Quinta-feira, 29 de setembro de 2016 - 05h07
O coração pulsante de Porto Velho recebeu na manhã de hoje (28) um grupo de 20 abrigados da Casa do Ancião São Vicente de Paulo. Vestindo camisetas alaranjadas, em pé, alguns em cadeiras de rodas, outros sentados, eles conheceram o Mercado Central, reencontrando-se com a cidade de Porto Velho.
A Casa do Ancião São Vicente de Paulo, administrada pela Secretaria Estadual da Assistência e do Desenvolvimento Social (Seas) conduziu-os ao mercado numa ação cidadã para divulgar o Estatuto do Idoso.
João Batista, presumíveis 74 anos aquela pessoa sem registro de nascimento que um dia bateu às portas da Casa, sorria para todos num dos corredores.
Comerciantes observavam o movimento e sobraram conversas com alguns visitantes.
“Olha o tambaqui”, gritou alto uma comerciante, ao lado das cadeiras.
A entidade procura parceria para outro projeto que possibilitará atividades fora da Casa. Segundo a assistente social Tânia Nicolau, o abrigado pode e deve conviver normalmente com sociedade.
“Envelhecer não nos torna invisíveis”, descreve o panfleto distribuído pela voluntária e futura assistente social Socorro Morais, da Assembleia Legislativa.
Socorro lembrou que isso é possível desde a programação de eventos festivos, religiosos ou simples caminhadas.
No início da Semana do Idoso, dia 25, o grupo foi à missa na Catedral Coração de Jesus. No dia a dia, eles têm momentos de oração na capela da Casa.
“Não beba leite de vaca, não sepulte carne de bicho em vocês, evitem o organismo contaminado”, repetia o quiropraxista Vicente Crimiti dirigindo-se a alguns deles.
Na cadeira de rodas João Pedro Bredariol, 68, paulista de Itatiba, resumiu a sua história. “Eu já passei natal e ano novo na estrada, era sozinho e ainda sou”, disse referindo-se à antiga BR-29 (Brasília-Cuiabá-Porto Velho-Rio Branco-Cruzeiro do Sul), mais tarde BR-364.
Ele foi caminhoneiro durante 22 anos, levando cargas de secos e molhados para Rondônia e retornando com madeira destinada a uma empresa de Guarulhos. Nessas andanças, puxou cargas também nos estados do Amazonas, Pará e Amapá.
Um dia, a sina de motorista causou-lhe sofrimento: em 1982 conduzia uma carga no município num Mercedes Benz modelo 1313, de Vitória da Conquista (BA), quando desviou-se de outro caminhão e tombou de um barranco. “Minhas pernas moeram, precisaram amputar.”
Mesmo só, sem qualquer vínculo familiar em Rondônia, ele ingressou na Casa depois de um período num abrigo no Bairro Areal. E não pretende ir embora: “Eu sou sozinho, mas tenho essas pessoas maravilhosas que cuidam de mim, tenho Deus.”
João Pedro, que desembarcara definitivamente em Porto Velho em 1985, tem olhar firme e até demonstra conformação. Dentro de dois meses, no Hospital Santa Marcelina, irão lhe colocar duas próteses e programarão fisioterapia.
“É ASSIM MESMO”
Desde a visita ao Restaurante Popular na Zona Leste, Paládio Alexandre de Assis, 82, nascido em Conselheiro Lafaiete (MG), pouco saiu da Casa. Ao lado da nutricionista Cleide Maria Albuquerque Carlos Pontes, ele apreciou muito o movimento.
Semblante calmo, ele é outro conformado: “Filhos? Tenho um bocado, netos também. Os que estão em Porto Velho às vezes me visitam, desaparecem, e reaparecem, mas eles sabem o meu telefone, e é assim mesmo…”
Duas mulheres na cadeira de rodas e muitas emoções ao redor.
Ela pode até reclamar de algum problema, mas naquele momento esbanjava alegria. A ex-costureira Damaris Sebastiana, 78, é alto astral. Desde jovem, confeccionava aventais, calças, camisas, jalecos e saias.
“É a nossa criança”, disse o seu cuidador, voluntário Roberto Ribelatto, ex-repórter fotográfico do extinto jornal Diário do Povo (Ji-Paraná) e ex-churrasqueiro em São Paulo.
“O (bairro) Nacional inteiro a conhece”, informou a psicóloga Rose Chiqueti.
Damatis disse que foi esposa de Francisco Chaves, ex-presidente da associação de moradores, falecido.
Ao lado dela, a amazonense Maria Paula da Silva, 94, estava quietinha quando a psicóloga lhe fez perguntas. Calmamente respondeu: nasceu e viveu muito tempo em Nova Colônia (AM), na região do Purus, de onde a trouxeram para tratamento de saúde em Porto Velho e da Capital nunca mais retornou.
A exemplo de Maria Paula, a falta de vínculo afetivo e familiar, muito comum entre os abrigados, fortalece a cada dia o projeto que visa restabelecê-lo.
Depois do levantamento de dados sobre parentes, a Casa promoverá fins de semana fora, uma vez por mês, para almoços, lanches e jantares. Alguns já experimentaram ir a churrasco com familiares.
CEGUEIRA NEUROLÓGICA
Percebendo apenas vultos, em consequência de cegueira neurológica causada por diabetes, Manoel Pereira Silva, 72, maranhense nascido em Caxias, deixou por lá cinco filhos e se mudou para Rondônia.
Chegou há mais de três décadas e perdeu o contato com a família. Na Feira do Km 1, em Porto Velho, ele vendeu arroz, café, feijão, milho, e outros grãos e gêneros alimentícios.
Amparado pela técnica de enfermagem Kassandra Oliveira Sampaio, olhava constantemente para o alto, ouvia muitas vozes ao redor e, em alguns momentos, indagado, respondia às perguntas dos repórteres e de pessoas que se aproximavam.
“Ele é muito bem orientado a respeito do passado, mas tem dificuldade em saber o que se passou ontem, e isso nos faz ler e rever conceitos do Alzheimer (doença neuro-degenerativa)”, disse Kassandra.
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Fonte
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Daiane Mendonça
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