Sábado, 18 de dezembro de 2021 - 10h36
Sou
bem sonhadora, o que me dá a vantagem de pelo menos às vezes, acordada,
conseguir levantar o pé dessa realidade, no mínimo torpe, fase que estamos
atravessando aos trancos e barrancos. Mas nunca, dormindo, sonhei tanto, e os
sonhos mais loucos, do que nesses últimos meses. São muitos, coloridos, e o
mais engraçado é que em geral andam sem conexão direta com quaisquer fatos
reais; aliás, que possam até ser descritos assim. Tem acontecido com você aí
também?
Os nossos sonhos, aqueles que
elaboramos enquanto estamos acordados têm, a princípio, algum pé e cabeça,
alguma lógica. Sabemos de onde eles vêm, de desejos, do coração, de coisas que
almejamos viver, fazer, ver acontecer. Nessa época do ano aumentam
consideravelmente principalmente porque começamos a fazer aquelas enormes
promessas para nós mesmos. Elegemos a zero hora do primeiro dia de janeiro como
se mágica fosse. O problema, claro, depois, passam a ser as frustrações por não
cumprir muitas delas. Daí, sempre melhor nem contar para ninguém quais foram
essas promessas, para pelo menos não ter de lidar com isso também. Já basta a
gente se cobrando.
Mas adoraria saber exatamente
um pouco mais sobre a fonte dos sonhos loucos e surreais das noites. Do que são
feitos? Adianto que não bebo, durmo bem, durmo cedo, sem aditivos, aquele
soninho de botar a cabeça no travesseiro e ir embora, uma verdadeira bênção
nessa altura dos acontecimentos que vêm mexendo tanto com nossas cabeças, com
nossa ansiedade. Conheço tanta gente que está com sérios problemas de insônia,
e não é por menos o recorde de tarjas pretas sendo vendidos.
Uma vez ouvi dizer – precisa
acreditar, ser um pouco mais esotérico – que enquanto dormimos o nosso
espírito, nossa alma, sei lá, essa parte invisível de nosso ser, se separa e
viaja em um espaço etéreo que não conhecemos. Bom, pelo menos uma viagem que
não custa nada, que não precisa agendar, nem correr em agências de turismo,
muito menos se preocupar com essa loucura de passaporte, se tomou, se testou,
vírus e cepas para lá e pra cá, controle alfandegário; o combustível também não
preocupa, porque nos sonhos a gente até voa. Não precisa arrumar malas,
reservar assento, resolver onde ficar, prazo de ida e volta, horários, com quem
deixar os bichinhos. Tudo aquilo que faz com que a gente quase se canse mais
ainda com providências a serem tomadas. Também saem bem mais baratas essas
extravagantes viagens noturnas, interrompidas apenas pela vontade de fazer
xixi. Depois, a volta para a cama faz com que outra viagem nos sonhos comece.
Digo que essas visões têm sido
o de melhor e mais criativo nesses meses quando preocupações e notícias
esquisitas têm sido a nossa rotina. As vivemos naquele momento. Elas somem
depois, deixando apenas alguma sensação. Penso em manter o tal caderninho do
lado da cama, até já tentei. Não deu muito certo. Primeiro porque precisaria
dar uma acordada legal para anotar direito; e as que fiz, meio sonada, depois
não houve Cristo que me deixasse entender minha própria letra – parecia aquelas
palavras doidas de um idioma inexistente que a primeira dama cantou outro dia,
e que depois ainda tentou explicar. Só uma vez, e este ano, consegui: e o
imponderável aconteceu. Nas anotações, que aliás demorei meses para rever,
havia uma rascunhada sobre gatos brancos. E não é que já estava ao meu lado a
minha Nyoka, adotada de uma ninhada toda branca? Sucessora da que perdi em
fevereiro, a Love.
Vamos sonhar às noites que é o
melhor. Anda cansativo todos os dias ao acordar de vez pela manhã correr para
ver se o governo caiu, se algo mudou, se o cara não falou ou ordenou mais
alguma bobagem. E descobrir sempre que parece que só piora. Tenho visto muita
gente reclamando das notícias, eu bem sei, mas puxa, é o pesado papel da
imprensa apresentar a realidade, e ela está sendo de verdade muito cruel para
todo o mundo. Não tem jeito. Não adianta parar de ler notícias, como tenho
ouvido alguns tentarem. Não reclamem contra o mensageiro: ele traz os elementos
para que, informados, consigamos mudar, transformar as situações. Respeite a
imprensa.
Essa semana está chegando com
o Verão, com o Natal, finalizando mais um ano, e o próximo mais uma vez não
será bolinho – já dá para antever.
Meu desejo para todos, agora,
é que tenham boas noites de sono, e com sonhos que tragam as melhores
fantasias, os locais mais fantásticos, e que nessas horas possamos conhecer
pessoalmente a Esperança, e que essa nos alimente a vida real.
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MARLI
GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo,
autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para homens também,
pela Editora Contexto. Nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
Em quem acreditar, sem duvidar? De um lado, estamos como ilhas cercadas de golpes por todos os lados. De outro, aí já bem esquisito, os cabeças-dura
Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n