Sábado, 9 de setembro de 2023 - 08h05
Poderes, dos maiores aos descarados minúsculos,
não faltam por aqui. Volitam nos palcos e no Salão de Baile Brasil. Todos nos
convidam – na verdade, obrigam - diariamente a assisti-los dançando os mais
variados ritmos, quando rodopiam diante de nossos olhos como se amanhã não
houvesse.
Há os grandes poderes, os tais três, Legislativo, Executivo
e Judiciário. (O Quarto, extra, a imprensa, tem vindo a reboque, numa espécie
de assistência da janela de onde de vez em quando avistam desafinados,
traições, descompassos). Vestem-se com garbo, sapatos lustrados, muitos cabelos
acaju, ou negros como as asas da graúna, e admitem apenas algumas mulheres na
rodinha que fazem para confabular, disfarçar, criar e ensaiar os seus
movimentos, metas e passos; e vale dizer, como uma generosidade, uma concessão,
um espaço, como quem guarda uma vaga com caixote até que ela precise ser usada.
Está ouvindo?
Todas as épocas, todos os governos, sempre assim,
movimentam-se juntos, para a esquerda, direita, centro, centrões, centrinhos,
de acordo com o tilintar, o vento, os votos, o maestro que está no púlpito,
agitando a batuta, as benesses, os cargos e acordos. O sininho. Seus movimentos
- pelo menos nas décadas em que os assisto – são repetitivos, e aqui e ali até
ensaiam alguns novos passos que chegam a divulgar, antes de esquecê-los nas
suas próprias coreografias; ou seriam biografias?
Os imagino ensaiando, muitas vezes em sigilosas reuniões
onde uns são convidados, um, por vezes mais alguns, no interior de residências
oficiais onde chegam com seus seguros carrões de vidros escuros. Cheeck to
cheek. Vão combinar algo, que logo saberemos, fingindo surpresa, e vendo todos
os outros pequenos poderes se organizando para aplaudi-los. Após o regabofe
surgirão sorrindo aglomerados na porta dessas casas. Os que dançaram. Os que
entrarão agora. Os que se salvaram, pelo menos por enquanto. Outros se retiram
pelas portas dos fundos, ressentidos, tuitando os caracteres possíveis. Não os
tiraram para dançar. Os tiraram.
Penso como protegem suas estratégias. Qual o perfume. Nesse
abraço para a valsa sussurram um aos ouvidos dos outros? Suspiram perto dos
pescoços que alguns gostariam mesmo é de morder arrancando sangue, mas
disfarçam enroscando as mãos nas cinturas, quando conduzem os movimentos,
sempre perto de alguma saída. Rodopiam. Pisam nos pés? Qualquer tropeço ou
discordância trocam de par. Uma visão mais burlesca da cena até poderia ser
aquele tipo de show de inferninhos onde se enche de notas amassadas as ligas de
quem se apresenta no palco, e que quanto mais dá, sorri e mostra, mais ganha.
As mãos, estas sempre se movimentam. Para bater no peito,
como patriotas. Apertam outras, que os grandes Poderes sempre tentam exalar,
quando juntos em público, paz e conformidade, seja envergando uniformes
militares com vistosos galardões, negras togas alinhadas, ou gravatas de seda,
adornos de relógios de marca, placas e títulos de líderes, vice-líderes de
algo, sejam partidos, bancadas, federações. Cliques espocam, garantindo que as
cenas estejam registradas, que se diga que há uma paz selada. Um acordo
fechado, em meio a tanta simpatia. A partir daí comentaristas farão suas longas
e óbvias análises, consultarão suas fontes, e tudo estará consolidado. A
coreografia será executada, com ou sem barulho, no chão previamente encerado,
com o texto do script distribuído.
Segue o baile. O Grande Balé dos Poderes. Alguns usam
“tutu”. Outros, Fufuca.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
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Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n