Sábado, 4 de dezembro de 2021 - 07h55
O momento terrivelmente que passamos é total, com a expressão
podendo ser aplicada para definir praticamente todos os acontecimentos pelos
quais passamos ou somos informados. A pergunta é: e se piorar, o tempo vai
fechar mais ainda?
É terrível. Tenho me sentido assim, terrivelmente
aborrecida, e lutando, girando igual Giroflex, movimentando a cabeça para todos
os lados, buscando encontrar coisas, pessoas, experiências legais que possam me
fazer sentir, de alguma forma, ao contrário, melhor, terrivelmente feliz,
animada, mais confiante em mudanças. Aqui e ali até que tudo bem, mas sei ser
mais por conta de meu espírito otimista e bem humorado, e que às vezes nem sei
bem como ainda consigo manter.
O clima de final de ano já não ajuda muito, convenhamos. O
clima de final de ano de dois seguidos dominados pela pandemia e tudo o que
significa, e as mudanças que ela não para de trazer, eis o mundo transformado
numa caixinha de surpresas. O que estamos encontrando aí fora, no tal novo
normal, bem diferente, e tenho passado um tempo observando para entender
melhor, ainda sem clareza e com muitas dúvidas.
Vejo os estádios de futebol lotados e as festas dos times
campeões nas ruas. Vejo de longe, claro, nas telas. Incrível como nosso país se
mobiliza pelo futebol. Se mobiliza também pelos shows, especialmente os
gratuitos, que andaram pipocando nesse momentinho de maior abertura. Nessas
horas o medo é substituído pela euforia. Aglomerações nesse momento parecem
provocações para forçar até onde tudo isso vai.
Mas raramente vemos o país mobilizado para melhorar. Ouvi,
e você também, e com toda a certeza, muitas vezes, que assim que fosse possível
haveria manifestações para mostrar o desagrado com a política desse governo
cada vez mais mal avaliado – nas pesquisas, nos papéis frios, nas decisões e
indecisões, excesso de bobeiras, nos resultados cada vez terrivelmente ruins em
todas as áreas, economia, saúde, educação, saneamento, uma lista enorme que
inclui a incapacidade de controle, organização, compreensão e ação efetiva.
Estou aqui esperando, sentada, balançando a perninha. Sem
entender porque – à beira de um ano eleitoral fundamental – ainda estamos
tratando com os mesmos candidatos, alguns do século passado, nos mesmos debates
e embates, as mesmas divisões, os mesmos erros prontos a serem novamente
cometidos. Ou pior, perpetuados. O povo nas ruas, sim, no futebol, nos shows, e
também no bate perna de milhões à procura de emprego, de algum trabalho, do que
levar para casa, aglomerados em filas e plataformas de transportes públicos que
nunca se expandem, a não ser em promessas.
Já ouvimos os batuques ecoando um incerto Carnaval. Sabemos
de festas já canceladas de Ano-Novo. Máscaras continuarão obrigatórias, tenha
certeza, por mais um bom tempo, embora cada vez mais estejam sendo abaixadas,
criando conflitos com os que querem se cuidar. Corremos para vacinar mais e
mais, ao mesmo tempo que as nossas porteiras e fronteiras continuam sedutoras
aos que se recusam a elas. O coronavírus continuamente trocando de roupagem
arreganha os dentes para todo o planeta.
Aí chega uma dúvida cruel. O que acontecerá se acaso as
coisas se complicarem demais e novamente? Ou seja, se for preciso que se tomem
decisões verdadeiramente radicais? Quero dizer, fechar tudo, parar tudo. Isso é
terrivelmente possível.
Vai ter guerra? Desobediências que poderão levar a
conflitos civis? Quem mais tentará se aproveitar desse momento? Qual será o
comportamento nacional?
O futuro comprometido está próximo de, além de ter sido
aceito um ministro “terrivelmente evangélico” para integrar pelas próximas
décadas o principal tribunal de decisões fundamentais, todos entendermos na
pele que esse não é um bom advérbio. Terrivelmente é tudo de ruim; assustador,
forte, violento.
Temos de falar sobre isso. Ainda teremos muito o que falar
sobre isso tudo.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. Nas livrarias e online, pela
Editora e pela Amazon.
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
Em quem acreditar, sem duvidar? De um lado, estamos como ilhas cercadas de golpes por todos os lados. De outro, aí já bem esquisito, os cabeças-dura
Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n