Quinta-feira, 20 de setembro de 2018 - 16h03
MONTEZUMA CRUZ
Nesta quinta-feira, cheguei cedo ao Posto de Saúde Maurício Bustani, onde uma mulher irritou-se por ser acusada de furar a fila. Ela apenas procurava o caminho para a sala de Regulação e não disputava lugar algum noutra fila, para dentistas.
“Baixe sua voz, se enxergue, viu?”, ela ordenou. O queixoso impaciente calou-se.
Fui o terceiro numa das filas. Por volta de 8h15 chegou a minha vez e, numa só tacada, a moça da Regulação marcou diversos exames para amanhã (21/9) cedo, na Policlínica Oswaldo Cruz.
Dei-me por satisfeito, pois há mais de um ano desconheço a minha taxa glicêmica, consequências da taquicardia, situação da hérnia de disco, visão, rins, e a própria saúde mental. Às 9h40 já estava no Centro Oftalmologia da Avenida Calama, marcando consulta para os novos óculos. Na próxima semana, se Deus quiser, abandono a grife camelódromo da Rua Barão do Rio Branco.
Volto ao asfalto quente da avenida e leio o cartaz do candidato Da Silva, no vidro traseiro de um automóvel: “Me adote”. Concorrendo em diversas eleições, até agora ele não teve votos suficientes para ser um dos 24 parlamentares estaduais.
Apressado, o ciclista vendedor de coco passa por mim, apertando aquela
buzina estridente, mais forte que canto de galo de sítio. Subo a pé a
longa avenida, no sentido bairro, deparando-me com uma locutora
transmitindo quase aos gritos a inauguração de uma loja de tintas. Ah! O
rádio que antes provocava o arrepio e tinha locutores de verdade, hoje
parece hospício. Aliás, há hospícios mais calmos.
Em frente ao
supermercado, ouço um velhinho dizer a um homem mais jovem: “Quando eu
passar pelo sofrimento, vou pedir para o médico desligar os aparelhos”. A
família precisa adotá-lo melhor, coitado.
Saí para me consultar e
vejo essas cenas. Lembro-me que o médico Christopher Rosa me informou
no ano passado a respeito de uma tal iatrogenia [doença com efeitos e
complicações causadas como resultado de um tratamento médico]. Dizia-me
que vem ocorrendo situações em que famílias deixam atender o doente,
permitindo-se a agressões verbais e psicológicas, e quando isso ocorre
entre pessoas de baixa renda, é grave.
Entrevistado por mim, ele
revelou: “Até 2050 o mundo terá 131,5 milhões de pessoas convivendo com a
demência em países de baixa e média renda, e até lá, um quinto do
planeta será formado por idosos”.
E, a respeito de Porto Velho:
“A cada semana a POC elabora um ou dois diagnósticos novos de demência e
depressão. Dos 519 mil moradores desta Capital, 30 mil (5.78%) são
idosos. Doenças crônicas controladas pelas equipes multidisciplinar e
interdisciplinar aparecem em pessoas na faixa de 75 a 79 anos.
Assim,
mesmo ouvindo o discurso do ódio na política, descambando para a ofensa
ou julgando a quem nem sequer conhecemos direito, precisamos ser mais
tolerantes, para merecer assim o direito de receber atendimento a tempo e
hora, onde quer que seja.
Regra básica se quisermos alcançar
“pelo menos” 70 anos de idade. A ansiedade e a depressão são inimigas, o
restante tem jeito – até Rondônia e o País.
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