Sexta-feira, 2 de maio de 2008 - 12h36
Guia de campo dos pesquisadores
também merece o reconhecimento
MONTEZUMA CRUZ
AGÊNCIA AMAZÔNIA
Ele nem sequer tem o nome mencionado em revistas científicas internacionais, mas contribui decisivamente no dia-a-dia do pesquisador. Logo, deve ser reconhecido. Pelo menos por entidades científicas brasileiras, pelo Governo, pelo Congresso. Este último, tão useiro e vezeiro em celebrar feitos menores.
Graça Ferraz, chefe de Coordenação de Planejamento e Acompanhamento do Museu Goeldi e pesquisadora de Ciências Sociais pôs em discussão a aceitação do conhecimento das populações tradicionais pelo meio científico. Um pesquisador vai a campo, faz seu trabalho e publica sua pesquisa. A pessoa que guiou o pesquisador pela área, o guia de campo, tem direito de ser creditado na pesquisa científica como um dos autores?
Em sua tese Cientistas, visitantes e guias nativos na construção das representações de ciência e paisagem na Floresta Nacional de Caxiuanã, defendida em fevereiro no Programa de Pós-Gaduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará e Museu Goeldi, Graça Ferraz sustenta que o ribeirinho, por exemplo, conhece o melhor local para coletar um espécime ou instalar um equipamento. No entanto, deparou com a perplexidade dos pesquisadores, ao serem perguntados se dividiriam a co-autoria de um trabalho científico com os guias de campo.
Donos da verdade, auto-suficientes ao extremo? Gananciosos? Alguns sim, outros não. Sábios profissionais em diferentes áreas da ciência admitiram que se não tivessem a ajuda de um guia de campo suas pesquisas poderiam levar meses ou anos a mais para serem concluídas.
Não me limito ao território amazônico. Há meses ouvi do biólogo Ângelo Agostinho, do Núcleo de Pesquisas em Limnologia Ictiologia e Aqüicultura (Nupelia) da Universidade Estadual de Maringá (PR), que o ribeirinho das barrancas do Rio Paraná muito auxilia nas investigações sobre migração de peixes e, de uns tempos para cá, na mortandade de algumas espécies, possivelmente causada por dejetos químicos.
Conte-se que a ciência brasileira tem exportado conhecimentos. Inpa, Inpe e Embrapa são três dos melhores exemplos de que o País vai bem nesse campo, apesar de os recursos destinados à pesquisa serem exíguos.
Para iniciar tão polêmico mas indispensável e histórico trabalho, Graça Ferraz visitou comunidades no entorno da Estação Científica Ferreira Penna, na Floresta Nacional de Caxiunã. E ouviu também os pesquisadores que utilizam a estrutura da Estação, conforme noticia o Goeldi.
A pesquisadora trabalha nesse entorno desde 1996. Despertou-lhe a atenção a maneira como os conhecimentos dos ribeirinhos são repassados de pai para filho. Pergunta-se: pesquisadores fazem isso, em sã consciência? Ponderemos a respeito do direito autoral, tal qual existe na música, na reportagem, na peça teatral, e na própria tese científica. Como propõe o jornalista filósofo pantaneiro Tão Gomes Pinto: vamos pensar grande?
Há cinco anos ouvi do químico Augusto Silveira, da Universidade Federal de Rondônia, que a falta de recursos levou-os (ele, o colega Julio Facundo, e o Departamento) a recorrer à Universidade Federal do Ceará, para comprovar a eficácia de uma planta da Amazônia Ocidental usada no controle do Mal de Alzheimer. Evidentemente, eles e os cearenses dividirão brevemente esse conhecimento com os caboclos e índios da floresta rondoniense.
O guia de campo, gente não pode se resumir a um trampolim para que os sábios alcancem os seus objetivos na vida. Espera-se que esse passo significativo dado por Graça Ferraz seja um marco no reconhecimento à visibilidade para essas pessoas. Por merecimento e por justiça.
A última
Ironicamente já batizada de Bolsa Motosserra, entrará no ar e no seu lar, o novo pacote de medidas para a Amazônia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cheio das boas intenções, garante que elas ajudarão na conservação da floresta.
Qual a principal e também polêmica medida? A que oferece crédito para produtores rurais dispostos a recuperar áreas desmatadas no passado, zerando o passivo ambiental. Desmatadas, registre-se, por imposição do próprio Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, durante a colonização da Amazônia. Quem viveu a época, sabe do que se trata.
A Embrapa e o Ministério do Desenvolvimento Agrário já estão convocados para dar assistência técnica aos fazendeiros que quiserem modernizar e melhorar a sua produção agrícola. Que se candidatem, pois, os usineiros de álcool interessados em erguer novas plantas no Acre. Ou os criadores de gado bovino despreocupados em que o aumento do rebanho produza metano em demasia.
A criação de crédito diferenciado, a tal Bolsa-Motosserra, atende a reivindicações de ambientalistas. A pergunta é: sufocaríamos a atividade madeireira predatória, tão combatida pela Operação Arco de Fogo nas derradeiras semanas, sem apresentarmos alternativas econômicas que tornem rentável a floresta em pé?
Fechar a porta da ilegalidade por meio de uma fiscalização muito intensa e ajudar quem quer transitar na legalidade é a meta do Ministério do Meio Ambiente. Quem viver, claro, verá.
Fonte: Montezuma Cruz - Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião.
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