eles todas as horas possíveis. Remédios errados porque a enfermeira não
entendeu a letra do médico; muxoxos porque já eram “velhos” e – eu ouvi isso,
do nada, especialmente com meu pai, que tinha 98 anos, juro: “normal,
certamente não sairá vivo daqui”. Contei um pouco dessas agruras nas crônicas
escritas à época. Nem gosto de lembrar de tantas situações, que me mortificam
até hoje, a ponto de não poder ouvir sirenes e campainhas sem tremer.
Assim, fico pensando no mês, mais um, de terror, que esses
familiares passarão pensando que podem ter contribuído para a morte de quem
amavam, revendo atestados de óbito, revivendo os momentos. Fico pensando nos
milhares de associados do tal plano de saúde, desesperados em que mãos ficarão.
Em que mãos estão.
E como já vivi para ver de um tudo, inclusive na política,
muito me chama a atenção a veloz avidez demonstrada por essa mesma política,
criando agora outras duas CPIs – na Assembleia e na Câmara de São Paulo - e que
mais uma vez certamente só levarão a logo descobrirmos as intenções e vaidades
dessa atividades que retardarão ainda muito mais, a título de investigações e
blábláblás, as respostas concretas que a população precisa para já.
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MARLI
GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo,
autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para homens também,
pela Editora Contexto. Nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.
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