Sábado, 16 de abril de 2022 - 10h13
Meu imortal Ignácio de Loyola Brandão parece mesmo ter previsto
intuitivamente o que viria quando escreveu e publicou, em 1981, “Não verás país
nenhum”, uma de suas premiadas obras de ficção, quase real 40 anos depois. Eu,
hoje, apenas digo mais: a esta altura da vida, nunca pensei que veria,
testemunharia, as coisas que acontecem diante de nós diariamente, seguidas de
outras e tantas outras, como se nada mais importasse, numa estranha caminhada
E não saberemos ainda de muitos fatos que agora tentam nos
negar até o próximo século, como se eles se sentissem tão importantes para que,
daqui a cem anos, seus malfeitos sejam lembrados, pesquisados e divulgados por
historiadores, quando precisamos apenas é que hoje sejam contidos antes que se
efetivem, antes que marquem ainda mais esse tempo de terror. Não entendem que
seus nomes já estão marcados, e da pior forma possível, e porque os detalhes do
que praticam são antevistos.
Espero não parecer exagerada aos olhos especialmente de
quem anda desligado dos fatos – e cada vez mais sei de pessoas que estão
fazendo isso, se desligando, como se assim as coisas possam se transformar. Não
fico sabendo, então, não me importo, pensam uns. Outros, desistiram, quedando
apenas cansados. Há os umbigueiros que, se não atingidos de alguma forma, dão
de ombros à toda a comunidade.
Talvez por profissão que me mantém ligada, talvez pelo
signo, Gêmeos, diretamente ligado à comunicação, à curiosidade, talvez sei lá
por que, estou sempre sintonizada nos fatos aqui do meu cantinho. E eles andam
bem impressionantes. Pioraram na pandemia, principalmente os ligados à
idiossincrasia humana. E os que pensaram que sairíamos melhores desses tempo
terrível – e cheguei a acreditar nisso – perderam feio a aposta.
Saímos piores, mais pobres, mais amedrontados, mais loucos,
mais feios, impacientes. Mais violentos. Mais egoístas. Como se ter sobrevivido
não tivesse sido significativo, não obrigasse a uma renovação interior depois
de tantas perdas, angústias e sofrimentos.
Saímos com casca mais dura, parece. Porque estamos
suportando – protestando apenas baixinho, ou em letrinhas nas redes sociais -
ataques diários à nossa integridade, à nossa inteligência e especialmente à
nossa paciência. Vivemos tempos difíceis mundialmente, compreendo, mas em nosso
país vivemos tempos particularmente perigosos e levianos, com a estrutura
política abalada, e o incentivo à divisão cada vez mais danoso para aquele
futuro, lembram? – aquele lá que nunca chega. Ou quando chega queremos gritar.
Senão, vejamos, para onde se olha: a miséria, a violência
nas metrópoles incontrolada, tornando qualquer ida à padaria esporte de alto
risco. Tudo será rigorosamente investigado, dizem, mas o que se vê é polícia
perdendo tempo ocupada em controle e repressão ao comportamento diferente,
justamente à diversidade que conquistamos. Assassinatos de mulheres, o
feminicídio, fato diário e corriqueiro; assassinato de transexuais e travestis
nos posiciona como um dos locais mais perigosos do planeta. Crimes contra
turistas que nos afastam cada dia mais de uma de nossas principais fontes de
renda e investimento. Como se não bastasse o extermínio dos povos indígenas e
seus habitats. A construção desenfreada que nos faz temer se em uma noite não
seremos expulsos de nossas casas impiedosamente, tudo substituído por torres
horrorosas.
E agora essa que tentam nos impor negando por decreto
informações para tudo que perguntamos com direito na base na lei, na
transparência de dados, sigilo de 100 anos, sobre tudo que esse desgoverno faz
no escurinho do cinema, os encontros que mantêm sob nossas barbas, combinando
malditos planos corruptos com uns seres que saíram das trevas sob mantos
inclusive religiosos. Não basta apenas o que esfregam com sua inoperância, há a
provocação insidiosa à luz do dia, o incentivo ao armamento, à burla da
democracia.
Não vemos país nenhum. Vimos e já vivemos o terror do
passado. Não veremos mais nada se não nos ligarmos e agirmos.
Aliás, se acaso avistar alguma luz, avisa, que o verbo ver
tem muitas flexões. E reflexões.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
Em quem acreditar, sem duvidar? De um lado, estamos como ilhas cercadas de golpes por todos os lados. De outro, aí já bem esquisito, os cabeças-dura
Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n