Sexta-feira, 6 de agosto de 2021 - 15h48
Vamos relaxar, brincar um pouco, pensando no
presidente boko-moko. Ele está fazendo tudo para o país, tal qual caranguejo,
andar para trás e pros lados. Quer voto impresso e, entre outras, com a sua
turma ataca nossas importantes conquistas. Só tirando muita onda com a cara
deles, lembrando do que, então, poderíamos até querer de volta também.
Escrevo na máquina de escrever? Mando para vocês via telex, ou no
teco-teco? Ah, já sei, enviarei um fax. Ou reproduzirei por mimeógrafo. Claro,
só depois de comprar um pergaminho, que preciso perguntar onde tem. Telefonarei
do orelhão com minhas fichas, que a fila da Telefônica lá da 7 de Abril está
grande, dando voltas – muita gente querendo o plano de expansão. Mando um bip?
Vou é jogar na loteria para ver se me arrumo na vida. Tem de furar o cartão da
loteca.
Subo ou desço a Rua Augusta a 120 por hora? Olha só quantos Gordinis,
Romisetas, que lindos SP1, coloridos, e cada cor tinha nome no documento.
“Lanchas”, como o Galaxy, o Dodge, bancos de couro que a gente escorregava para
lá e para cá a cada curva. O russo Lada, dizem, só vai aparecer quando cair uma
tal de proteção nacional, de um tal presidente contra marajás, que também vai
cair – pelo menos foi o que a vidente em borra do café disse.
Não, vou paquerar. Para achar os endereços, Guia de Ruas, aquele
catatau. Qual tênis uso? Pampero, Conga, Bamba, Kichute? A bota branca, né?
Olha só o cara com chinelo de borracha de pneu e bolsa com franjas. Cabelo
Pantera ou capricho no laquê? Gente, olha aquele arrumadinho! Comprou na Ducal?
Na Casa José Silva? Mesbla? Ah, aquilo no cabelo dele emplastrado é gomalina.
Deve ter passado lá no Banco Nacional. Ou terá sido Sudameris, Bamerindus,
Banespa, Real? A lista é grande dos bancos falecidos.
É, já tivemos mesmo muitos bancos, grandes, mas agora temos só uns três
para escolher. Lembrei até de minha primeira conta, que abri no Sudameris,
lindo o nome completo: Banco Francês e Italiano para a América do Sul. Achava
tão glamuroso. E o talão de cheque, então? Era azul marinho, cheio de
estrelinhas. É, talão de cheques é o nome daquele bloquinho que a gente recebia
para usar, muitas vezes sem fundinhos. Sim! Tinha cartão de crédito. Era
passado numa maquininha com papel carbono. Aliás, tudo usava papel para
desespero das árvores.
Cadê os parques de diversões? Tinha um bem legal aqui na Avenida Santo
Amaro, e o primeiro PlayCenter na Avenida Brigadeiro, com tobogã? Depois, foram
morrendo também, ou ficando enormes e muito mais caros e inacessíveis. E a maçã
do amor, os realejos com seus papagaios, tudo foi ficando distante.
Deu fome: o coquetel de camarão que era só pra quem “podia”. As
panquecas do Rick Store. Oi, tempos do Hamburgão, Hamburguinho, Chico
Hambúrguer, que era bom demais se lambuzar. De sobremesa, banana split. Ou,
mais chique, mousse de papaia com pingadas de licor de cassis. Nossa, nunca
mais os sonhos da doceira Abelha. A Dulca ainda existe, mas que decepção! Sem
baba-rum, sem aquelas dezenas de opções, hoje sobrou só um mil folhas, mas sabe
como é a economia, né? Agora dá pra contar as tais folhas. Cuba Libre (que
assim seja! - logo, um dia!), Ginger Ale, Seven Up, Grapette, quem toma repete!
Mas a gente se divertia sim. Às vezes até cometendo pequenos crimes.
Você teve o anel brucutu? O brucutu para fazer esse anel era uma peça, o bico
do lavador do para-brisa dos Fuscas. Ah, era deixar o fusca na rua e lá ia
embora o brucutu. Só valia se fosse assim, roubado.
Na moda não dá pra falar muito porque parece mesmo que tudo vai e volta.
Tinha courvin, helanca, salto carrapeta. A revolucionária mini saia, usei
muito, o que me valeu até a brincadeira à época de ser a jornalista com o cinto
mais largo da redação, olha só! A calça de duas cores, a boca de sino, a
cintura alta, a baggy. A modelo Twiggy, a mais magra da história, que era quase
um olho com cílios, de vez em quando a gente vê alguma na rua. Hoje tem mais
essas botocudas, com bocas que parecem ter sido picadas por abelhas selvagens,
unhas em inexplicáveis e desajeitadas garras, com as quais devem até se
flagelar em algumas horas, se me entendem.
Esses dias li por aí alguém falando sobre skates, como uma coisa de 20
anos atrás. Socorro, Revista Pop! Diz para eles que por aqui isso é coisa bem
mais antiga, de quase 50 anos, madeira e rodas de patins o sucessor do rolimã.
Eu estava lá, raras meninas, descendo as ladeiras de uma praça no Sumaré, tinha
uma boa no Morumbi. Até que a polícia dava uma “batida” e a gente tinha de
sumir.
Para finalizar, só tem uma coisa, importante: esse retrocesso todo que o
presidente boko-moko insiste e está levando o país, além de querer a volta do
voto impresso, não é legal, como essas lembranças. No passado tivemos mesmo
coisas muito boas, sim, mas foi exatamente nesse passado que vivemos também uma
ditadura, uma noite de 21 anos nessa tal pátria amada ao som de Don e Ravel,
ame-o ou deixe-o.
Caiu a ficha?
*- Boko-moko: brega, kitch, cafona, ultrapassado, de mau gosto, fora de
moda, gosto ou atitude duvidosa na estética. Gíria dos anos 60 e início dos
anos 70.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do
Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para
homens também, pela Editora Contexto. Nas livrarias e online, pela Editora e
pela Amazon.
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
Em quem acreditar, sem duvidar? De um lado, estamos como ilhas cercadas de golpes por todos os lados. De outro, aí já bem esquisito, os cabeças-dura
Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n