Sábado, 31 de julho de 2021 - 11h16
Entramos e estamos numa boa fria,
numa gelada, num enorme saco sem fundo. É tanta coisa acontecendo de esquisito,
de ruim, e sem que possamos resolver de vez ou tomar medidas rápidas e
objetivas – a solução não está só em nossas mãos, mas na de todos e em tantas
mudanças e acertos – que só resta, sei lá, espirrar. Espirrar com muitos desses
culpados de nossa frente
Saltos, piruetas, manobras espetaculares no asfalto, nos tatames, no
mar, fôlego na piscina; as mulheres arrasando, a garotinha em cima do skate, a
outra bailando com movimentos precisos bem na cara de suas próprias
dificuldades. Orgulho, vitórias, e não só, também as derrotas, trouxeram
distração para mais de 100 metros nas notícias e madrugadas olímpicas. Vimos
novamente, felizes – mesmo que por instantes – a bandeira nacional tremulando
sem que ela nos causasse essa certa repulsa que tanto fizeram que conseguiram
nos fazer dela até enjoar nos últimos tempos.
Soubemos das incríveis lutas e histórias de superação dos atletas – os
vimos felizes e também desolados quando ficaram pelo caminho em suas
modalidades. Pelo menos ali acompanhamos um país se esforçando, lutando para se
firmar e melhorar. Temos mais alguns dias para acompanhá-los e torcer.
Mas agosto está aí, sempre teremos agosto. E já está vindo embalado pela
pandemia que continua matando muito mais de mil pessoas por dia e querem que
isso pareça normal, quando vemos outros países indo e voltando de medidas
restritivas nesse vaivém estonteante. Aqui, o pimpão prefeito do Rio de
Janeiro, por exemplo, decretou que vai estar tudo bem até o outro mês e até já
marcou feriado e festa. Uma vergonhosa corrida de Estado contra Estado, cada um
querendo parecer melhor que outro, em campanha aberta, como se não bastasse o
furdunço que virou o Governo Federal.
Às vezes acho que a água que os dirigentes e responsáveis pela condução
do país tomam contém mesmo alguma coisa a mais – só pode ser. Não atingimos
ainda nem os 20% de imunizados com as duas doses. Há ainda um inacreditável
número de pessoas contrárias às vacinas ou que não voltaram para a segunda
dose, quando necessária, como o é para a maioria. Ainda vemos quem tenta
escolher qual marca tomar – e muitos desses estão tombando pelo caminho. O Ministro
da Saúde ousa proclamar vitória e ações do governo, como se não tivéssemos já
quase 560 mil mortos e mais de um ano e meio de pandemia muito mais cruel por
causa dos erros deles.
Agora, as aulas vão voltar – e não se tem a menor ideia de como resolveremos
os sérios problemas da Educação, da evasão, do atraso no ensino. O Ministério?
Além de uma fala maluca do ministro, outro batendo no peito por feitos não
feitos, pôs no ar uns anúncios moderninhos. Volta também o showzinho diário da
CPI que, quando acabar, teremos um relatório enorme, e precisaremos torcer
muito é para que ele não vá dormir em alguma gaveta.
Quem chacoalhou esse país para ele estar assim tão dividido? Quem abriu
a tampa do bueiro para tantas absurdas ignorâncias? Um queima o Borba Gato;
outros vêm e jogam tinta vermelha nas homenagens a Marighella e Marielle. O
fogo queima nossa memória. As mentiras e notícias falsas se espalham e ecoam. O
presidente monta um circo para dizer o que já sabíamos de suas acusações sobre
as eleições – que ele não sabe de nada, não prova nada e isso é só mais um
assunto para manter o percentual cada vez mais baixo de quem o segue, ainda
achando que ele presta, mesmo vendendo seu mísero poder para outros míseros
carrapatos que grudam em tudo que é governo, seja de qualquer lado do colchão.
Não adianta virar, desvirar, por ao Sol.
É inverno e até o frio intenso e recorde que há muito não aparecia ataca
o Sul e o Sudeste, expondo nosso total despreparo para qualquer situação
extrema e a miséria que grassa nas ruas que acomodam friamente mais milhares de
recém-chegados. Os preços disparam, sem controle, enquanto turistas fazem
horrorosos bonequinhos de neve e a geada acaba com as plantações.
Estamos mesmo numa fria na qual entramos sem saber ainda como sair dela,
estranhamente escaldados.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do
Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para
homens também, pela Editora Contexto. Nas livrarias e online, pela Editora e
pela Amazon.
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