Sexta-feira, 12 de novembro de 2021 - 15h46
Ora, bolas, que se não dermos tratos à bola não conseguiremos sair
desses obstáculos e dilemas todos colocados em nossos caminhos; pedras, que ao
contrário das bolas, não rolam sozinhas por sopros, necessitam serem chutadas.
As bolas são voláteis, ágeis, trazem em si a simplicidade da forma e o
movimento. Investidas de encanto nas jogadas garantem pontos. Não é à toa que
estão sempre por perto, ganhando seus variados sentidos.
Vamos precisar todos bater
um bolão. Porque ganhar um bolão é só sonho de apostas e loterias de toda a
vida, e que em geral se esvanecem semana após semana, como as bolinhas de
sabão. As bolas, pensa, estão em quase tudo, paradas, móveis, correndo, pulando,
fazendo e acontecendo. Até esse vírus maldito que parou o mundo, que forma tem?
Bolinha, cheia de espetos, mas bolinha.
E olha que pode ser por
isso mesmo que as bolas e bolinhas – estampadas, em todos os tamanhos, cores,
combinações, claro sobre escuro, escuro sobre claro - estão novamente no auge
da moda e para qualquer lugar que se olhe, estarão lá, nos vestidos, blusas,
sapatos, gravatas – andam empurrando para lá as listras. Petit pois, em
francês, como ervilhas. Poás, em bom português.
Lembram da brincadeira que
se faz com as mãos, e os ossos são vistos como elas, bolinha ui, bolinha ui?
Não lembra? Coisa antiga. Tudo bem. Mas você sabe que é bem bom fazer
exercícios com uma bolinha nas mãos, fisioterapia barata, antiestresse, alivia
as tensões a ansiedade, fortalece os punhos. Quando você aperta uma bolinha
dessas, ocorre uma tensão muscular e ao soltar, o movimento vira um relaxamento
não apenas físico, como também emocional. Usada também para massagens; e tem
ainda aquela bola maior – bola suíça ou bola de Pilates - com a qual se faz uma
sorte de exercícios de ginástica.
Estudos afirmam que
apertar bolinhas com durezas diferentes, com a direita, com a esquerda, ajuda
até a resolver problemas diferentes, embora os pesquisadores ainda não consigam
explicar bem o porquê. Uma bolinha mais rígida serviria para lidar com questões
de “ligar os pontos”: combinar informações existentes, comparar ideias – como
um quebra-cabeça, palavras cruzadas ou uma charada. Por sua vez bolinhas mais
macias ficaram ligadas ao pensar criativo, criar soluções do zero.
As bolas surgem nos mais
variados contextos, inclusive nos jogos amorosos – se falava em dar bola para
alguém, quando o interesse por outra pessoa precisava ser demonstrado. Tudo
bem, isso é cringe? Ok, mas você entendeu – já deve ter dado bola para muita
gente por aí.
Uma das maiores e mais
originais artistas plásticas do mundo, Yayoi Kusama, uma japonesa hoje já com
92 anos, passa a vida a criar com elas, as bolas. Arte que a tornou famosa e
salva da própria esquizofrenia – ela vive há décadas, por livre vontade, em um
hospital psiquiátrico, mas nunca parou de criar com o que chama “pontos do
infinito”.
Ora, bolas, ora, porque
pensar em tantas bolas? Aconteceu só de lembrar que o fim do ano está aí, e
imediatamente vieram à tona na procura de por onde andavam aqui em casa as
bolas de Natal, aquelas bonitas, cheias de brilho, que usamos para as
decorações, as coitadas que dormem em caixas o resto do ano.
Junto, veio a sensação de
que o tempo corre rápido demais e que andamos girando em torno de nós mesmos
sem conseguir solucionar nosso próprio país, um ambiente que ficou muito mais
pra lá de tóxico nos últimos anos em que temos sabido e ouvido diariamente os
mais estapafúrdios comentários e que aos homens de bem deve causar o famoso e
doído chute nas bolas, os testículos.
Esperando ainda que não
esteja ocorrendo, para fugir dessa realidade, nenhum aumento no uso de
bolinhas, que hoje estou terrível em lembrar termos antigos, e como pelo menos
eram assim conhecidas as pílulas, psicotrópicos.
Ah, verdade! Trocaram uma
letra. Agora chamam de bala!
Bolinha, ui, bolinha, ui,
bolinha! E os meses se passaram. Veja com suas próprias mãos. Ligue os pontos.
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MARLI GONÇALVES –
Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de
Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora
Contexto. Nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
Em quem acreditar, sem duvidar? De um lado, estamos como ilhas cercadas de golpes por todos os lados. De outro, aí já bem esquisito, os cabeças-dura
Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n