Terça-feira, 7 de fevereiro de 2012 - 14h53
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
Os passageiros do ônibus especial da Viação Rondônia levavam pacotes de bolacha, sanduíches e cachos de banana. Afinal, não havia como prever onde, como e quando almoçariam. Seguem alguns trechos da matéria deste repórter, publicada na página seis de O Globo, em 4/11/1976 e também no jornal A Tribuna, cujo diretor, Rochilmer Mello da Rocha, pertencia ao Diretório Regional da Aliança Renovadora Nacional (Arena):
1976: uma concorrida excursão política no agonizante Território Federal de Rondônia revelava o que um político é capaz de fazer para conquistar o eleitor /REPRODUÇÃO |
A longa viagem dos arenistas de Rondônia em busca do voto.
“São 5h30 da última sexta-feira de outubro de 1976. Defronte ao Diretório Regional da Arena, na esquina das ruas Joaquim Nabuco e Carlos Gomes, vão chegando os integrantes de uma caravana que percorreráas localidades ao longo da BR-364, aberta 16 anos atrás pelo presidente Juscelino Kubitschek. O grupo reúne dez candidatos a vereador liderados pelo presidente arenista, advogado Odacir Soares Rodrigues; pelo ex-governador Wadi Darwich Zacarias; e pelo ex-prefeito de Porto Velho, José Saleh Morheb, antigo presidente do PTB no Território. Ao todo, trinta políticos”
Para Iza Freazza, correspondente do Pasquim (semanário humorístico editado no Rio de Janeiro) em Roma, essa foi “a reportagem política do ano”.
O elogio saía nas famosas Dicas daquele semanário. Por que razão? Era a última caravana na história do Território Federal que mais tarde se transformaria em mais um Estado amazônico. Começava engraçada e assim terminaria a viagem de 1.500 mil quilômetros (ida e volta) entre a capital rondoniense e Vilhena, na divisa com Mato Grosso.
Papel e poeira no estradão
Os políticos comentavam o sofrimento dos motoristas que se dirigiam ao Estado do Amazonas: para percorrer os 750 quilômetros entre Cuiabá e Vilhena e outros 750 km para alcançar Porto Velho, eles precisavam ter saúde de ferro.
De fato, a antiga BR-29, mais tarde rebatizada de BR-364, desafiava principalmente motoristas de caminhão, que não iam além dos 30 km/h na soberana poeira.
“Eleitor àvista”–gritava o candidato Edgar Lobo de Vasconcelos, primo de Zagalo, ex-jogador e ex-técnico da seleção brasileira. Os candidatos Esmite Bento de Melo, Eduardo Lima e Silva, JoséCampelo e Geraldino de Souza acordavam com o grito. Num grande esforço, abriam as janelas, cobertos de pó, e atiravam folhetos da Arena em direção a um pequeno grupo de pessoas àbeira da estrada.
Meia hora depois, outro grito eufórico de Vasconcelos: “Ali tem eleitor! Olha a casinha”. A papelada voa e três crianças saem correndo para apanhar os panfletos. Anteriormente, ninguém quis catar papéis no meio da poeira.
Bolas plásticas, promessa e confusão
O ex-sertanista da Funai, Osny Ferreira, pedia votos para vereador em cima de uma caminhonete /ARQUIVO FAMILIAR |
Ariquemes, Km 197, 13h. O cansaço da viagem jáera sentido. Odacir Soares ordenava a parada para o almoço. Desciam e eram recebidos pelo administrador da vila, Olavo Alves Nobre, 51 anos, há15 na região.
Desolado, Nobre via o povo se dispersar. Odacir insiste em fazer o comício após o almoço. Enquanto os famintos se abasteciam no Restaurante Iracema, às margens da BR-364, um cabo eleitoral percorria as ruas da vila num Fusca, convidando para a concentração arenista. Terminada a refeição, o ônibus conduzia o grupo para Nova Ariquemes, seis mil habitantes –prolongamento da vila de origem –situada no meio da mata.
Mil pessoas se aglomeravam num terreno vazio, entre elas, umas duzentas crianças. O candidato Osny Ferreira, 38 anos, mineiro, ex-sertanista da Funai, subia na carroceria de uma picape improvisada de palanque. Sob um calor de 38 graus, às 2h da tarde começava, enfim, o comício, em meio àgritaria das crianças que pediam bolas plásticas coloridas ao candidato Manoel Pereira Bezerra, 62, dono de um bazar em Porto Velho.
