Sábado, 18 de novembro de 2023 - 08h05
Todo assunto anda quente, literalmente quente,
alguns mais do que outros, até com labaredas que queimam tudo por onde passam
deixando um rastro de destruição e áreas que muitos de nós nem estaremos mais
por aqui para nos certificar se houve tempo de dar um jeito. Se do nada, das
cinzas, surgirá algo bom e renovado. Vocês sabem que a verdade é que até a
fênix renascendo das cinzas é lenda, embora seja mesmo uma bela história.
Juro. No meio desse fogaréu da onda de calor, da janela de
meu apartamento, vi um vagalume noite passada. Esfreguei o olho, estiquei o que
pude minha própria visão, pus óculos de longe, fiquei alguns minutos reparando
se não estava vendo coisas. Não. Vi um vagalume. Um só. Ele volitava em torno
de uma arvorezinha chinfrim, tadinha, onde vivem pondo lixo aos seus pés, e que
eu já cansei de me indispor com o restaurante em frente por causa disso.
Árvore não é lixeira. Árvore não é lixeira! Será que agora
depois desses últimos dias nos quais as árvores se rebelaram chacoalhadas pelos
ventos fortes, caíram, às centenas, matando, levando fios, postes, derrubando
muros, prendendo gente em casa, deixando milhões sem luz, e até sem água,
alguém vai se tocar do quanto elas sofrem numa cidade como São Paulo? Temo que
não, embora até esteja vendo reportagens na tevê enaltecendo a importância
delas. Continuo minha campanha solitária repetindo Árvore não é lixeira.
O povo não percebe que o lixo – que enfiam nelas bem
enfiadinho, mesmo que haja um outro lugar, como um poste, ao lado - mina a
base, de muitas já atacadas pelos famigerados cupins, que ódio tenho deles. O
cachorrinho faz cocô, o tutor até cata com uma pazinha e cara de nojo, põe num
saquinho de plástico (repara que sempre são bem coloridos), dá um nó e paf!
Joga lá no pé da árvore, às vezes fica quase um arco-íris. Também tem quem as
encha de pregos e cartazes, abrindo feridas. Isso quando as coitadas não têm
ainda mais o azar de ter como vizinhos gente que acha que suas folhas sujam o
chão, que atrapalha alguma manobra da garagem ou até mesmo a fachada do bar.
Cansei de saber de malucos jogando óleo quente ao pé delas até conseguir que
morram, assassinos. Não foi por menos que se rebelaram esses dias, como que
combinando uma vingança. Sobrou para a concessionária de energia elétrica, a tal
Enel. Sobrou para a cara de pau do prefeito que só pensa naquilo, a eleição do
ano que vem.
(Parênteses: é tão descoordenada a ação da Prefeitura por
aqui que no mesmo dia, temperatura de quase 38 graus à sombra, no qual uma
criança de dois anos foi esquecida dentro da perua de transporte escolar de uma
creche municipal e morreu, sem ser notada por ninguém, nem pela creche onde não
chegou, uma tristeza enlouquecedora, na propaganda de noite o prefeito falava
que “sempre há vagas nas creches da cidade, preparando o futuro de nossas
crianças”). Pois é.
Mas vou voltar a falar do meu vagalume. Amo vagalumes e já
há anos não via nenhum porque não tenho viajado, continuo aqui na urbanidade
total onde só rolam baratas em série escapando dos bueiros. Aranhas! Não sei
você, mas nos últimos tempos elas têm sido bem presentes e em todos os locais
da casa, aquelas pequeninas pero perigosas, pretinhas (sim, são pretinhas) e as
horrorosas, marrons. Não andam, pulam. Pulam e somem, não deixam para trás nem
as teias. Fora isso, as abelhas sumindo e outro dia li uma matéria observando
que nem os insetos antes comuns se esborracham mais nos para-brisas, nas
estradas, como acontecia.
Estamos em completo desequilíbrio da natureza. Não é de
hoje. Mas agora o povo tá acordando e dando nome para o perigo com o qual
decididamente não sabemos e nem temos qualquer condição de lidar, despreparados
todos para as consequências cada vez mais cruéis. São as pomposas mudanças
climáticas, do qual estamos ouvindo falar com frequência, como se coisa nova
fosse. Até o Ministério do Meio Ambiente ganhou mais letras na porta: agora é
do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil. Aliás, não tenho visto muito a
Marina Silva nesse meio tempo de horror, estranho. Não era ela quem devia estar
cuidando desse preparo para o futuro sem que sejamos fritos pelo calor, ou
afogados pelas enchentes, ou levados pelos ventos?
Nada está normal. Calor sempre tivemos, tudo bem, somos um
patropi. Mas está insuportável aqui na selva de pedra, mais abafado, congestionado,
irritante. Para descrevê-lo, se não o sente, vou ter de usar uma vivência que
mulher nenhuma deseja nem para seu pior inimigo ou inimiga: a menopausa. Está
sentindo muito calor? Incontrolável? Tá afogueado, suando de pingar, com os
nervos à flor da pele? Pois bem: saiba que é assim que as mulheres se sentem
durante um bom tempo quando entram na menopausa. É horrível. Assim mesmo. Não
há ar condicionado que dê conta, muito menos os desregulados que gelam ossos,
choque térmico total.
É ou não é para achar que foi algum sinal dos céus, uma
luz, o que vi? Vi um vagalume. Vi sim.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
Em quem acreditar, sem duvidar? De um lado, estamos como ilhas cercadas de golpes por todos os lados. De outro, aí já bem esquisito, os cabeças-dura
Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n