Sábado, 29 de julho de 2023 - 11h13
Um conhecido
passarinho azul severamente atingido e destruído por um X - agressivo,
dominador, inesperado, preto e branco – tudo diante de mais de 200 milhões de
pessoas em todo o mundo, foi um fato marcante dessa semana. O assassinato foi
dramático, sem choro nem vela. O mandante já é conhecido: trata-se de um
bilionário, o homem mais rico do mundo, bem chegado numa polêmica.
Ainda vai levar algum
tempo até que todas as penas sejam recolhidas e esquecido o trinar agudo
emitido desde a criação do Twitter, em 2006, e que desde 2010 era representado
pelo pássaro azul – que viveu, portanto, 23 anos. Chamava-se Larry Bird, em
homenagem ao jogador de basquete Larry Bird, e foi tão amado desde que chegou
que bastava vê-lo para lembrar da marca Twitter, que nem precisava ser citada
por extenso, a rede social enfim comprada e assumida pelo malvado bilionário no
ano passado.
Aliás, na ágil rede
social, de poucas palavras e longo alcance, diariamente seus mais de 200
milhões de integrantes ativos fazem tweets, em inglês justamente os pios de
pássaros, o gorjeio, o chilrear, o pilpiar, pipilar. Não se pode dizer que Elon
Musk, o bilionário, não tenha sido corajoso ao efetivar esse assassinato tão
dramático. E tão perigoso, ao mesmo tempo.
O Twitter é uma rede
social curiosa, inclusive a escolhida como uma espécie de caderninho de recados
de dirigentes políticos, de celebridades, onde dali mandam comentários,
mensagens, anunciam feitos, tentam se explicar, brigam entre si. Claro, com os
“tweets”, muitas vezes evitam o incômodo de ter de lidar pessoalmente com
jornalistas. E dão a impressão de serem sempre eles próprios a conversar com o
público, o que é bem distante da realidade. Isso fez a rede importante, até
agora insubstituível nessa função de poder, claro, captada e adquirida pelo
malvado justamente por saber de seu potencial.
O que não dá,
sinceramente, para entender, é como alguém gasta uma fortuna por uma marca
reconhecida para mudá-la. Em alguns casos, como os conhecidos aqui no Brasil,
quando Quércia comprou o Diário Popular e o fez virar o logo extinto Diário de
S. Paulo. Kolynos virou Sorriso, entre outros, mas em alguns casos isso ocorreu
por conta de registro de marca ou posicionamento. Não de quase sadismo com o
logotipo do passarinho azul executado pelo bilionário, trocado por este
horrendo X, o ícone que invadiu os celulares, os computadores, causando um
rebuliço danado, milhares de memes dos internautas, com poucas explicações
razoáveis e frieza absoluta.
O “X” da questão também
é que conhecemos uma outra história do X, e sem ser o da Xuxa, a mais lembrada
por esses dias. Recordam do poderoso Eike Batista, que pretendia ser o homem
mais rico do mundo, e que botava X em tudo que era seu, em tudo que tocava?
Pelo menos Elon Musk já é o mais rico do mundo. Era EBX, OGX, LLX, MPX, CCX,
OSX, MMX... Ele dizia que o X significava a multiplicação das empresas de seu
grupo. Pois bem, da fortuna de 30 bilhões de dólares hoje restam apenas pouco
mais de 8 milhões de reais, em tantas encrencas Eike se meteu, com cadeia e
tudo.
O X é uma letra
poderosa. É a incógnita na matemática. O contra, o versus. O cromossomo
feminino. Uma letra cheia de sons. Pode ser mesmo o X, mas vira Z (exército,
exílio), CS (convexo, perplexo), pode ser S ou SS (próximo, máximo).
Fácil de ser
reproduzida sim, sem dúvida, mas também traz em si o fim, a morte. O tal
bilionário não para de ter ideias malucas, autoritárias, pensa até em
conquistar o espaço com seus foguetes da Space X, com os quais pretende, como
transporte, levar terráqueos para colonizar Marte, que o cara pensa alto, vamos
e venhamos. Mas lembra dos desenhinhos de quadrinhos e filmes dos falecidos com
o X desenhado nos olhos? Choque, surpresa, descrença, espanto e assombro, e
também o que não queremos ver. Tal como a cruz, um desenho de linhas que pode
mesmo trazer perigosas variações.
Mas, também, claro,
poderemos sempre cruzar os braços cruzados em X diante de nossos corpos, nos
defendendo dele e de muitas outras ameaças de poderosos, de um jeito ou outro.
O passarinho, tadinho, não conseguiu.
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MARLI GONÇALVES –
Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de
Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora
Contexto. (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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