Sexta-feira, 7 de janeiro de 2022 - 14h52
Crônicas
são pessoais, o que nos dá caminhos para conversar com os leitores sobre
experiências, sentimentos, momentos, e de, ao fazer verdadeiras confissões,
buscar companhia e alento. Cronistas observam e absorvem o cotidiano, o
coletivo.
E está tudo muito esquisito. Dito isso, pergunto como vocês estão se
sentindo nesse momento? Quando começávamos a nos sentir aliviados, pelo menos
um pouco com relação à pandemia, somos inundados por mais uma onda, e ela é
alta, agressiva. Só não digo inusitada, porque o comportamento geral de fim de
ano já antevia que coisa boa não viria, todo mundo tomado de vontade de se
encontrar, abraçar, beijar, viajar, sair por aí. Soma-se ainda o vendaval do
surto de gripe atacando nosso povo já doente de tantas coisas e que se espreme
em filas e filas diante de postos de saúde e hospitais, necessitando serem
atendidos e tratados por profissionais esgotados. Onda, bola de neve,
avalanche, fora as enchentes. Mais um verão sem graça, e sem Sol, sem Carnaval,
sem charme e até sem uma modinha para chamarmos de nossa.
Aqui, tenho sentido novamente algumas crises de ansiedade, dificuldades
de segurar a cabeça, os pensamentos, a tristeza de já ter perdido tantas
pessoas importantes e o alarme incessante que parece tocar novamente a cada
informação sobre pessoas conhecidas infectadas aqui, ali e acolá. E, como
tarada por vacinas, com as três doses, mais a de gripe tomada logo no primeiro
dia da campanha, aguardo – eu e o meu braço - para o mais breve possível mais e
mais reforços, ao contrário do que propaga o presidente insano que nos
desgoverna. Se tivesse filhos ou netos estaria ainda mais revoltada com o
descaso criminoso sobre a vacinação infantil.
Esse é o outro ponto. O presidente insano que nos desgoverna e não para
de fazer e vociferar besteiras dia e noite, ecoado por militantes e por um ao
redor cada vez mais agressivo, perigoso e ignorante. Ou, pior, cercado de aplausos
vindos de quem pavorosamente pretende ou já está se dando bem com esses
disparates vergonhosos. Esse momento é um dos mais deprimentes da história
recente do país, e não há como se sentir confortável diante desses passos
claramente em direção ao perigo total nesse ano eleitoral. Um pesadelo, que
vivemos acordados; mas ainda inertes.
Isso não é normal. Não se pode normalizar a barbárie. Na contramão do
mundo vamos nos esborrachar batendo de frente. Governo e Estado confundidos,
achincalhados e comparados. Tudo fora da ordem. Estão rindo da nossa cara. Nos
ameaçando, xingando, agredindo. Pior, matando. Inclusive o futuro, que vem
sendo ferido continuamente.
Como estamos reagindo? Ah! - Fazendo piadinhas, memes, por aí tirando
pelo da cara deles nas redes sociais, dando uns apelidos memoráveis (até
concordo), mas dia a dia a situação só se agrava, como se todos eles estivessem
gostando desse jogo, o incentivando. E precisamos correr dele, desse jogo que
já comprovou ser ineficaz, perdendo a graça. Sem opções, divididos, brigando
entre nós mesmos, e entre os adoradores de lados opostos que acendem velas para
perigosos e já traçados caminhos anteriores e que inclusive nos trouxeram até
esse momento doloroso. Um ministro absurdo que declara que a primeira-dama,
essa nada, simboliza nossa mãe. Deus nos livre! E um outro lado que clama por
Lula pai, mestre, líder, no único colo de quem parece estarmos sermos obrigados
a sentar a cada disparate proferido no Planalto. No meio de tudo isso só surgem
os arrependidos de plantão, como o ex-juiz, alguns governadores e gente que
sempre está e estará por perto seja de qual governo for, como camaleões. Ou
carrapatos.
Nós, os cronistas tarados e abismados, adoraríamos mudar essa conversa,
mas para isso precisaríamos sentir as coisas mudando. E, se tem coisa que tenho
reparado – pior, a partir de mim mesma – é que o esgotamento geral tem levado
muita gente a querer fugir correndo de todos esses assuntos, o que é quase
impossível. Olhando para cima, para baixo, para os lados.
Já não sei mais onde procurar besteiras que possam me distrair, e isso
inclui assistir uma novela das nove cada dia mais mexicanada, procurar por
filmes e comédias que sempre detestei. Passar a testar receitas, talvez
procurando uma que nos ajude a encarar o desenrolar de 2022.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do
Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para
homens também, pela Editora Contexto. Nas livrarias e online, pela Editora e
pela Amazon.
marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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