Sábado, 2 de março de 2024 - 08h00
Está fácil não, viver. Simplesmente viver. Os medos
se multiplicam, por mais que a gente deles fuja, e até tente controlá-los. Como
é que se fica tranquilo, por exemplo, com essa história da dengue, dos malditos
insetos que não vemos nem para lhes dar vassouradas? Ou melhor, vemos toda hora
seus bebês malditos se multiplicando nas águas paradas mostradas em todos os
lugares? Mas tem mais, muito mais, do que dengue.
Calor agoniante, chego à janela para uma
refrescada, um ventinho, fumar um cigarrinho. Logo capto a aproximação de um
mosquitinho voador volitante. Pavor. Pra mim ele é preto e branco, com
listinhas, e o afugento com uma baforada certeira. Ufa. Esse eu vi, nem sei
quem era, se era o tal Aedes aegypti, o mais famoso do momento. Vou dizer:
odeio insetos em geral. Podem me enumerar teses científicas da importância
deles para qualquer coisa, até pra evitar uma Terceira Guerra, que não vai
adiantar. Para mim esses sujeitos podem acabar com a humanidade, pior que
putins, trumps, e até uma guerra nuclear - dizem que muitos deles
sobreviveriam. Odeio. Moscas, mosquitos, formigas, aranhas, traças, cupins,
baratas e suas variações. Poucos escapam à minha sanha, como joaninhas e
vagalumes. Mariposas, então, chegam a me causar angústia. A gente fica “psíquico”,
como gente simples define.
Já parou para pensar o momento que estamos vivendo,
além do real já pavoroso, esse mundo quase invisível para o qual pouco adianta
se armar, praticar tiro ou fazer curso de apertar o spray da lata de
inseticida? Ficar procurando e destruindo qualquer lugarzinho de água parada em
seus domínios, sabendo que ali perto pode ter muito mais em terrenos baldios,
piscinas largadas. Qualquer lugar. Podem estar lá, as tais larvas rebolantes
crescendo para virar bichos, que podem te picar, deixar bem doente, matar?
Qualquer lugar, qualquer um, tampinha, buraquinho. Não tem vacina garantida
para todos. Não adianta por máscaras contra eles. Nem beber repelente, já que
passar na pele, ficar empastado o dia inteiro, acredite, parece improvável a
real eficiência, possibilidade, e já tem é muita gente enriquecendo vendendo
essa indicação de defesa. Se as pessoas não conseguem nem comprar filtro solar!
Surgiu agora uma nova nóia e de nome mais
apavorante chegando perto, vinda lá do Amazonas, a tal febre Oropouche, mais
uma arbovirose — doença, como a dengue e zika, transmitida por insetos,
mosquitos, aranhas, carrapatos. Essa pode vir de infernais bichinhos ainda
muito mais comuns, maruims ou mosquitos-pólvora e os pernilongos, esses todos
que em todos os cantos zunem nos nossos ouvidos, picam nossas pernas, coçam. Se
picarem alguém infectado, pumba, passam a ser transmissores.
O filme de terror da atualidade, agravada com as
mudanças climáticas, El Niños, Niñas e outras previsões malignas só aumenta.
Que tal a infestação de mortais escorpiões amarelos que vêm sendo encontrados
até no interior de ônibus urbanos, além de você poder, dependendo de onde vive,
calçar sapatos que são suas moradas? Todo mundo criando galinhas, os novos cães
de guarda de quintais!
Já ficou psíquico também? Pois, então, se conseguir
ultrapassar os insetos preciso enumerar mais uns bons motivos para cada dia
estar mais complicada a nossa situação, além do que comemos, se
ultraprocessados, envenenados, cancerígenos; além de enchentes, raios
faiscantes ou choques em fios nos postes de ruas que também podem se abrir em
rombos quando por elas passamos; roubos e assaltos à luz do dia, golpes com
amor e sem qualquer amor; balas perdidas.
As balas encontradas. Granadas. Fuzis, metralhadoras,
muita pólvora. Não! Não estou falando do crime organizado não, nem de comandos
coloridos. Tudo isso pode estar na casa do seu vizinho, como aconteceu em
Campinas com a explosão do apartamento no prédio onde morava todo bonitinho um
coronel, general, sei lá, militar verde e amarelo de merda com sua aposentaria
de quase 30 mil reais. BOOM! E vocês me perguntam? Esse “cidadão” foi preso
imediatamente? NÃO! Ficou ali conversando com os policiais que atenderam a
ocorrência, com dezenas de feridos, e saiu andando. Talvez assobiando. Apareceu
depois, de coitadinho que teria tentado suicídio (com um canivete que não é
besta de se matar mesmo) e até agora não sabemos o que será feito dele. Quantos
iguais a ele estarão por perto, os tais colecionadores, CACs, caçadores e cacas
permitidas que espalham armamentos e sorriem?
Eu ia escrever sobre nós, mulheres, que o Dia da
Mulher, 8 de Março, vem aí, cada vez mais vilipendiado e comercial. Claro que
também aí escreveria sobre medos e sobressaltos de nós, que somos mais da
metade da população do país. Todos os dias cruelmente assassinadas - essa
semana um monstro não só matou a esposa como arrancou seu coração. Como se não
bastasse a violência geral, os estupros, temos ainda de enfrentar a ignorante
perda ou discussão de alguns poucos direitos nossos tão duramente conquistados
nas últimas décadas.
E guerrear contra os malditos mosquitinhos.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de
comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom
para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na
Amazon). Vive em São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
Em quem acreditar, sem duvidar? De um lado, estamos como ilhas cercadas de golpes por todos os lados. De outro, aí já bem esquisito, os cabeças-dura
Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n