Domingo, 2 de agosto de 2009 - 12h03
RAIMUNDO BRABO
Tive a sorte de fazer um vôo no roteiro Belém/Brasília/São Paulo na condição de “céu de brigadeiro”, que na linguagem de aeronautas significa um horizonte sem nuvens e turbulências. Ao longo da viagem pude avaliar a geografia e o uso da terra, saindo da Amazônia rumo ao sul do País. Então me veio a preocupação com o futuro da região. Depois recorri às imagens de satélite, para reforçar as impressões aéreas que ficaram gravadas em minha memória.
Ao sair da Amazônia deixa-se o verde para sobrevoar uma região matizada semelhante a um tapete ou “colcha de retalhos” que representam os plantios mecanizados em diferentes polígonos ou de círculos quando sob pivôs centrais de irrigação. Para onde nos permite a visão no horizonte avista-se somente canaviais, cafezais, plantios de soja, cítrus e eucalipto, cercando os aglomerados urbanos. Não existem mais florestas remanescentes ou pelo menos as matas de galeria. Os rios estão literalmente desnudos no meio das áreas de cultivo. Estamos de fato transformando o Brasil no “celeiro do mundo”, à custa de um gigantesco desequilíbrio ambiental.
Comparo esse avanço do agronegócio e das áreas urbanas do sul para o norte do Brasil nos últimos 50 anos a um gigantesco “rolo compressor”. O Nordeste só tem escapado pela escassez de água. Então, o destino é a Amazônia.
Mas será que a Amazônia resistirá a esse modelo de uso da terra considerando a sua importância ambiental como reguladora do clima tanto para a própria região, quanto para o País e para o Mundo? Quais serão as relações de causa e efeito para a maior bacia hidrográfica da Terra, caso esse modelo de “desenvolvimento” venha a se reproduzir?
O que mais preocupa é que a frente deste “rolo compressor” estão as atividades econômicas extrativistas de alto impacto ambiental e baixo valor agregado como a pecuária extensiva, exploração madeireira e mineração, tendo como principal aliado o uso do fogo.
Além do mais a Amazônia continua sendo o “novo eldorado” para grande parte da população brasileira em busca de novas oportunidades ou em razão da posse da terra ou do anúncio de projetos estruturantes como hidrelétricas ou mineração. Segundo o IBGE entre as cidades com mais de 1 milhão de habitantes, as que mais cresceram no período de 1991 a 2000 foram exatamente as duas mais importantes da Amazônia, Belém com 4,59% a/a e Manaus com 3,69% a/a. Destaca-se também o crescimento de cidades interioranas da Amazônia como Santarém, Altamira e Marabá no Pará, muitas passando pelo complicado processo de favelização.
Como pano de fundo da exposição gradativa do solo de norte a sul do Brasil, fica sombreada a centralização de renda e a qualidade de vida que como numa linha divisória, separa o norte do sul maravilha.
A Amazônia ainda tem a maior parte de sua área florestal e de águas preservada. Ainda é tempo de se repensar um modelo de preservação ambiental com legislação específica para a região. O modelo agrícola de ocupação da Amazônia deve ser aquele que mais se aproxime da diversidade ambiental, como sugestão os sistemas agroflorestais e agrosilvipastoris, sob pena de se repetir o insucesso das experiências de plantation de seringueira da Ford em Belterra e de monocultivo de arroz do Projeto Jarí em Almeirim, ambos no estado do Pará.
(*) Pesquisador da Embrapa em Belém, colabora com a Agência Amazônia com artigos e poesias.
Fonte: Montezuma Cruz - A Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião.
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