Segunda-feira, 28 de abril de 2025 - 13h25
A leitura de Frank Joseph (“Atlântida e outros mundos perdidos”) tem me feito bem, a ponto de me indignar o suficiente com tantas protelações do poder público no que diz respeito à salvação de nossos arquivos impressos.
Aprendo que o primeiro mapa da Ilha de Atlântida, feito no Egito após descrição do filósofo Platão, foi obra do polímata alemão Athanasius Kircher (1602-1680), padre jesuíta, matemático, físico, químico, linguista e arqueólogo, o primeiro a estudar a fosforescência, inventor do primeiro projetor de eslaides e de um protótipo do microscópio.
Delicio-me, sempre à noite, com esclarecedores capítulos desse livro que adquiri pela pechincha de R$ 10 num sebo temporário dentro do Porto Velho Shopping. Também me espanto com revelações cruéis: o primeiro lar do mapa da ilha fora a Grande Biblioteca de Alexandria, instituição construída por Ptolomeu II e incendiada (!) por fanáticos religiosos em 392 d.C sob as ordens do imperador cristão Teodósio I.
Na Biblioteca havia diversos livros e referências à Atlântida, e eles se perderam, junto com outros milhões de volumes. Levado para Roma, o mapa de Athanasius Kircher escapou dessa destruição.
Já batemos repetidamente nas mesmas teclas: mostramos no Facebook – jornalista Antônio Fonseca, eu, e outros mais, a situação de penúria das coleções de jornais na Biblioteca Francisco Meirelles e no Museu da Memória Rondoniense (MERO). O jornalista Marco Aurélio Anconi lá esteve com membros da Academia Rondoniense de Letras, indignando-se com a situação e publicando um texto na internet.
Exemplares que não estão com páginas arrancadas ou cortados com tesoura e réguas, começam a virar pó. A máquina de digitalização pertencente ao município corre o risco de “engasgar”-se igual a motor de carro que há tempo não anda, pois nunca funcionou. Espera-se agora que um convênio com o Instituto Federal de Rondônia (IFRO) possa tirá-la das teias de aranha.
Comparação indispensável: o crime de atrasar a recuperação do patrimônio literário e histórico do velho Guaporé e de Rondônia é tão nocivo quanto aquele ocorrido em Alexandria. A diferença está nos métodos: uns ateiam fogo, outros parecem não se importar se a imensurável matéria-prima histórica guardada em prateleiras e gavetas tem prazo de validade.
No MERO, um dia tive o privilégio de pôr as mãos em mapas da cidade de Porto Velho desenhados nos Estados Unidos, no século passado. Lá também estão guardadas fotografias antigas da construção e do funcionamento da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
Ali estão obras de arte, sucatas de ferro e cerâmicas; também foram catalogados fósseis datados de 45 mil anos (!). A sala confiada à artista Rita Queiroz exibe, além de belíssimos quadros retratando a natureza, vidrinhos com óleos usados durante o pré e pós-parto por mães nos seringais às margens do Rio Madeira.
Ainda o livro que leio (pág. 41): “Semelhante às conclusões modernas forçadas pela compreensão atual da geologia da Dorsal Meso-Atlântida, o mapa de Athanasius Kircher retrata Atlântida não como um continente, mas como uma grande ilha. Indica um vulcão alto e localizado ao centro, provavelmente destinado a representar o Monte Atlas, e possivelmente o Monte Ampére descoberto em meados do século XX por uma equipe da National Geographic, junto de mais seis rios.”
A preservação cultural e histórica é tudo de bom em um mundo dominado por 80% de besteirol em redes sociais, no Waths App e noutros aplicativos. O ser humano teima em se iludir.
Se a humanidade antes de Cristo salvava hieroglifos e inscrições em couro, hoje temos a maciez do scanner e as nuvens para guardar aquilo que teima virar pó, por incúria ou desfaçatez. Por que não proceder logo a essa salvação da memória, elegendo-a entre as prioridades municipais e estaduais?
Impossível conceber que uma máquina de scanner só funcione após a troca do telhado e a pintura do Museu da Memória, que tem supervisão estadual, ou quando a Biblioteca Francisco Meirelles receber a devida atenção do município?
Confesso que, de um lado entrego os pontos, enquanto de outro mantenho a chama da esperança. Ou seja, aqui repetindo o dístico no alto da primeira página de uma das edições do meteórico jornal “Barranco” (1979-1980): “Em terra de sapos, de cócoras com eles.”
E a repórter foi à ZBM, de bicicleta!
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