Sábado, 26 de fevereiro de 2022 - 10h55
Um amigo, sábio, silencioso, tranquilo, sempre muito equilibrado, de
repente o vejo publicar no Facebook uma série de imagens de bufões, palhaços,
saltimbancos. Apenas elas, sem qualquer texto. Nesta loucura que vivemos, até
demorei um pouco para entender o claro recado que ele deixava – sua opinião
sobre a guerra que assistimos atônitos
Mas entendi, e com clareza. Há mesmo vários bufões
envolvidos nesse conflito mundial que desembocou na invasão da Ucrânia pela
Rússia, e não estou querendo aqui fazer qualquer análise dessas super sérias de
geopolítica ou histórica, que já tem bastante gente fazendo isso, alguns com
aquela velha cara de “conteúdo”, de sabichões.
Faço apenas o registro atual de que nesse conflito e em
tantos outros que vivemos eles estão lá, os bufões; pior, no poder, com
poderes. São variados. Há os poderosos como Vladimir Putin, da Rússia. Os que
caíram de paraquedas, como Volodymyr Zelenky, que preside a Ucrânia desde 2019,
e que, portanto, era até há pouco apenas um ator humorista, alçado ao cargo por
sorte e porque a política internacional também têm os nossos mesmos problemas –
o voto tentativa no novo, no desconhecido, no salto no escuro, para tentar
fugir da política tradicional, a aposta no tal diferente. Isso quando podem
votar livremente, e o que não é o caso em locais como China, Coreia do Norte
(do bufãozinho esquisitinho), a Venezuela de Maduro, e mesmo da Rússia, que ali
também liberdade não há. Uns toda hora tentando derrubar outros. Com bombas,
tanques, foguetes, envenenamentos, ataques hackers, poderio nuclear,
estrangulamentos econômicos, patadas.
Tudo sem a menor graça.
Só que depois do inefável Trump, os Estados Unidos, a super
potência, elegeu Joe Biden, o que tanto aplaudimos, mas que também rapidamente
virou decepção com aquele eterno sorriso embutido, olhinhos fechados disparando
ameaças de pouca efetividade. Claro que você está aí lembrando de vários outros
nomes e interesses envolvidos nesse furdunço e entendendo como essa salada
muito pouco divertida se transformou no maior conflito armado desde a Segunda
Guerra.
Vai sobrar para nós. Aliás, já está sobrando com queda de
Bolsa, aumento do barril do petróleo, escassez de produtos, problemas para a
importação de trigo, e a angústia de centenas de famílias brasileiras com seus
membros ilhados no meio de tudo isso.
Temos um bufão especial para chamarmos de nosso. O presidente
Jair Bolsonaro se esmera em nos enrubescer e envergonhar ainda mais diante do
barulhento e mortal cenário internacional com o seu comportamento irresponsável
– que não encontrei palavra melhor para definir, no mínimo, a forma como está
conduzindo o país nesta situação. Mais uma vez destoamos, inclusive de nossos
vizinhos. Agora é torcer apenas para que a situação atual não se agrave ainda
mais, torcer pelo cessar-fogo. Esperar para que mais essa ferida cicatrize. Mas
a marca vai ficar. Já ficou.
Não sei se por conta da superficialidade das redes sociais,
se por conta da pandemia que deixou todo mundo atazanado, das constantes crises
econômicas, de uma confusão de extremos ideológicos, ou se da cultura do ódio
que novamente vemos surgir, a verdade é que ninguém mais leva a sério nada.
E tudo é muito sério. Parece que tudo pode. Nem os próprios
bufões são levados a sério entre eles, em parlamentos, grandes mesas,
parlatórios, pronunciamentos, reuniões, em suas grandes entidades. Em seus
próprios países.
Nós não os levamos a sério.
Ultimamente surgiu mais uma chatinha modinha de linguagem.
O tal “é sobre isso” “é sobre aquilo”, que talvez você já tenha notado, usado
toda hora para resumir argumentos numa discussão, de forma a clareá-los. E
encerrar a discussão.
Então, lá vai. É sobre isso. Ninguém mais se leva muito a
sério, nem na hora do voto. Não se leva mais a sério nem os perigosos bufões.
Mas os bufões, ah, estes pessoalmente se levam muito a sério, e querem
permanecer poderosos, custe o que custar, já não são mais só apenas os bobos da
corte. Vide os nossos.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
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