“Assim não dá! Eu faço uma programação e vocês furam meus planos. Quem disse que eu ia dar bolas? Isso aqui épra filho de eleitor!”–irritava-se Bezerra, gordo, calvo, suando por todos os poros.
Na caminhonete, Edgar Vasconcelos, óculos grandes e escuros, éconfundido com o cantor Valdick Soriano. “Quem éaquele, comadre? Éo cantor que joga o chapéu pro povo?”–indagava a mulher.
Ariquemes, nascida com apenas 40 casas, játinha seiscentas. Em 1978 produziria cafée cacau. Centenas de famílias recém-chegadas do Paraná, de Mato Grosso, Minas Gerais e do Espírito Santo, abrigavam-se sob lonas plásticas. Ainda não tinham o seu lugar.
A criançada identificava rapidamente o ônibus da Viação Rondônia. Sem demora, chega atéManoel Bezerra. Um saco com 50 bolas era disputado aos gritos e aos empurrões por duas centenas de meninos e meninas. O vereador Amizael Silva queria descer, mas não conseguia. “Espera aí, criançada, o candidato das bolas éaquele lá, o gordo Bezerra”, diria.
Confusão formada, comício tumultuado. “Seu Bezerra! Seu gordo! Eu nunca ganhei uma bola, me dêuma!”–gritava um dos garotos. Pressionado e jásem estoque, Bezerra prometia atendê-las “mais tarde”. Convocado pelo animador do comício subia àcaminhonete para dizer que havia construído a BR-364. O povo ia se dispersando, o motorista liga o motor do ônibus, todos estavam acomodados. Acelerava forte, mas não conseguia sair. A criançada estava toda na frente do veículo. Tentava uma vez mais e o ônibus saía, num arranco. “A Arena vai perder as eleições aqui, por causa dessas bolas”, advertia o candidato Vasconcelos.
Odacir Soares, na época presidente do Diretório Arenista, foi esquecido pelo motorista do ônibus /DIVULGAÇÃO |
Êpa! Esqueceram Odacir Soares
“São quase 16h. Começa a chover e o ônibus tem dificuldades para vencer os atoleiros. Passa por Jaru, mas não pára. Não vale a pena fazer comício debaixo de chuva. Às 20h, a caravana chega a Vila de Rondônia, 60 mil habitantes, a 370 km de Porto Velho, a base econômica do Território Federal. Quatro milhões de sacas de arroz foram colhidas este ano; o feijão évendido nas calçadas a Cr$ 12 o quilo.”
“Dentro do ônibus, a esperança de conquistar votos volta animar os passageiros, quando alguém pergunta: Êpa, cadê o Odacir? O advogado acreano (que se elegeria senador da República em 1982) ficara para trás. Apavorado, o motorista temia dar de cara com a meninada em busca das bolas prometidas por Bezerra. Havia esquecido ninguém menos que o presidente regional da Arena. Embarcando na picape do comício, Odacir logo alcançava a caravana.”
A empoeirada Vila Ariquemes era assim, à beira da rodovia BR-364 /KIM-IR-SEN |
A noite dos gatos
Fora realmente risível aquela excursão política. Os arenistas procuravam hotéis em Vila Rondônia. Haviam reservado antecipadamente, mas como chegavam bem depois do horário previsto, o gerente do Hotel Dia e Noite receberia outros hóspedes. Ficaria ali apenas a metade da comitiva. A outra metade seguiu para o Hotel do Amiguinho. Às 23h todos estão acomodados.
De madrugada, acomodados num quarto nos fundos do hotel, os candidatos Amizael Silva, Eduardo Lima e Silva e Esron Menezes não conseguiam dormir. Amizael: “Os gatos resolveram namorar no telhado ali ao lado, e às duas horas ligaram a bomba d’água.”
Ouvindo tudo, o septuagenário José Saleh desabafava: “Se eu não for eleito com todo esse esforço, nunca mais entro na política”. E lá iam os candidatos arenistas ao encontro de pastores e demais evangélicos de Presidente Médici, no Km 400 da rodovia.
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